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Foto: Alexandre Figueirôa/O Grito!.

Sessão de documentário sobre Julian Assange marcado por muita emoção no Recife

Debate de Ithaka, a Luta de Assange no cinema da Fundação, contou com a presença de John Shipton, pai de Julian Assange. Longa reforça ideia de que a condenação do criador do Wikileaks é um risco para a liberdade imprensa em todo o mundo

Emoção e um sentimento de revolta marcaram a sessão da noite de ontem, no Cinema da Fundação, no Derby, do documentário Ithaka: a Luta de Assange, do cineasta Ben Lawrence, cujo destaque principal foi a presença de John Shipton, pai do jornalista australiano Julian Assange. O construtor, de 78 anos, tem percorrido o mundo para tentar salvar seu filho da injustiça da qual tem sido vítima desde que criou em 2006 o site Wikileaks e passou a divulgar documentos que denunciam crimes de guerra e atos de corrupção cometidos por potências mundiais, sobretudo pelos Estados Unidos.

Em 2010, Assange publicou cerca de 250 mil arquivos com fotos, vídeos e documentos do Pentágono revelando ações criminosas dos militares estadunidenses e práticas de tortura na prisão da base militar de Guantánamo. Desde então, ele passou a ser perseguido pelos Estados Unidos e, em 2012, foi obrigado a pedir asilo na Embaixada do Equador, em Londres, onde passou sete anos. Em 2019, ele foi preso pela polícia britânica e se encontra sob custódia do governo inglês e a ameaça constante de ser extraditado para os Estados Unidos, onde poderá ser julgado e condenado até a 175 anos de prisão.

O filme tem como mote a luta pela libertação de Julian Assange, protagonizada pelo seu pai e a companheira do jornalista, Stella Morris. Lawrence acompanhou os dois durantes os meses que antecederam a audiência realizada em Londres, em janeiro de 2021, para julgar um pedido de extradição feito pelos Estados Unidos. O documentário mostra o cotidiano desses dois personagens percorrendo manifestações em apoio a Assange, fazendo contatos com políticos e organizações que defendem sua libertação.

Eles também são responsáveis em manter o ativista em contato com o mundo exterior e por meio do documentário vamos tomando conhecimento da fragilidade crescente da saúde física e mental de Assange após tantos anos de cativeiro. Inclusive, o pedido de extradição foi negado pela justiça britânica não por simpatia a causa, mas por receio que ele cometesse suicídio.

O documentário assume claramente a posição em defesa do criador do Wikileaks, mostrando o quanto a sua condenação é uma ameaça a liberdade de imprensa. Essa perspectiva foi inclusive ressaltada ontem, no debate no Cinema da Fundação, pela vereadora do Partido dos Trabalhadores Liana Cirne, pois, segundo ela, ao enquadrar a denúncia de crimes de guerra feita por Assange como uma ação de espionagem, como quer os Estados Unidos, a atividade do jornalismo investigativo, cuja missão é informar a sociedade, transforma-se em um ato criminoso.

Julian Assange.
O documentário assume claramente a posição em defesa do criador do Wikileaks. (Foto Divulgação.)

Outro aspecto evidenciado pelo documentário é a perversa estratégia do governo estadunidense e de seus aliados de submeter Assange a um processo de tortura psicológica, como observa um dos entrevistados, o professor de Direito Nils Melzer. Atuando na Organização das Nações Unidas (ONU), Melzer destaca que toda a situação vivida por Assange é uma maneira de tornar pública essa tortura de modo a intimidar qualquer pessoa que no futuro deseje levar adiante denúncias como as feitas por ele.

A escolha do realizador em acompanhar de perto o pai e a companheira de Assange é responsável por tornar Ithaka, a Luta de Assange muito mais do que um filme de denúncia política. Ele é também um filme de resistência ao revelar a força interior que move esses dois personagens que, mesmo se dando conta do que é se confrontar com os que detém o poder político e sua capacidade de enunciar mentiras como verdades, ainda mantém, a duras custas de suas vidas pessoais, a esperança de ver Assange livre. A gratidão pelo apoio a sua causa, externada por John Shipton, aos espectadores da sessão, foi um recado para também prosseguirmos em defesa por um jornalismo que não tenha medo de revelar os fatos como eles são, doa a quem doer.

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