Joao Campos Elisa Volpatto 02 cred Leonardo Maestrelli
João Campos e Elisa Volpatto em cena. Foto: Leonardo Maestrelli. (Divulgação).

Depois de Ser Cinza explora a complexidade das relações contemporâneas, mas pouco se aprofunda nos personagens 

A temática das relações é frequente na produção de Eduardo Wannmacher, que neste longa conta com o roteiro de Leo Garcia

Depois de Ser Cinza explora a complexidade das relações contemporâneas, mas pouco se aprofunda nos personagens 
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Depois de Ser Cinza
Eduardo Wannmacher
BRA, 2023, 1h38. Gênero: Drama. Distribuição: Boulevard Filmes e Vitrine Filmes
Com Elisa Volpatto, Branca Messina, Sílvia Lourenço

Depois de Ser Cinza, novo longa de Eduardo Wannmacher se fragmenta em três partes para apresentar sua narrativa. Isabel (Elisa Volpatto), Suzy (Branca Messina) e Manuela (Silvia Lourenço) são os motores de cada uma, tendo em comum a conexão e relação com Raul (João Campos). Pautado nos recortes dos diferentes momentos e períodos em que cada uma dessas mulheres esteve com o rapaz, o roteiro constrói sua abordagem nos altos e baixos e configurações de relacionamentos que um indivíduo pode viver.

A temática das relações é frequente na produção do diretor, que neste longa conta com o roteiro de Leo Garcia. Um Dia Como Hoje (2007) e Volto Logo (2010), longas antecessores comandados por Wannmacher, trazem, à suas formas, as complexidades possíveis de um casamento. Em Depois de Ser Cinza, o foco paira predominantemente nos laços contemporâneos, muitas vezes efêmeros.

O longa apresenta o personagem central vivendo numa lógica de colcha de retalhos, à medida em que Raul vai moldando sua personalidade ao longo desses envolvimentos com o trio já citado. Podemos perceber as tantas nuances a partir da lógica não linear dos fatos que nos são apresentados. O filme começa com o desfecho de toda uma jornada do personagem de João Campos, convidando ao longo da exibição a observar o que o levou a certo ponto.

Além disso, a narrativa passeia do Brasil, em Porto Alegre, mais especificamente, até a Croácia, onde as primeiras cenas se passam. A premissa de entregar uma história sem tantas explicações prévias aguça a curiosidade de acompanhar os próximos passos e entender qual a silhueta que será formada até retornar ao ponto derradeiro, o que foi nos apresentado desde o início. 

O trunfo da produção está na atuação do trio protagonista. Estas mulheres são quem dão o tom ao personagem Raul e guiam toda sua jornada, no Brasil e na Croácia. Entretanto, este mesmo trunfo desperta algumas quebras de expectativa. 

Ainda que desempenhem um papel extremamente importante no desenrolar da trama, as personagens de Elisa, Branca e Silvia não ganham fôlego suficiente para serem aprofundadas em seus próprios enredos. Tal fator influencia no impacto de uma reviravolta já nos últimos minutos do longa que vem sem a força necessária. 

A exploração limitada de cada uma dessas personagens diminui um tanto a empatia ou qualquer outra relação indireta que seria importante a ser criada com o telespectador. A também boa atuação de João Campos não dispensa o fato de que seu personagem, ainda que cheio de camadas também não é permitido a mergulhos mais profundos, dando a entender que suas ações só justificam uma tremenda imaturidade de um homem que não sabe o que quer, que erra e vive sempre culpado.

O fato de deixar em aberto a quem se direciona o real protagonismo da trama (que mais parece pertencer a Raul do que às  mulheres) não se faria um problema se a proximidade com essas personagens motores fosse maior, ou até mesmo com os contextos que as envolvem como é o abuso de entorpecentes, questões voltadas aos seus passados e à saúde mental.