Quantos quadrinhos cabem em uma única página? É essa a proposta da Série Postal, iniciativa de Ramon Vitral, do blog Vitralizado, que tem lançamento neste sábado na loja Ugra Press, em São Paulo. A estreia do projeto é com Pedro Franz, quadrinhista catarinense autor de Incidente em Tunguska.
A ideia é lançar, uma vez por mês ao longo de um ano, HQs no espaço de um cartão postal. 12 artistas de várias partes do país participarão do projeto. Entre os nomes confirmados dos próximos postais estão Taís Koshino, Felipe Portugal, Pedro Cobiaco, Bianca Pinheiro e Manzanna.
O foco aqui é claramente a divulgação dos novos talentos dos quadrinhos autorais brasileiros. Com a distribuição gratuita dos postais a circulação do trabalho desses artistas pode ganhar uma circulação bem maior que o circuito tradicional da cena de quadrinhos. “A ideia do postal é de realmente fazer com que o projeto rode ao máximo, vá além do nicho habitual de leitores, mas não sei se será possível medir de alguma forma esse alcance”, explicou Ramon em entrevista por e-mail.
A participação de Pedro Franz no postal de estreia mostra um claro interesse em experimentar na linguagem dos quadrinhos. Os artistas são instigados a criar uma HQ com um enredo completo dentro de um espaço delimitado. “No início de 2016 o projeto já estava aprovado quando eu fiz uma entrevista com o Pedro sobre o Incidente em Tunguska na qual ele falou como acha importante ter consciência das limitações com as quais está trabalhando na hora de produzir qualquer obra”, explica Ramon. “Como a Série Postal é uma coleção essencialmente marcada por suas limitações físicas, essa fala casou demais com a essência do projeto e a presença dele virou algo como obrigação para mim”.
A Série Postal tem patrocínio do Rumos Itaú Cultural e terá tiragem de dois mil exemplares. Eles serão distribuídos em espaços culturais, livrarias, lojas especializadas em quadrinhos e bibliotecas públicas. Quem quiser também pode acompanhar a série pelo Tumblr ou Facebook. E vale também a pena seguir o blog Vitralizado (se você já não o fizer).
Fizemos uma entrevista com Ramon Vitral sobre o projeto dos postais.
Inicialmente, como surgiu a ideia dos postais e qual seu principal objetivo com o projeto?
O projeto surge da minha vontade de trabalhar com edição de quadrinhos. Eu tinha uma lista de ideias nas quais queria investir: um formato que fugisse ao padrão usual de uma HQ impressa, uma conceito editorial que fosse de alguma forma desafiador para os quadrinistas envolvidos e um custo baixo de impressão, não só para que eu pudesse bancar do meu próprio bolso como também conseguisse fazer chegar ao maior número possível de pessoas. Daí foi até natural chegar no formato de postal, mas eu pretendia publicar um ou dois por ano. Quando o projeto foi aprovado pelo Rumos do Itaú Cultural ele acabou crescendo. Agora serão 12 edições, uma por mês ao longo de 2017. Não sei se a Série Postal tem um único objetivo maior. De alguma forma ela ecoa um pouco da minha missão hoje no Vitralizado, de expandir o alcance de bons quadrinhos e de artistas que admiro e estimular toda essa diversidade e efervescência criativa da cena brasileira de HQs.
Quando se pensa em postais vêm à mente o fácil acesso, mobilidade. Já o quadrinho autoral, apesar do potencial, não tem o alcance que mereça (salvo exceções). Na tua opinião, qual o impacto de um projeto como esse na cena?
É difícil mensurar o impacto de qualquer publicação no instante, na época, em que ela é lançada, né? A ideia do postal é de realmente fazer com que o projeto rode ao máximo, vá além do nicho habitual de leitores, mas não sei se será possível medir de alguma forma esse alcance. Bons quadrinhos estimulam a produção de quadrinhos ainda melhores e acredito muito na qualidade de cada uma dessas 12 HQs não só como referências para outros trabalhos, mas também como possíveis boas portas de entrada para novos leitores.
A série postal tem um claro convite à experimentação por conta do espaço reduzido, das possibilidades do formato etc. Isso pesou na escolha dos autores?
Com certeza. A partir do momento que ficou claro pra mim qual seria o formato do projeto, comecei a listar nomes de pessoas que eu acreditava que poderiam aproveitar ao máximo essa proposta. A minha pedida para eles foi criar uma uma HQ com início, meio e fim, um enredo completo no espaço de um cartão postal. Como referência eu enviei dois trabalhos que gosto muito, ambos em formatos semelhantes aos de postais, um de autoria do Seth e outro da Rutu Modan. O do Seth foi produzido pra fachada de uma livraria no Canadá e o da Modan pra um desafio proposto pelo New York Times a alguns quadrinistas de criar uma história completa em um único painel. Todos que convidei toparam de primeira e compraram bastante o desafio.
O Pedro Franz, que é um cara incrível, abre a série. Teve algum motivo especial?
No início de 2016 o projeto já estava aprovado quando eu fiz uma entrevista com o Pedro sobre o Incidente em Tunguska na qual ele falou como acha importante ter consciência das limitações com as quais está trabalhando na hora de produzir qualquer obra. Como a Série Postal é uma coleção essencialmente marcada por suas limitações físicas, essa fala casou demais com a essência do projeto e a presença dele virou algo como obrigação para mim. Também tem o fato dele ser um dos meus quadrinistas preferidos e autor de algumas das HQs que mais gosto. Fiquei muito feliz que ele topou e pelo trabalho que ele produziu.
Pra mim era muito importante que o primeiro número da Série Postal fosse de impacto, mas inicialmente o Pedro seria o último. No final das contas os leitores vão ver que os autores da coleção compõem uma geração mais recente da cena brasileira de quadrinhos. Como pretendo dar continuidade ao projeto após dezembro, a ideia era ter o postal do Pedro como uma espécie de transição pra uma segunda fase da coleção. Mas aí ele me enviou um trabalho que abre com o rosto do presidente. Eu não apenas torço, mas também acredito na possibilidade do Temer não chegar ao fim de 2017 no governo, então achei melhor que a HQ do Pedro abrisse a série pra que o postal de dezembro não fosse uma obra datada…
Como será a distribuição da série? Pensa em reunir os postais em um box, encadernado, algo do tipo?
Os locais de distribuição de cada um dos postais serão anunciados na fanpage e no tumblr do projeto às vésperas de seus lançamentos. Algumas lojas e galerias já toparam servir como pontos de distribuição: Comic House (João Pessoa), Itiban (Curitiba), Galeria Hipotética (Porto Alegre) Beleléu (Rio de Janeiro) e aqui em São Paulo Ugra, Banca Tatuí e Gibiteria. Minha ideia é também distribuir em feiras e eventos ao longo do ano. A tiragem é pequena, mas quero que o projeto rode, então caso alguém queira ajudar nessa distribuição é só entrar em contato comigo. E não pensei muito sobre box, coletâneas ou encadernados da série. Se alguma editora tiver interesse é algo que estou disposto a conversar, mas não está na previsão original do projeto.
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