13 Sentimentos
Daniel Ribeiro
BRA, 2024. 1h40. Comédia. Distribuição: Vitrine Filmes
O cineasta Daniel Ribeiro ganhou projeção e foi aclamadíssimo pelo público e pela crítica em 2014 com o filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. A delicada história de um adolescente cego que descobre sua sexualidade com um amigo da escola fez uma bela e merecida carreira, ganhando, inclusive, o Teddy Award do Festival de Berlim. Dez anos depois, Ribeiro volta a cena com o longa-metragem 13 Sentimentos. Pelo êxito do seu longa precedente, a expectativa em torno de seu novo trabalho, que chega aos cinemas nesta semana, é mais do que justificada.
13 Sentimentos conta a história de um jovem cineasta que quer rodar o seu primeiro longa metragem, mas enfrenta contratempos na sua vida profissional e amorosa. Enquanto tenta aproveitar a liberdade depois do fim de um longo relacionamento, ele tem que conseguir trabalho para sobreviver e, por um acaso, acaba descolando grana fazendo vídeos pornôs de casais que querem ter sua vida íntima postada na web.
Com uma intensa campanha de divulgação, o filme de Ribeiro dividiu opiniões após as poucas cenas divulgadas no trailer. Entre os comentários, o mais comum está o fato de se tratar de “filme de gay branca padrão”, como citado por alguns internautas, junto com a acusação de ser uma história sem diversidade étnica e de corpos. Embora muitos usuários online tenham ponderado que um filme não tem obrigação de representar todas as identidades de uma comunidade, o fato gerou ruídos.
Mas afinal, o que se esperar de 13 Sentimentos? Bom, a primeira coisa que o espectador deve ter em mente se decidir vê-lo é que estará diante de uma obra feita para atender o gosto de entretenimento de uma parcela da classe média. E diante disso não se deve esperar nada além do previsível. A trama é bem arrumadinha para passear sem sustos pelas principais questões que permeiam as relações afetivas do universo gay masculino na contemporaneidade como o que fazer quando o namoro acaba e as inefáveis caçadas nos aplicativos de encontros quando se está solteiro.
Até aí tudo bem. O problema é que o filme não traz absolutamente nada de novo ou realmente interessante com relação a essas questões. Já vimos isso em dezenas de filmes e séries em todas as variações possíveis. E, infelizmente, para retratar os personagens e situações, Ribeiro reproduz os clichês de sempre tanto nos diálogos quanto na caracterização das figuras que conduzem a história: estão lá o amigo que pega tudo que passa pela frente, a amiga lésbica descolada, a mãe compreensiva etc. E até as bossas narrativas inseridas no roteiro para dar aquele ar de filme moderninho são manjadas.
Não menos discutíveis são os arranjos colocados na trama que evidenciam o desejo da direção de atender a ideia de uma diversidade étnica. Todavia, pela forma como foram articulados, eles acabam soando artificiais e abre a brecha para os questionamentos que já surgiram sobre o tema. Essa artificialidade é também visível na tentativa de um tratamento para ressaltar o aspecto metalinguístico da trama, mas que acaba não ajudando muito como recurso narrativo, sobretudo pela pouca originalidade e o esquematismo com que é aplicado.
Uma das pernas da história que poderia até tornar 13 Sentimentos uma obra mais instigante é quando o protagonista conhece casais que querem filmar suas relações sexuais e o contratam como cinegrafista. Mas até isso, como aliás todo o restante do filme, é insosso e sem ousadia. O resultado é um enredo monótono, sem surpresas, conduzido por atores bonitos, mas pouco expressivos do ponto de vista dramático. Quando em vez de prestar mais atenção na trama começamos a reparar na roupa estilosa descontraída dos personagens em cada cena ou achar engraçado a ecobag que o jovem cineasta carrega pra lá e pra cá, é sinal de que alguma coisa não está funcionando bem.
Leia mais críticas:
- “As Polacas”: melodrama de João Jardim nasce datado e desperdiça eficiência do elenco
- “Queer”: Quando desejo e drogas alucinógenas se dão os braços
- “Clube das Mulheres de Negócios”: boas ideias esbarram em narrativa acidentada
- “Wicked”: adaptação do musical da Broadway é tímida, mas deve agradar fãs de Ariana Grande
- “Herege”: com boa premissa, novo suspense da A24 se perde em soluções inconvincentes