Wendel Bezerra, dublador de Dragon Ball Z: existe preconceito com dublagem no Brasil

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Dragon Ball é um dos ícones do anime no mundo. (Divulgação).
Foto: Divulgação.
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“Oi, eu sou o Goku!”
Franquia Dragon Ball Z lança 15° filme da saga com o dublador original Wendel Bezerra. “Resistência ao dublado é uma questão cultural”, diz

Por Marta Souza

A incansável busca pelas esferas do dragão ganha o 15° filme nesta semana. Dragon Ball Z – O Renascimento de Freeza chega aos cinemas brasileiros continuando a aventura de Dragon Ball Z: Batalha dos Deuses, lançado em 2014. No longa, que é inspirado no mangá e anime homônimos do autor Akira Toriyama, Sorbet e Tagoma, leis membros do exército de Freeza, chegam à Terra em busca das Esferas do Dragão. O objetivo é reuni-las para trazer seu antigo líder de volta a vida, que morreu após uma batalha contra Goku. O plano é bem-sucedido e, com isso, Freeza retorna com sede de vingança. Agora, Goku e seus amigos terão de se unir para enviar o vilão novamente para o mundo dos mortos.

O longa chama a atenção para a relevância dos dubladores de desenhos e séries no Brasil e a relação que esses profissionais mantém com os fãs. Em uma espécie de cabo de força temos espectadores que esperneiam com a proliferação de cópias dubladas em detrimento do legendado com voz original.

Dragon Ball é um dos ícones do anime no mundo. (Divulgação).
Dragon Ball é um dos ícones do anime no mundo. (Divulgação).

Para Wendel Bezerra, ator e dublador que faz a voz do personagem principal Goku desde 1999 este é um dos filmes mais empolgantes da saga. “Particularmente, ‘O Renascimento de Freeza’ foi um dos melhores que já fiz. Tanto o roteiro quanto as cenas de ação estão mais bem elaboradas e vão surpreender os expectadores. As batalhas que antes eram deixadas para o final, agora estão em todo decorrer do longa. Tenho certeza que os fãs vão vibrar”, adianta. Wendell até ensaiou uma despedida do personagem no ano passado devido a problemas contratuais, mas voltou atrás.

Com 32 anos no mercado, Wendell acompanhou de perto a profissionalização e evolução tecnológica da dublagem no Brasil. “O fator da melhoria da técnica, que se aproxima cada vez mais da entonação, tempo do movimento da boca e mensagem que o ator/atriz está transmitindo, tem reaproximado o expectador dos filmes dublados pela qualidade, além da questão da inclusão”, explica ele também frisando que o preconceito ainda existe pela dublagem. “Não é fácil quebrar o paradigma de que um filme só é bom ou só se vai ter a melhor experiência se for legendado. Em países da Europa, como a Alemanha, por exemplo, o difícil é encontrar uma película na língua original. É uma questão cultural”, relata o ator que se diz lisonjeado em fazer parte da infância de duas gerações que acompanham a animação.

O dublador, que tem 40 anos de idade, também dá a voz em português à personagens animados como Bob Esponja e Jackie Chan, além dos atores Edward Norton, Robert Pattinson, Brendan Fraser, Ryan Phillipp e Leonardo DiCaprio.

Tendência dublada, resistência legendada

Os números comprovam o que atestam especialistas no assunto: a tendência é que, cada vez mais, o consumidor de cinema busque filmes no seu próprio idioma. São 35% de adeptos do som original contra 56% que preferem a versão dublada, segundo pesquisa do instituto Datafolha realizada para o Sindicato dos Distribuidores Cinematográficos do Rio de Janeiro, em 2012, com entrevistados que têm o hábito de ver filmes estrangeiros na TV paga. Entre os dez canais mais vistos, três têm a versão dublada de filmes como padrão: Fox, TNT e Megapix.

Segundo a diretora de programação dos canais Fox, Cláudia Clauhs, em entrevista dada ao site Observatório da Imprensa, a estratégia era ganhar o público da classe C identificando os programas que tinham linguagem mais acessível, usando termos mais fáceis, mas sendo fiel ao original. Porém, acabou conquistando também as classe AB. “Esses assinantes também passaram a optar pela versão dublada porque não querem ficar com a atenção concentrada na tela da TV. Preferem ter os olhos livres para passear ao mesmo tempo pelo tablet”, constata Cláudia. O cinéfilo Jorge Holetz, filho de um dos maiores defensores do cinema no Brasil, Herbert Holetz, acredita que a dublagem ajude a democratizar a arte. “Ela possibilita levar ao cinema seus filhos que ainda não estão alfabetizados e pessoas que não tiveram acesso à alfabetização”, diz.

Porém, há espectadores descontentes com os lançamentos de séries e filmes dublados e começam a formar movimentos de resistência, como é o caso da campanha “Dublado Sem Opção, Não” lançada nas redes sociais. O objetivo é convencer os canais a permitir que o assinante possa escolher sempre entre a versão dublada e a legendada. Nos cinemas, onde não existe a opção de mudar o áudio com o controle remoto, o futuro das legendas é incerto. Se os dublados são preferidos pelo público, é natural que o mercado se adapte à demanda da maioria. Assim como na Europa e nos Estados Unidos, os filmes legendados tendem a se tornar um produto de nicho, exibido longe dos shopping centers. “O cinema é uma arte repleta de sutilezas que precisam ser respeitadas, e a manutenção do áudio original é uma forma de respeito”, afirma Laure-Bacqué, sócia diretora do cinema Reserva Cultural, em São Paulo. Lá, filmes dublados só entram se forem infantis. E vocês, o que acham?