
Banda americana The Decemberists, assina com grande gravadora e faz o melhor disco da carreira
por Paulo Floro
O indie-rock é pródigo em revelar seus ícones. Antes que a grande imprensa os descubra, eles já conseguiram seu público seleto. Foi assim com o Decemberists. Quando lançaram o disco Picaresque, foram alçados ao grupo das pequenas grandes bandas do cenário indie.
Formados em Portland, Oregon, o nome da banda faz referência a Revolta de Dezembro na Russia, e também ao mês de dezembro e todas as suas implicações. É o mês que termina com tudo. É o mês que se cria esperanças e se rememora fatos bons ou ruins. Toda a atmosfera desse mês tem relação com a música feita pela banda. As letras escritas pelo líder e vocalista Colin Meloy fazem referências à eventos históricos ou contam algum tipo de fábula sempre que possível. Fora isso, enfrentam o ridículo ao basear as apresentações sempre em uma espécie de teatro. outras vezes se auto-intitulam saltimbancos circenses. Certa vez num show em Londres, pediram que a platéia sentasse no chão, enquanto a banda se deitava e fingia dormir.
Sempre colocados ao lado de bandas como Death Cab For Cutie, Neutral Milk Hotel, ElectricLane e Earlimart, o grupo se afasta do que convencionou-se chamar de indie-pop, indie-rock e folk progressivo para criar suas próprias paragens. Desde 2001, quando lançaram seu primeiro EP, 5 Songs, se arriscam numa viagem artística que mistura literatura, teatro e música. Colin Meloy não se faz de rogado para ser apontado como o novo bardo do século 21. Contratados pela pequena gravadora Kill Rock Stars, lançaram quatro discos, sendo Picaresque o que tornou a banda mais conhecida. Agora, contratados por uma major, a Capitol, o Decemberists tem finalmente a chance de levar seu trapézio para além do independent.

THE DECEMBERISTS
The Crane Wife
[2006, Capitol]
Atenção que a história começou. Colin já começa dizendo que algo não está bem em “The Crane Wife 3” (She had no heart so hardened/And I will hang my head, hang my head low) mas não há nada de muito diferente do que o Decemberists já fez em matéria de baladas ao violão. O petardo do ano, aula de como se faz uma música gigante sem esgotar a paciência do ouvinte é a seguinte “The Island, Come and See, The Landlord´s Daughter, You’ll Not Feel The Drowning”, uma música de quase 13 minutos, dividida em três partes, todas com melodias diferentes, que a banda prefere chamar de “atos”. “Yankee Bayonet” é um dueto com Laura Viers, cantora do Colorado que tem nas veias Dylan e Joni Mitchel, mas lembra bastante as faixas mais singelas do Delgados. Em seguinte a melancólica “O Valencia” se traduz como o maior hit de indie rock do ano, se fosse virar hit. “When The War Came” cita a Guerra Civil Americana, no melhor estilo Decemberists, colocando história em guitarras e bateria. O outro eixo deste disco é “The Perfect Crime 2”, um interlúdio que conta a história de assassinatos passionais. É também a faixa mais ousada no som do grupo, pois aposta em uma levada funky, que ficaria legal num fim de festa melancólico. As outras músicas são perfeitas, mostrando o que a banda sabe fazer melhor: melodias pop até o osso, como “Summersong”. Então se todas as faixas são destaque nesse disco, não podemos esquecer da bela “Shankill Butchers”, que fala de um serial killer que ronda a cidade. Se o mundo pop fosse justo, Decemberists seria um dos maiores nomes do rock, mas no lugar disso, ele se torna um ícone do indie. É melhor chamar de alto pop (não confunda com alt-pop), com melodias que fazem da banda um dos maiores exemplos de qualidade musical. Depois de um excelente disco, o Decemberists não abriu mão do som que fez e lançou um disco com personalidade marcante. Com The Crane Wife, já podemos começar a construir a discografia dos maiores discos dos anos 2000.
NOTA:: 10