Ramonn Vieitez e seus personagens misteriosos na nova expo “Assim – Enjoy The Silence”

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Personagens misteriosos, em máscaras, escondem e revelam o universo de Ramonn Vieitez, artista pernambucano que inaugura sua terceira expo individual no Recife. O trabalho do autor traz situações oníricas e também expressões de violência e risco.

A exposição acontece na Galeria Massangana, do Museu do Homem do Nordeste, no Recife. Assim (Enjoy the silence) apresenta cerca de 20 telas selecionadas pelo curador Bernardo Mosqueira. A mostra é uma continuação da exposição homônima apresentada em junho do ano passado na Galeria Portas Vila Secas, no Rio de Janeiro.

“Do título até os mínimos detalhes da obra são postos para criar uma afronta no que normalmente temos como primeira interpretação, manter ideias pré-concebidas aqui são a morte para o visitante”, explica Ramonn, em entrevista à Revista O Grito!. “Todas as obras pedem para ser lidas mais de uma vez, são trabalhos ácidos e irônicos que brincam com o imaginário”.

No vernissage, também será lançado um vídeo sobre o artista realizado pelo coletivo de cinema Surto & Deslumbramento, falando um pouco do seu processo de trabalho. A Revista O Grito! apresenta o vídeo “Delicate Creatures”, com exclusividade, abaixo:

É possível encontrar vários links no trabalho do Surto & Deslumbramento com Ramonn. “De maneira imediata, vários diálogos são visíveis: o uso das cores como algo essencial para a experiência das obras, a sensibilidade queer no modo como os corpos são figurados, o diálogo explícito com elementos da cultura pop”, diz André Antônio, um dos integrantes do coletivo. “Acho que tanto os trabalhos de Ramonn quanto os nossos trazem à tona a questão de como nossa geração tenta trabalhar questões sensíveis através de uma estética da superfície”.

O vídeo é uma tiração de onda sobre como seria um programa de televisivo sobre arte. “Quisemos debochar um pouco dessa estética ‘informativa’ através do pastiche de um programa de TV absurdo sobre arte que seria transmitido durante as madrugadas. Quisemos dar aquele tom tosco e irônico dos filmes da Surto como um contraponto às pinturas de Ramonn, que são delicadas e bonitas”, explicou André.

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Mistério

As figuras misteriosas instigaram o curador a selecionar as obras para a exposição e também o título da mostra. “Essa palavra é muito afirmativa, mas suscita complementos. Assim como? Assim por quê? Assim o que? O mistério dessas figuras foi o grande combustível para minhas conversas com Ramonn. Não sabemos se elas são vítimas, mártires, criminosos. Além disso, elas nos dão a sensação de que aqueles personagens estão na iminência de fazer algo grandioso, ou vivem os momentos sequentes a ações também grandiosas”, explica Bernardo Mosqueira.

Um dos principais nomes da nova cena de artes plásticas no Brasil, Ramon encontrou na pintura seu suporte por excelência. Seus trabalhos demonstram que essa técnica secular ainda rende experimentações e proposições interessantes. As suas obras ganharam visibilidade também em feiras como SP Arte e ArtRio. Hoje há peças do artista em prestigiadas coleções como a do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ).

A visitação acontece até 22 de maio de 2016, de terça a sexta, das 8h30 às sábados e domingos, das 14h às 18h. Galeria Massangana fica no Museu do Homem do Nordeste, Avenida 17 de Agosto, 2187, Casa Forte, Recife-PE.

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Quatro perguntas para Ramonn Vieitez

Parte das obras selecionadas trazem imagens que denotam uma violência, um estado de tensão. Quais as motivações e inspirações para essa série?
Grande parte do meu trabalho tem influência de filmes, séries e histórias de terror e suspense, especialmente os que assistia (e assisto) quando era criança, anos 90, como The Craft, Buffy, X-Files, The Texas Chain Saw Massacre, The Blair Witch Project, The Town That Dreaded Sundown entre outros. Essas histórias criaram um interesse estético muito grande em mim sobre terror, e isso acabou resultando em algumas obras em especial as selecionadas para a exposição.

Você conquistou espaço e se destacou pela pintura. Como é trabalhar em um suporte secular em uma proposta tão contemporânea?
Eu fui pego de surpresa ao saber que era no mínimo “incomum” alguém trabalhar com pintura na arte contemporânea do Brasil. Eu comecei sem pretensões, me deparei com um suporte que me agradou de imediato e que pude evoluir com ele, depois fui percebendo que muitas das apresentações comigo começam com “ele é artista”, seguidas por uma diferença no tom de voz que migra para o incrédulo completando com “ele é Pintor”. No começo eu me sentia como um personagem de A Usurpadora que todos sussurravam seu nome com medo chamado “o pintor” , mas depois fui descobrindo que realmente são “poucos” os que trabalham com pintura e são reconhecidos o que acaba sendo peculiar de alguma forma (não sei dizer o motivo, talvez uma questão histórica mesmo). Por um lado, encaro como divertido, mas já me deparei com uma sala de exposição que não estava preparada para receber pinturas que é uma montagem simples, e isso é surreal, mas cabe a nós artistas, especialmente em Recife, mostrar que a pintura tem sua vertente contemporânea.

Há um clima de mistério nessas obras selecionadas para “Assim”. Foi algo intencional jogar essa interpretação ao espectador?
Gosto de criar obras que permitam interpretações diversas, algumas mais outras menos. O trabalho para essa exposição tem isso como sua essência, por isso a exposição apresenta esse clima. Do título até os mínimos detalhes da obra são postos para criar uma afronta no que normalmente temos como primeira interpretação, manter ideias pré-concebidas aqui são a morte para o visitante, todas as obras pedem para ser lidas mais de uma vez, são trabalhos ácidos e irônicos que brincam com o imaginário.

Sua obra traz uma sensibilidade no modo como os corpos são representados, sobretudo no que diz respeito aos jovens. De que forma isso aparece nas telas selecionadas em “Assim”.
Parte do meu trabalho vem de uma pesquisa sobre a geração dos millennials, especialmente por fazer parte dela. Gosto de observar a confusão da juventude, somos uma geração onde recebemos tanta informação tão frequentemente que as vezes somos extremamente confusos na nossa pluralidade, e isso é abordado especialmente nesses trabalhos onde os personagens são uma grande incógnita e nos direciona mais para perguntas do que certezas, são produtos de um imaginário composto por referências de origens diversas, que é uma característica que identifico nessa geração. Os personagens são plurais, apesar de seus rostos encobertos, seu visual tem muito o que falar.

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