Quebrando Regras

quebrando regras

MALHAÇÃO BLOCKBUSTER
Longa que estréia semana que vem no Brasil recauchuta cenas cheias de testosterona do cinema para fazer um filme baseado em estereótipos masculinos
Por André Azenha

QUEBRANDO REGRAS
Jeff Wadlow
[Never Back Down, EUA, 2008]

O diretor Jeff Wadlow tem no currículo “pérolas” como o fraco Cry Wolf – O Jogo da Mentira (2005), em que Jon Bon Jovi – o próprio – interpretava um assassino, num thriller sem personalidade que recauchutou idéias de várias outras produções. Quebrando Regras, seu mais novo longa-metragem, mescla ação e drama juvenil, e escancara de vez toda a falta de talento do diretor, misturando situações de tantos outros filmes, apostando em clichês e personagens tão estereotipados que o expectador é levado a crer que nos Estados Unidos a juventude é descerebrada.

A trama escrita de forma simplória por Chris Hauty mostra a chegada de Jake Tyler (Sean Faris), em Orlando, e feito Daniel Larusso em Karatê Kid, chama a atenção de uma bela garota loira (Amber Heard), que nada mais é do que a namorada do malvado Ryan McCarthy (Cam Gigandet), um cara bom de briga que comanda um circuito alternativo e ilegal de artes marciais, no estilo Leão Branco e Clube da Luta, ainda que não se explique se há apostas nas lutas ou qualquer outra coisa que motive a participação – fora o fato de se tornar popular na escola – dos garotos. É claro que Jake levará uma surra, e passará por um treinamento (de novo Karatê Kid, agora com um “quê” de Rocky Balboa) comandado por Jean Roqua (Djimon Hounsou), cuja experiência foi adquirida com a família Gracie (!!) no Brasil.

Apostando num visual de videoclipe, com trilha sonora calcada em rock contemporâneo de FM, o filme erra não só por escancarar suas referências e situações que copiam deliberadamente outras obras (como a clássica cena em que Rocky Balboa e Apollo Creed corriam no fim do treinamento, aqui feita por Faris e Hounsou), como até seus próprios atores soam como imitações de outros artistas. O casal principal por exemplo: Faris é um sub Tom Cruise, não só parecido fisicamente (principalmente o rosto), como em alguns trejeitos (mas inferior em talento) com o astro. Amber Heard então é uma sub-sub Jessica Alba (e olha que a atriz de Quarteto Fantástico nem é tão boa intérprete assim, porém possui curvas muito mais delineadas e sedutoras). O vilão então é o máximo do estereótipo: o playboy abobado metido a lutador que “pega” todas as meninas do colégio e tem uma fila imensa de puxa sacos. O único a dar um pouco de dignidade ao seu personagem é Djimon Hounsou (do bom Diamante de Sangue, com Leonardo Di Caprio), como o professor que perdeu o irmão assassinado no Brasil e ficou anos sem falar com o pai.

Aliás, o Brasil é citado de diferentes maneiras durante os 110 minutos de projeção. Não só na vida de Jean Roqua, mas principalmente na maneira como aparecem as lutas: o jiu-jitsu é a referência mais clara (e ao menos nisso o longa acerta, pois os combates são coreografados corretamente) e há ainda uma bandeira do nosso país que aparece ao fundo bem visível numa cena. quebrandoasregras

Por mais que tente dar um ar de dramaticidade na vida do protagonista (que perdeu o pai num acidente de carro e vive em conflito com a mãe) e faça uma pequena crítica à geração iTunes, Quebrando Regras é uma miscelânea cinematográfica sem personalidade (não que cinema de referências seja ruim, quiçá Tarantino para contar a história, mas aqui é tudo muito mal feito) que retrata a juventude americana do século XXI de forma generalizada e extremamente caricata: jovens sarados e garotas safadas, todos fãs de lutas e sem um pingo de sensibilidade. Mas é o tipo de filme que deve encontrar um público, inclusive no Brasil: aquele que assiste Malhação, gostou de O Magnata e não liga para histórias bem conduzidas, desde que tenham bastante porrada e meninas semi-nuas na tela.