Predadores e os vampiros nos quadrinhos

rapaces

SEXO E SANGUE
Predadores retoma concepção clássica dos vampiros, mas participação desses personagens nas HQ’s é extensa e antiga

A Devir completou a coleção Predadores, escrita pelos italianos Jean Dufaux e Enrico Marini. A série conta a história de vampiros e sociedade secretas milenares, envolta numa conspiração que inclui ainda dois detetives num jogo de sedução. Numa Nova York gótica, a raça humana está em vias de extinção e a aparição de um misterioso assassino vampiresco causa uma reviravolta na trama. Lançado em 2003 pela Dargaud, na Europa, a série fez um enorme sucesso e só agora, com vampiros saindo pelo ladrão na cultura pop chega ao Brasil.

Predadores retoma uma tradição vampiresca mais clássica e até mesmo conservadora. Sedutores, belos, elegantes, exalando sexo e sofisticação, eles estão presentes nos principais círculos de poder. Desinteressados pela moral ou mesmo sentimentos humanos, veem as populações das cidades como gado, comida. Aqui, não há espaço para romances interespécies, a não ser para motivos puramente sexuais. O mito do vampiro aqui é utilizado como mote para uma saga erótica, coisa que os sanguessugas sempre estiveram ligados seja na literatura ou mesmo no cinema. Até mesmo Crepúsculo, com um enredo celibatário e repressor coloca o sexo como centro das inquietações dos personagens, mesmo que subjetivo.

Fetichistas, os dois irmãos vampiros de Predadores abusam do couro vermelho, saltos altíssimos, visual extravagante, como se estivessem saídos de um clube sadomasoquista. Por mais que os clichês gritem, o texto de Jean Dufaux contextualiza tais personagens como seres desconectados do tempo, antiquados, lutando contra um novo panorama que se avizinha no mundo. Com isso, ele subverte outro lugar-comum, que é o ser imortal que vive na esteira da modernidade, das inovações. O que os irmãos fazem bem é matar e trepar, como exímios predadores do topo da cadeia alimentar, mesmo que esse reinado esteja cada vez mais ameaçado.

Os desenhos, seguindo a escola europeia liderada por Milo Manara pesa a mão nas cenas picantes, nos corpos perfeitos – nenhuma mulher tem pernas gigantes como aquelas – e nas cenas de combate, decapitações, mutilações e esquartejamentos. É uma experiência por vezes chocante, mas na verdade, Enrico Marini, artista e Dufaux utilizaram uma narrativa por demais conservadora, mas que funciona bem. É cinematográfica, como um thriller, mas sem inovações de estilo.

Através do tempos
Mesmo quem não lê quadrinhos, sabe que esse é o meio onde os vampiros mais se sentiam à vontade, depois do cinema. Desde Zé Vampyr, da Turma do Penadinho, que dá expediente nas revistinhas da Turma da Mônica até Vampirella, que, mesmo praticamente inédita por aqui fez muito sucesso entre os marmanjos. Com diversos mitos vampirescos disponíveis, os autores adaptavam à vontade origens e características dos sanguessugas e cada um a seu modo conseguiram algum sucesso. Atualmente, a Panini lançou a HQ mensal de Buffy – A Caça Vampiros, baseada no famoso seriado de TV dos anos 1990.

Parece claro que Buffy voltou às bancas para pegar carona no sucesso de Crepúsculo, mas na década passada, vampiros eram comuns nas HQ’s, mesmo sem nenhum fenômeno midiático. O mais famoso deles, Drácula já chegou a estrelar várias sagas contra os super-heróis Marvel, publicados por aqui em saudosos almanaques da editora Abril. O mais famoso teve roteiro de Marv Wolfman, em 1970. Mais tarde, uma não muito feliz volta colocou o conde para lutar contra o vilão apocalipse, dos X-Men. A Dark Horse, editora de personagens como Hellboy chamou Wolfman e Gene Colan para uma minissérie em 1998, The Curse Of Dracula.

Chamado de “Osama Bin Laden dos vampiros”, a Image Comics (Gen 13, Spawn), relançouu o mito em 2003 com Sword Of Dracula, mas a série não fez muito sucesso. Ele seria utilizado como coadjuvante em outras séries e histórias da editora. Já Batman, encontrou o famoso vampiro em suas histórias alternativas do “Túnel do Tempo”. Criado em 1897 num romance de Bram Stocker, Dracula é ainda hoje ícone entre os vampiros ocidentais e referência para criação de qualquer produto relacionado a sugadores de sangue.

O mais famoso personagem em quadrinhos recentes que representa a classe vampírica é Cassidy, presente na HQ Preacher. Politicamente incorreto, beberrão, ele segue a garota Tulipa e seu namorado padre pelos EUA em busca de vingança contra Deus. Criação de Garth Ennis, a série é hiper-violenta e foi um dos maiores sucessos da Vertigo quando lançada. Depois de diversas editoras, ainda permanece inédita no Brasil, mas a Panini já prometeu concluir.

No Brasil, Mirza é a vampira mais famosa. Criada por Eugênio Colonnese para revistas baratas de terror dos anos 1970, ela é anterior à Vampirella, norte-americana mais conhecida. Ainda não teve o devido reconhecimento no país, tendo apenas algumas histórias publicadas pela editora Sampa, em papel jornal e péssima edição. Suas aventuras se baseavam em um roteiro erótico e muito modorrento, mas hoje é inegável seu valor histórico para as HQ’s nacionais. Já Vampirella também não logrou êxito. Nem sua tentativa de inserção no Universo DC deu muito certo. Sendo vendida como uma das gostosas no boom do gênero popozuda nos anos 90, Mulher-Gato e outras acabaram fazendo mais sucesso.

Outras experiências em diversas editoras já aconteceram em todos esses anos, e não deixarão de acontecer. Como histórias de máfia e western, vampiros começam a nova década como um gênero.

PREDADORES VOLS 3 E 4
Jean Dufaux (texto) e Enrico Marini (arte)
[Devir, 64 págs, R$ 29,90]

NOTA: 7,0
[+] – VEJA O ESPECIAL VAMPIROS COM TEXTO DE LUÍZA LUSVARGUI