Politizando o Carnaval

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POLÍTICOS PINOTANDO O CARNAVAL
A linha que separa um político realmente envolvido na festa daquele que se aproveita do momento para angariar apoio é muito tênue
Por Tarsila Burity, especial para O Grito!

Então é Carnaval. Época em que o Brasil esbanja amarelo, verde, azul e branco. Uma festa que tem raízes na figura de deuses mitológicos, passando pelo Cristianismo e culminando no que hoje conhecemos como a festa mais “brasileira” do mundo. Mulatas vistosas, carros alegóricos, muitas histórias pra contar. Um tempo de folia para uns, e descanso para outros. Enfim, motivo de orgulho para quem mora por aqui. Ou será que não?

Há quem diga que o Carnaval é encenação. Uma espécie de amortecedor de tensões sociais. Sua função seria a de desviar a atenção do povo – distraí-lo de certa forma. Pedintes no sinal? Violência? Analfabetismo? Desemprego? Durante o Carnaval isso não existe. Apenas brincadeira.

O cientista político Michel Zaidan, professor do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco, acredita que nessa época há uma inversão simbólica da ordem social dominante. Resumindo: quem está no poder concede uma licença social para quem não está simular sua revolta de forma bem-humorada, lúdica e imprecisa. “As máscaras, caretas e alegorias são, na verdade, uma forma de se expressar politicamente. Antigamente os bobos da corte é que faziam isso, satirizavam sem medo de ser punidos”, diz o professor. O fato de a festa ser organizada e patrocinada pelos próprios governos (municipais e estaduais) serviria para trazer legitimidade a essas expressões.

Nesse contexto, há a questão da participação dos políticos no Carnaval. Infelizmente, a linha que separa um político realmente envolvido na festa daquele que se aproveita do momento para angariar apoio é muito tênue. “Uma maneira de participar das comemorações carnavalescas sem dar à população essa impressão de interesse seria fazendo parte da Diretoria de Agremiação, por exemplo”, coloca Zaidan.

É importante ter em mente que o político também é cidadão, tem direito de se manifestar da mesma forma que outro indivíduo qualquer. O deputado federal Carlos Eduardo Cadoca (PSC) concorda. “Participo do Carnaval sempre, na condição de folião, inclusive quando eu era Secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Esporte do Estado de Pernambuco”. Vale lembrar que Cadoca deu início ao Recifolia, carnaval fora de época, após se eleger deputado estadual em 1995. Seu objetivo era movimentar o turismo na cidade. Porém, alegou-se que drogas inalantes estavam sendo comercializadas entre os foliões da micareta, entre outras irregularidades. O projeto chegou a durar nove anos, mas hoje é proibido pela Prefeitura do Recife.

A Secretaria de Defesa Social (SDS) anunciou este ano que o esquema de segurança incluiu cerca de vinte quatro mil policiais e detectores de metais espalhados pelas principais pontes do Recife. No total, foram investidos cerca de R$ 6 milhões.

Mais uma novidade: o Recife contou com a presença de um expoente da política atual: a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A petista e possível candidata à sucessão presidencial assistiu ao desfile do Clube de Máscaras Galo da Madrugada no sábado de Zé Pereira. Além disso, já estão sendo confeccionadas máscaras com seu rosto para serem vendidas no Carnaval de 2010. Olga Valles, dona da fábrica de máscaras Condal, em São Gonçalo, no Rio, e o artista plástico espanhol Victor de Quadras, de 24 anos, são alguns dos que apostam na produção.

Em Olinda, a política já marca presença há um bom tempo. O prefeito Renildo Calheiros (PCdoB) participou da tradicional corrida de bonecos gigantes no Sítio Histórico, no sábado (14) pela manhã. O evento reuniu onze gigantes, a maioria representando blocos carnavalescos. Os bonecos têm sido símbolo nas comemorações olindenses durante vários anos. Porém, em 2006, foram utilizados como forma de obter apoio eleitoral. Dos treze bonecos estreantes, doze tinham as feições de políticos do Estado e foram encomendados por eles mesmos. Alguns ainda traziam seus nomes ou cargos nas costas.

Então é Carnaval. Tempo em que vereadores, prefeitos e presidentes são foliões. Mas é também quando alguns políticos saem da toca e se expõem aos seus eleitores. Bonecos-propaganda. Tem quem acredite que nossa política é tão sem decoro que já é por si só um carnaval. Que seja pelo menos um carnaval em que as fantasias são apenas um adorno, e não um disfarce. E que os foliões saibam diferenciar as “máscaras” bem intencionadas das que manipulam a boa fé. Abram alas para a cidadania!