Para Sempre Teu, Caio F.

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O MELHOR E O PIOR DOS ANOS 80
Paula Dip reúne cartas, bilhetes e memórias de sua relação com Caio Fernando Abreu e monta um livro que reinventa o modus operandis das tradicionais biografias
Por Fernando de Albuquerque

PARA SEMPRE TEU, CAIO F.
Paula Dip
[Record, 2009, 490 páginas]

paula dip caioCaio Fernando Abreu – tal como Ana Cristina César, Clarice Lispector e mais alguns escritores contemporâneos – foi devassado à exaustão. E justo quando tudo já havia sido dito sobre ele, eis que surge nas prateleiras mais uma publicação, bastante volumosa, com impressão impecável e acabamento para lá de bom. Foi nesse exato momento que muitos exímios críticos de literatura torceram o nariz para mais um livro que bem poderia trazer mais do mesmo. A não ser pela escritora, Paula Dip (jornalista de carreira e que serve de símbolo às novas gerações), bem que este lançamento poderia passar desapercebido. E ao contrário do que muitos bradaram, Paula Dip trouxe um livro para lá de invoador.

A novidade está não na história que é contada, mas também nos detalhes e meandros pelos quai a autora leva o leitor. Paula Dip escreveu um livro que faz relembrar a marca literária de Caio Fernando Abreu, que se foi em 1996. Ela escreve como quem conversa, confidencia e sussura a convivência com Caio F. desde 1979, quando o conheceu na redação da editora Abril até a morte dele.
E nessa trajetória ela guia o leitor por uma forma inovadora de registro biográfico que contém depoimentos dos grandes e pequenos amigos que passaram e fizeram parte da vida de Caio Fernando Abreu. Ela transporta essas confissões para às páginas e faz com que seu livro ganhe leveza e saia na frente no quesito entretenimento. Sem querer diminuir o preciosismo do texto, Paula fez um documentário distribuido e 490 páginas. Quando ela fala é a voz off que entra em cena. Quando os depoimentos aprecem são as sonoras, enriquecedoras e atestadoras da fidelidade que complementam a narrativa.

“Para Sempre Teu, Caio F.” é fruto da convivência de Paula e Caio nas redações da vida, nos passeios pelo Val Improviso, pelo Pirandello e pelas redações por que passaram. Ela transcreve ainda cartas, bilhetes, telefonemas e depoimentos de muita gente importante que conviveu com ele como Maria Adelaide Amaral, Adriana Calcanhoto, Joyce Pascowitch, Lya Luft, Laura Finochiaro, entre outras.

E entre inúmeras recordações, ela transporta o leitor à cidade natal de Caio, Santiago do Boqueirão, na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, remontando sua história até se tornar o escritor ícone da juventude da década de 1980. Costurando várias passagens de sua vida, Paula retrata um Caio ora tímido ora feroz, tão delicado quanto inquieto, mas sempre genial.

Ela conta de perto o processo criativo do escritor e acompanha com riqueza de detalhes a forma como escritor construiu cada um dos seus livros. E nesse entremeio a história de Paula se mistura à de Caio. E o próprio registro dos anos 80 é a amalgama necessária que costura toda a história.

NOTA: 8,0