Clássicos de Odair José ganham edição digital, incluindo a ópera-rock “O Filho de José e Maria”

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A primeira ópera-rock brasileira. Foto: Reprodução.
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A primeira ópera-rock brasileira. Foto: Reprodução.

Quatro álbuns clássicos de Odair José ganham edição digital. São eles: Odair José (1970), Meu Grande Amor (1972), O Filho de José e Maria (1977) e Coisas Simples (1978), lançados originalmente pela CBS e RCA.

O álbum O Filho de José e Maria marca uma mudança interessante na carreira de Odair. O disco saiu como uma ópera-rock inspirada no livro O Profeta, do escritor líbano-americano Khalil Gibran, e teve show-espetáculo com os atores Mário Gomes e Nuno Leal Maia.

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As letras narram a história do tal filho de José e Maria – supostamente Jesus Cristo, embora esse nome nunca seja citado, que nasceu de um relacionamento extraconjugal. Que viu os pais se divorciarem quando isso ainda era um tema tabu. Que usava drogas sem muita culpa. Que duvidava da existência de Deus. Que se via um bocado confuso com a própria sexualidade. Entre outras crises bem humanas. Foi um dos trabalhos mais contestadores da MPB, isso em plena ditadura militar.

Para dar conta de tanto assunto, O Filho de José e Maria seria um lançado em LP duplo, com 24 canções. Mas, por decisões internas da gravadora, acabou sendo condensado em um único disco. Algumas canções ficaram de fora. Outras nem chegaram a ser compostas.

O álbum tem sonoridade roqueira e trouxe na banda nomes como Hyldon, o pianista Robson Jorge, os violões de Jaime Alem (maestro de Maria Bethânia por décadas) e, amarrando tudo isso, a cozinha do grupo Azymuth (de “Linha do Horizonte”). A direção artística ficou nas mãos de Durval Ferreira, compositor e arranjador ligado à bossa nova.

Essa espetacular ficha técnica ajudou O Filho de José e Maria a se tornar um álbum cultuado a partir dos anos 2000, quando foi redescoberto e passou a valer pequenas fortunas nos sebos de vinil. Mas não foi só isso. Outro fator que colaborou muito na criação do mito em torno do disco foi seu completo fracasso de público. Mesmo com toda a divulgação espontânea que a igreja católica causou (chegando a ameaçar Odair de excomunhão), ninguém entendeu sua proposta na época do lançamento. De um lado, o público que seguia Odair não se interessou por tanta contravenção. Por outro, o público que toparia a contravenção tinha preconceito com um artista popular.

Parte do repertório excluído de O Filho de José e Maria – como as canções “Forma de Sentir” e “Agora Eu Sei” – viria à tona no álbum seguinte, Coisas Simples. Mas também havia material novo, como a polêmica “Agora Sou Livre (O Divórcio)”, sobre a oficialização da emenda constitucional de 28 de junho de 1977, regulamentada pela de dezembro do mesmo ano, que finalmente permitia o divórcio no Brasil. Lançado pela mesma RCA em 1978, trazia o mesmo Azymuth na banda base e Durval Ferreira na direção artística. Entre os músicos convidados, estava o guitarrista Sérgio Dias Baptista, dos Mutantes.

Bastante relevante na história da música popular, Odair José acabou sendo rotulado, injustamente, de artista “cafona” e “brega”. No entanto, mesmo quando fazia discos mais experimentais, seu compromisso era com uma música popular na essência.