O que eu descobri: O Lixo nos Canais, o doc

Foto: Reprodução/YouTube.
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A deliciosa história da publicidade trash no Recife

Por Iara Lima

Lá pelos idos de 1996, José Afonso Jr, à época meu então professor no curso de Comunicação da UFPE, lançou um média-metragem feito em parceria com Kléber Mendonça Filho, hoje mais do que premiado cineasta. A fita – sim àquela época as coisas eram publicadas em formato de fitas VHS – levou o nome de Lixo nos Canais e se trata de um documentário fantástico sobre a propaganda trash no Recife. Alguém teve a maravilhosa ideia de, finalmente, colocar o documentário no Youtube

Eu sou muito suspeita pra falar porque amo publicidade e propaganda e, á sua maneira, são um espelho social do ponto de vista de quem consome ou do que o mercado tem a oferecer. Acho que os publicitários, quando acertam, nos fazem ter contato com verdadeiras obras de arte e o vídeo de Afonso e Kleber nos mostra um outro lado da propaganda em um outro momento do Recife, quando publicidade era uma coisa mais possível e acessível e até mesmo uma pequena farmácia poderia se dar ao luxo de ter um comercial veiculado na TV Globo para dizer que estaria aberta durante o Galo da Madrugada.

Sei também que esse vídeo fará muito mais sentido e trará muito mais nostalgia para aqueles que têm mais de 35 anos e que poderão rever clássicos como lojas Arapuã ou Nezita, numa época em que se via na TV até propaganda de clubes de sexo como o Skandinávia, onde havia shows de Striptease, piscina e quartos. Sim, e isso era veiculado na TV, junto a comerciais nos quais seios e nádegas eram fartos e liberados pra plateia. Some-se a isso um baixo orçamento, atores não-profissionais, mas muita criatividade e, pimba! Lá está a propaganda dita Trash.

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Não à toa Afonso e Kleber escolheram os comerciais do Anemokol para serem o fio condutor do filme, que dura 35 minutos. O produto – e sua estratégia de venda – mostram bem um território no qual não havia regras para propaganda enganosa ou limite de censura para tratar de sexo e nudez. Um xarope foi alçado ao posto de revigorante sexual e Valdick Soriano seria seu garoto propaganda com direitoa filme feito dentro de motel ao lado de uma moça ‘nuinha’. Como resultado, em um determinado ano a bebida vendeu mais do que coca-cola. Pelo menos é o que conta no filme o estrategista das campanhas da Anemokol, Geraldo Lima.

Fato intrigante – Jorge Chacrinha, representante do Anemokol, terminou se tornando um empresário muito bem-sucedido no segmento farmacêutico com a rede de farmácias Casa Caiada e chegou até mesmo a tornar-se vereador. Faleceu aos 51 anos, em 2006, mas foi a testemunha viva de que uma boa publicidade traz, sim, muito retorno.