La Place e a renovação da cena hip hop em Paris

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Espaço quer desenvolver e inovar o hip hop mas sem prejuízo à essência do movimento

Da Revista O Grito!, em Paris

Você consegue imaginar grupos iniciantes de hip hop ensaiando em palcos e salas com equipamentos de som e luz da melhor qualidade e gravando suas músicas e editando vídeos em estúdios com os recursos necessários para um resultado profissional? No Forum des Halles, em Paris, isso agora é uma imagem real. Há seis meses, aficionados do gênero contam com o La Place, um dos primeiros centros culturais públicos em todo o mundo totalmente dedicado ao movimento hip hop e que não o vê simplesmente como um suporte para atividades sócio-culturais em projetos de políticas urbanas, mas uma expressão artística autônoma.

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O La Place está situado no Les Halles, área central da cidade de Paris, sobre a maior estação de metrô da capital francesa, ocupando uma área de 1,4 mil metros quadrados. O Les Halles teve um papel fundamental no desenvolvimento do hip hop e é um dos espaços ícones do movimento do país. Foi nos seus arredores que, a partir dos anos 1980, essa cultura que engloba o rap, o grafitti, os DJs e a dança, transformou a área em um laboratório vivo de experiências musicais. Considerado por muito tempo como uma subcultura, o La Place foi criado pela Prefeitura de Paris para estimular e renovar o hip hop. Ele tem como um de seus principais investidores a estilista Agnès B., cuja ação vai além do mundo da moda. Hoje, ela é uma empreendedora cultural reconhecida internacionalmente.

O investimento inicial no La Place foi de 1,6 milhões de euros, mas o espaço, para sua manutenção, conta hoje com uma sala para shows com capacidade para 450 pessoas em pé, onde são cobrados ingressos; uma sala de múltiplas funções com 100 lugares sentados; 8 espaços de práticas que inclui salas de dança, estúdios de gravação e um ateliê para oficinas de grafitti, que podem ser alugados; uma agência incubadora com capacidade para acolher até 20 empreendedores hip hop com projetos criativos na área; e ainda um café/bar.

O diretor artístico do La Place é Jean-Marc Mougeot ou simplesmente JM Mougeot. Ele foi diretor do L’Original, em Lyon, o mais importante festival de rap independente da França. No início do projeto Mougeot buscou mostrar a relevância do empreendimento para a cultura do hip hop. Segundo ele havia a cisma dos puristas que temiam a institucionalização de uma manifestação mais acostumada a se virar pelas ruas do que receber subvenções. Para ele, porém, um lugar como o La Place “permite aos artistas criarem e renovarem o hip hop e não impede que os rappers continuem na rua preservando a essência do estilo”.

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JM Mougeot, diretor do La Place: “puristas temiam institucionalização do hip hop”. (Foto: Alexandre Figueirôa/Rev.O Grito!).

Mougeot conta que nos concertos que vem promovendo no La Place os cantores e dançarinos, que nos anos 1980 e 90 se apresentavam nos arredores do Les Halles, relembram com emoção dessa fase, mas apoiam o novo espaço cultural. Ele acrescenta que um dos papéis do La Place é ser um mediador entre a primeira geração do hip hop e os mais jovens. “Realizamos também concertos de jazz, soul music, reggae e vamos explicando aos garotos e garotas com idade em torno de 15 anos a influência desses ritmos no hip hop contemporâneo”.

Tornar-se uma referência internacional também está nas pretensões do diretor artístico do La Place. Mougeot informa que intercâmbios vem sendo realizados com os movimentos hip hop de outras cidades da França como Lyon, Marselha e agora já estão promovendo ações conjuntas com Nova York, Londres e na América do Sul com a cidade de Bogotá. Ele acrescenta ainda que a experiência parisiense está sendo levada por ele para a África. “O Centro Hip Hop de Dakar, no Senegal, irá integrar a Maison des Cultures Urbaines, e usa o La Place como modelo”, diz. A julgar pelos inúmeros jovens fãs do hip hop vistos dançando nas áreas de convivência do La Place, a aposta numa revitalização do estilo está dando certo.

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Estrutura do lugar conta com sala de dança: investimento milionário.

* O nosso editor viajou a convite do Consulado da França no Recife