Joana Coccarelli: real time underwater dream

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real time underwater dream
Por Joana Coccarelli

tive um professor do ibeu que era a cara do bonequinho da elma chips. certa vez ele moderava uma aula de conversação onde nós alunos contávamos, em inglês, o que havíamos sonhado na noite passada. a certa altura, elma chip´s face confessou que raramente sonhava e, quando sonhava, era sempre a mesma coisa: passava a madrugada inteira num supermercado, fazendo compras em tempo real. horas olhando gôndolas, lendo informações nutricionais e comparando preços. a noite toda era isso. ele não tinha sonhos malucos, o supermercado nunca se transformava em outra coisa de repente.

gostaria de descobrir o arquétipo envolvido nesse tipo de sonho porque, agora que tenho a idade que elma chips tinha naquela época, passei a ter sonhos semelhantes. é sempre com o mesmo supermercado, os mesmos produtos e o mesmo tempo real, consultando a lista de compras e tentando fazer com que tudo caiba no orçamento. mas neste final de semana foi diferente. neste final de semana sonhei que queria comprar um aquário de peixes.

levei a mesma eternidade que realmente levaria para escolher a porra do aquário. havia dois modelos básicos: aquele antigo, de vidro, com vedação mais ou menos tosca nos ângulos retos; e os mais modernos, inteiriços, com quinas arredondadas – muito mais fáceis de limpar. os antigos eram maiores e mais baratos, mas desconfiei. quando eu era pequena, tivemos um aquário igual que sempre vazava e era um saco para limpar. meu pai enchia uma lata de lixo com água, colocava os peixes (!) e passava a manhã inteira de sábado higienizando (ou consertando) o raio do aquário e do cascalho e etc.

então me inclinei a gastar um pouco mais, mas levar um aquário mais moderno. ao mesmo tempo não poderia ser um aquário apertado; não queria que meus peixes se sentissem engaiolados. demorei tipo uns quarenta minutos para me decidir em meio aos diversos modelos disponíveis. também comprei algas de plástico e tive a idéia de substituir cascalho por pecinhas de lego bem pequenas. arrumei uma bombinha de ar e comprei uma comida para peixes que não sei se existe de verdade, mas era genial: vinha em forma de cristais grudados num palitinho, você o enterrava no cascalho e os peixes iam beliscar na hora que quisessem. incrível, já que no sonho eu planejava viajar em poucos dias. só então escolhi os peixes. a maior parte deles era cor-de-laranja.

daí levei tudo para casa. mas a casa era uma casa mesmo, e na delfim moreira. eu tinha acabado de me mudar e ainda estava experimentando com a disposição dos móveis em cada cômodo. em poucas horas ia acontecer um open house e eu precisava ser rápida. coloquei o aquário em vários lugares, até definir que ficaria no meio da sala. ver os peixinhos se alimentando do cristal subaquático foi um dos pontos altos do sonho.

então a festa aconteceu, a casa foi invadida por ladrões, consegui expulsá-los e o aquário ficou intacto.

lucky, o peixinho de maya, no entanto, não teve tanta sorte. não perca o funeral no vaso sanitário com a presença de papai e mamãe.