GeraBuceta, festa para celebrar as mulheres do rap, resiste à ataques machistas

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808 Crew, atração da GeraBuceta: "rap no geral é muito machista, mas agora as mulheres estão tomando a frente". (Foto: Natalia Honorato/Divulgação).

Minas do rap se reúnem para uma festa no Dia Internacional da Mulher

A festa GeraBuceta vai reunir as principais representantes do rap em Pernambuco no dia Internacional da Mulher, próxima quinta (8). 808Crew, MC Negrita, FemiGang, DJ Brisa, DJ Mayara Cajueiro, além da MC Taz Mureb, do Rio de Janeiro estão na programação. Será na Galeria Arvoredo, na Boa Vista, Centro do Recife, às 21h. O ingresso custa R$ 10.

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O nome “GeraBuceta” é uma referência a um grito feminista nas rodas de poesia, as slams, que acontecem por todo o Brasil. Mas o que era para ser uma celebração da inclusão e diversidade no hip hop acabou se tornando um motivo para ataques machistas por parte de diversas pessoas.

Entre os vários ataques estão xingamentos, ameaças e zombaria por parte de usuários na rede, em sua maioria homens. Criado pela Aqualtune Produções, a festa GeraBuceta se posicionou publicamente no Facebook (veja nota abaixo). Outras entidades e artistas da cena também prestaram apoio, entre elas a Frente Nacional da Mulher no Hip Hop, o Deixa Ela Em Paz, o trio Arrete, a MC Camila Rocha, entre outros.

“Nós mulheres, sobretudo mulheres pretas vivemos diariamente um cotidiano onde o machismo e racismo sempre andaram lado a lado com a gente, e para as mulheres que estão fazendo parte do movimento Hip Hop não é diferente, o espaço também é excessivamente machista”, diz Lilian Araújo, MC da 808Crew. “Estamos “acostumadas” a assistir apenas os shows dos homens e escutar o que eles tem a dizer pro mundo e em sua grande maioria sempre percebemos muitas ofensas em suas músicas ou falas por sermos o que somos, mulheres”.

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Para ela a criação de um evento como esse é essencial para dar mais visibilidade ao protagonismo de mulheres no rap. “Percebemos cada vez mais que o número de mulheres artistas envolvidas com o rap só cresce, mas o problema de não conhecermos os trabalhos uma das outras é justamente por não termos oportunidades iguais. Então diante disso, organizar um evento sendo protagonizado apenas por mulheres, periféricas e pretas é fundamental para desconstruirmos o machismo e para termos voz no que acreditamos e combatemos diariamente”, diz.

Para Lilian ainda há muito a ralar para conquistar mais espaço. “Rap no geral é muito machista, o que eu percebo é que principalmente agora que as mulheres estão tomando a frente, mostrando seus trabalhos, sendo mais valorizadas pelo público mais feminino, muitos homens tem se incomodado, principalmente com as letras.”

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Femigang é uma das atrações. (Divulgação).

A produtora da Aqualtune, Lenne Ferreira, disse que os ataques machistas serviram como alerta para urgência da necessidade de outras iniciativas como essa. “Acreditamos que o debate todo nos serviu de exemplo para que intensifiquemos mais as pautas feministas dentro do movimento Hip Hop, principalmente junto às mulheres. Quem xingou e esperneou vai ter de começar a rever seu posicionamento que, aliás, nem combina como a cultura Hip Hop”, disse. “Como consumidores da cultura Hip Hop, notamos que a programação em geral dos eventos locais está muito focada na produção masculina, que nós também consumimos, mas existem várias minas que tão no corre, discutindo pautas importantes e que acabam não conseguindo mostrar seus trabalhos.”

A produtora está tomando medidas judiciais e recebendo apoios de vários movimentos. “Estamos recebendo apoio jurídico da Frente Nacional Mulheres no Hip Hop. Buceta, xota ou xana, não importa qual nome quisermos chamar, é nossa. Não aceitamos mais que homens decidam sobre as nossas vidas nem nossa narrativa.”

Veja abaixo a nota da produção da festa. Ouça também faixas de algumas das atrações.

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A MC Mayara Cajueiro. (Divulgação).