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Dev Patel em Fúria Primitiva. (Foto: Diamond Films/Divulgação.)

“Fúria Primitiva” marca a estreia de Dev Patel com estilo e personalidade

Além da ação, o longa desvenda uma jornada de coragem e reflexão

“Fúria Primitiva” marca a estreia de Dev Patel com estilo e personalidade
4.5

Fúria Primitiva
Dev Patel

Monkey Man. EUA/Índia, 2h. Gênero: Ação. Distribuição: Diamond Films.


Durante a gravação de uma das primeiras cenas de ação de Fúria Primitiva, Dev Patel (conhecido por Quem Quer Ser um Milionário?), protagonista e diretor do filme, quebrou a sua mão. “Eram 450 pessoas em uma ilha, e se eu falhasse, o filme inteiro acabaria”, contou o ator britânico durante entrevista para o programa The Tonight Show. “Eu disse ao meu produtor: ‘Não conte nada. Vamos continuar filmando’. No final do dia, minha mão ficou parecendo uma pata de elefante. Não dava para colocar uma tala e removê-la com efeitos especiais, não tínhamos dinheiro para isso”.

Este foi apenas um dos relatos da junção de trabalho árduo e paixão para que o projeto fosse finalizado. Fúria Primitiva marca a estreia de direção de Dev Patel, que tanto se esforçou para que o filme saísse do papel. 

A narrativa nos envolve em uma metrópole corrupta e implacável, um jovem lutador conhecido apenas como Kid vive uma existência brutal no submundo dos clubes de luta. Escondido sob uma máscara de gorila, Kid se submete a espancamentos noturnos em troca de dinheiro, acumulando uma raiva crescente a cada golpe. Sua vida toma um rumo inesperado quando ele descobre uma maneira de se infiltrar na elite sombria da cidade, composta pelos homens responsáveis por sua tragédia pessoal. Inspirado na lenda hindu de Hanuman, símbolo de força e coragem, Kid decide transformar sua dor em uma campanha implacável de vingança.

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Dev Patel durante as gravações. (Foto: Diamond Films/Divulgação.)

Além da ação

Hanuman, nascido da união entre o deus do vento Vayu e a ninfa Anjana, é reverenciado como a encarnação da devoção, força e sabedoria. A lenda narra sua infância, marcada por uma tentativa impulsiva de comer o sol, confundindo-o com uma manga. Esse ato provocou a intervenção de Indra, que o feriu na mandíbula. Seu pai, Vayu, enfurecido, ameaçou privar o universo de ar.

A intervenção de Brahma trouxe paz, concedendo a Hanuman imunidade a ferimentos, conhecimento de ervas e bênçãos divinas. Assim, Hanuman cresceu, tornando-se o fiel aliado de Rama na luta contra o demônio Ravana, destacando-se por sua inteligência, coragem e devoção inabalável.

É com esta lenda sendo contada pela mãe de Kid, ainda na sua infância, que o filme inicia. Logo, somos apresentados ao personagem em sua vida adulta, movido por conflitos ainda desconhecidos. 

Durante os meses que antecederam a estreia oficial de Fúria Primitiva, as expectativas eram de um lançamento composto em sua maioria por cenas intensas de ação e luta, uma espécie de John Wick recontado. Aliás, o longa entra sim momentos de tirar o fôlego, faz isso muito bem. No entanto, não se priva em permanecer apenas neste tom furioso.

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Foto: Diamond Films/Divulgação.

Dev Patel explora além da vingança, sem prender o objetivo principal apenas ao seu personagem. São atos de coragem que nascem de uma junção de conflitos retratados ao longo do filme. É feito com maestria. 

Mas, sim, Fúria Primitiva conta com cenas de ação poderosas e muito bem filmadas. Há algo na maneira em que a câmera acompanha os movimentos dos personagens que transmite aquela típica tensão de um conflito. Tudo isso mesclado com uma trilha sonora envolvente e um pouco de humor, só para descontrair. 

Vingança por quem e para quem?

Nos primeiros momentos, a sensação é de que os objetivos de Kid são voltados apenas para os acontecimentos que marcaram a morte de sua mãe. É justo, mas não seria o suficiente apostar apenas na perspectiva de um só personagem. Com isso, o filme introduz tantas outras temáticas e camadas que, juntas, adicionam um tom crítico à obra. 

Não é surpresa que isto possa desagradar aquela grande parte do público que espera apenas uma nova versão de John Wick. Fúria Primitiva acelera e desacelera – usa de um ritmo pouco consistente para aprofundar debates e, então, voltar para as lutas frenéticas. A intenção de Dev Patel é clara e inteligente. Entretanto, uma melhor execução deste caminhar entre os dois polos da obra traria um resultado mais satisfatório.

Apesar dessas oscilações, esta opção pela vingança além do personagem central traz uma profundidade muito positiva ao filme. O que realmente diferencia Fúria Primitiva é o seu compromisso em explorar questões sociais e políticas. 

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Foto: Diamond Films/Divulgação.

Resultado de esforço e paixão

Em sua estreia como diretor e protagonista, Dev Patel não apenas entrega uma narrativa repleta de ação visceral, mas também mergulha nas profundezas emocionais e temáticas complexas de Fúria Primitiva. Sua abordagem vai além das expectativas tradicionais do gênero, oferecendo uma experiência cinematográfica que desafia o espectador a refletir sobre questões sociais e políticas enquanto se entrega à adrenalina das cenas de luta. O filme é um testemunho do compromisso e paixão da equipe envolvida.

A obra vai além da simples busca por vingança para explorar as motivações mais profundas dos personagens. Em vez de se contentar com o óbvio, o longa desafia as convenções do gênero, convidando o espectador a questionar suas próprias noções de justiça e moralidade.

Fúria Primitiva pode não agradar todos os estilos e tropeçar no ritmo da narrativa, mas entrega bons resultados e, definitivamente, vale a experiência. 

Fúria Primitiva estreia nos cinemas brasileiros em 23 de maio.