Filme: Os Oito Odiados, de Quentin Tarantino

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Quentin Tarantino vem se empenhando na sua missão de expor o racismo ao ridículo. Depois de Django Livre, o diretor retorna ainda mais político neste novo faroeste Os Oito Odiados. Passado no meio de uma paisagem desolada do Wyoming após a Guerra Civil, o longa revela como o ódio racial esteve presente desde a formação dos EUA enquanto nação.

Em um longa onde ninguém é santo e onde até o arremedo de herói é cheio de falhas de caráter, o filme é uma bofetada em qualquer pessoa que ainda aposte numa cartilha conciliatória da história. A falta de heróis é bem sintomático para este olhar sobre a gênese da violência na América. E mesmo se passando no século 19 e com as cores pop exageradas de Tarantino, é um dos filmes atuais que mais dialogam com a guerra policial contra a comunidade negra nos EUA.

Os personagens de Os Oito Odiados são guiados pelo ódio e desprezo seja pelos negros, seja pelas mulheres, pelos latinos. Todos se encontram presos em uma hospedaria por conta de uma nevasca. Eles precisarão conviver neste espaço confinado até que o tempo melhore. A trama é centrada no major Warren (Samuel L. Jackson, incrível mais uma vez), o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) e numa das maiores criminosas do país, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que foi feita prisioneira.

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O filme não traz surpresa e entrega tudo o que esperamos de um Tarantino básico: os diálogos longos, a trama contada em capítulos, sangue aos litros (ainda que mais comedido que seus trabalhos anteriores), a cena do impasse e diversos outros elementos já bastante experimentados. Há uma repetição aqui e uma confiança grande nos trejeitos e estética. É nada mais do que a prova de um diretor com uma assinatura inconfundível, um dos poucos em sua geração. Mas ainda assim é um dos menos inspirados Tarantinos de Tarantino.

O melhor do filme: o roteiro complexo e cheio de idas e vindas e a trilha original de Ennio Morricone em seu primeiro western em 40 anos.

Neste seu segundo western, Tarantino acabou fazendo um trabalho mais político, cerebral – talvez até involuntário. Mas, nem de longe é panfletário. Nem mesmo entrega uma reflexão formulada ou uma opinião própria. O que ele apresenta aqui acaba sendo um convite a uma discussão muito mais complexa sobre a sociedade americana. Os Oito Odiados é, assim, o menos catártico dos filmes mais recentes de Tarantino, ainda que seja igualmente divertido.

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