A VIDA É UM LOOP
Um apurado de como os GIFs estão sendo utilizados como arte
Bem além das estripulias de gatos e outras tiradas do cotidiano, os GIFs são uma mídia com possibilidades criativas quanto qualquer outra. E já tem gente criando arte com eles. 2013 parece ser um ano prolífico para os GIFs artísticos, com destaques para nomes como Peter Marquez, Jesse Darling e Erdal Inci. Todos eles encontraram uma forma de criar novas propostas para o mais básico destas fotos animadas: a repetição.
Marquez disse à revista Wired que a mecânica da repetição dos GIFs fala diretamente à nossa memória e ao modo como nos lembramos das coisas. Talvez por isso tenhamos um fascínio tão grande por essas imagens estáticas e ao mesmo tempo animadas. O artista criou o coletivo Gifffriends que explora as possibilidades dos GIFs. É possível ver um pouco do trabalho deles aqui.
Pensemos: quando olhamos uma foto estática de algo que presenciamos, a imaginamos como um GIF: em movimento.
Invasão dos clones turcos
Erdal Inci vem chamando atenção no mercado de arte ao clonar a si mesmo nas imagens. Nascido na Turquia, o artista criou obras bizarras em que aparece repetido em loop. No seu Tumblr, ele chamou sua produção de “cloned robot army” (exército dos clones robôs). Incrível também são suas fotos feitas durante a noite em que ele utiliza um feixe de luz para iluminar as ruas e criar movimento. É como se a cidade em si estivesse em movimento.
Amamos tanto essas imagens por que elas imitam o modo como nossa memória funciona
É hipnótico o modo como ele consegue criar seus loops a partir de situações corriqueiras, como subir uma escada. Tanta inovação não ficou restrito ao Tumblr e blogosfera. A Action Gallery, em Nápoles e Milão, na Itália, levaram obras de Inci. Só resta saber como os GIFs irão se inserir dentro do mercado, já que eles são parte inerentes da cultura digital e existem apenas dentro da lógica do compartilhamento. A priori não tem como alguém se apropriar exclusivamente.
Tudo muda, nada muda
A inglesa Jesse Darling desde sempre utilizou tecnologia em suas obras. Trabalhando com performance, ele agora se aventuras nos GIFs. Em entrevista para a revista Dazed, ela comenta o fato dos GIFs como uma reflexão para a arte: tudo está em constante movimento, mas na realidade nada muda. “É por isso que gosto do GIF: é uma mídia zumbi, o maior medo do capitalismo neoliberal”, disse. “Gifs são os nativos digitais originais.”
Jesse foi curadora de uma série de GIFs-performance para a Rhizome, uma plataforma de arte digital, que tem uma coleção de mais de 2.500 trabalhos desde sua abertura em 1999. Entre os nomes escolhidos por Jesse estão Maja Cule, Legacy Russell e Jaakko Pallasvuo.
Como se faz um GIF
A dupla de artista conhecida como Mr. Gif (Jimmy McCain e Mark Portillo) são nomes importantes nessa nova cena de artistas que trabalham nesta nova mídia. Nos últimos dois anos a têm sido requisitados pela imprensa e por marcas para dar uma roupagem mais moderna (e menos estática) em seus trabalhos.
Eles fizeram um vídeo para o projeto Creators Project mostrando como são feitos os GIFs.
Criado em 1987, o formato nem é tão antigo assim, como muitos podem imaginar. Steve Wilhite inventou o formato para a empresa CompuServe como forma de possibilitar o download de imagens em menor tempo naqueles anos de internet lentíssima. Por ser compacto, diversas imagens poderiam ser agrupadas para formar uma animação.
A CompuServe criou uma versão melhorada do formato em 1989, que basicamente é usado até hoje. O GIF foi o tipo de arquivo mais usado nos primeiros anos de internet (o JPEG viria anos depois, em 1992). Um curta muito interessante mostra a evolução do formato e a importância para os dias de hoje, Moving The Still. Veja
MAIS GIFS
O Tumblr é um depositário rico de experimentações em GIFs, a maioria sem autoria definida. Veja uma seleção:
