Entrevista Raphael Fernandes: Um passo além nas HQs independentes

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Foto: Editora Draco via Facebook / Divulgação
Foto: Editora Draco via Facebook / Divulgação

Roteirista e editor, Raphael Fernandes lança a coletânea Imaginários em Quadrinhos, apostando em novos nomes

Editor e roteirista de HQs, Raphael Fernandes é uma espécie de workaholic do quadrinho nacional. Editor da edição nacional da revista MAD, ele lançou recentemente Imaginários em Quadrinhos, uma coletânea que inova ao trazer novos autores em uma publicação voltada para livrarias e comic-shops. São histórias de terror, ficção-científica e fantasia que trazem ideias criativas sobre temas já conhecidos do público.

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O livro já tem dois novos volumes confirmados pela editora Draco e pode vir a ser um dos mais importantes espaços para a HQ feita hoje no Brasil. Em entrevista à Revista O Grito!, por email, Raphael falou sobre o processo de edição, como consegue se dividir entre tantas atividades e como se deu a escolha dos autores para a primeira edição. “Rio e São Paulo não representam nem metade da produção nacional de qualidade”. Veja abaixo.

Qual o principal diferencial que você pensou para o Imaginários quando concebeu a coletânea?
Quem concebeu a coletânea foi o Erick Santos, o publisher da Editora Draco. A coletânea foi uma evolução natural da coletânea de contos Imaginários, que é o grande sucesso da editora e ganhou uma versão em quadrinhos com histórias originais. Inicialmente, o Erick estava operando como fazia com os contos: roteirista e desenhista deveriam enviar roteiro e três páginas desenhadas para o projeto. Quando assumi o projeto, mudei para: estamos abertos para roteiros e portfólios, pois gosto de juntar bons roteiros com desenhos que combinem com eles. Dessa forma, consigo criar novas equipes criativas e ter resultados únicos na nossa publicação. O trabalho de um editor de quadrinhos é um pouco diferente do editor literário, quis deixar essa diferença mais evidente com meu trabalho.

O projeto da Imaginários é algo pouco visto entre os lançamentos de editoras nacionais, mas bastante comum no mercado independente. Você percebe essa lacuna de obras com diversos autores nas livrarias e comic-shops?
Sim, foi justamente essa lacuna que me fez procurar a Draco. Queria dar um passo além da publicação independente e das participações com histórias de 10 páginas em coletâneas. Ter a oportunidade de contar uma história com 20 páginas, com alcance nacional, é de dar água na boca de qualquer autor de quadrinhos. Faz tempo que queria encontrar alguma editora que me adotasse, mas a Draco fez mais do que isso.

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Como foi o processo de escolha dos autores? O mais interessante que vejo é o fato de contar com nomes de vários Estados do Brasil, fugindo do eixo RJ-SP. Como se deu a seleção?
Trabalho como editor de quadrinhos há sete anos e, destes, cinco foram a frente da única publicação de humor com quadrinhos nacionais do Brasil: a MAD. Nesse meio tempo, viajei para diversos eventos e feiras, conheci gente pela internet, comprei revistas de todo canto. Os contatos vão se acumulando e começa a ficar claro que o RJ-SP não representa nem metade da produção nacional de qualidade. A seleção dos autores para o primeiro volume foi baseada em quem já havia trabalhado comigo e sido impecável, pois os prazos eram curtos e precisava ser um tiro certo. Nos outros dois volumes, estou trabalhando com equipes bem mais experimentais e combinações de autores que nunca haviam trocado uma palavra entre si. Procuro os melhores desenhistas para os melhores roteiros, além de tentar abranger um espectro maior de possibilidades e opções narrativas. Um dos meus grandes prazeres foi pegar bons roteiros de caras totalmente novatos e juntar com grandes desenhistas do quadrinho nacional. Foi como jogar um coquetel molotov em um posto de gasolina.

Você já trabalhou na edição de vários projetos de HQs nacionais (como autor, como editor da MAD). Qual o maior desafio hoje em se fazer quadrinhos no Brasil?
O maior desafio para mim sempre foi pagar as contas fazendo o que ama. Muitas vezes, tenho que assumir dois ou (como agora) três empregos para juntar uma renda razoável. Uma coisa que sempre me chateou bastante é que nunca pude pagar o valor que os meus colaboradores realmente merecem. Por mim, todo mundo que tem qualidade para produzir bons quadrinhos deveria receber um ótimo salário e ser lido por milhares de pessoas. Falta também um incentivo do governo para tornar o nosso mercado uma realidade mais tangível. Por enquanto, a maioria de nós trabalha movido por toneladas de amor pela linguagem, trabalhos paralelos rentáveis e MUITO café em noites mal dormidas.

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Como é trabalhar na MAD? Ela é um dos espaços mais legais para se encontrar autores brasileiros hoje.
Muito obrigado. Estou sempre de olho em quem pode ser o próximo grande nome na revista. Trabalhar na MAD é como tocar em uma banda de garage rock realmente boa, selvagem e divertida. Você nunca vai ficar rico com aquilo, mas quem realmente interessa vai curtir seu som e nunca mais esquecer daqueles pequenos clássicos que você gravou com uma guitarra cheia de fuzz. Vejo a MAD como uma espécie de obra iniciática pro mundo dos quadrinhos e também um espaço para tentar gerar certo senso crítico na molecada. Ninguém deve se levar tão a sério e nem se achar dono da verdade absoluta. Ao tirar sarro de todo mundo, inclusive de nós mesmos, conseguimos mostrar que nada é canônico e o limite não é o céu… mas o infinito. (risos) Na verdade, a gente só fala bosta!

O que podemos esperar dos próximos volumes? Algum nome já confirmado?
Estou trabalhando nos próximos dois volumes ao mesmo tempo e alguns nomes estão mais que confirmados: Azeitona, Santolouco, Rod Reis, João Pinheiro, Denis Mello, Felipe Cazelli, Flávio Luiz, Laudo, João Pirolla e muitos outros. A qualidade das HQs está impressionante e também estamos preparando alguns álbuns com histórias longas fechadas.

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