Entrevista Nego Moçambique

nego mocambique

nego mocambique

Um dos principais nomes da música eletrônica no início desta década, Nego Moçambique prepara disco novo e se apresenta na Tenda Eletrônica do Carnaval do Recife, no domingo. Ele conversou com a Revista O Grito! sobre música e o que espera encontrar por aqui.

Dez anos de carreira e o que mudou na acepção que as pessoas tem do funk, um gênero que você trabalha bastante?
Bom, qual funk? O carioca? Se for o funk tradicional, ele está em tudo, nao eh? Na house, no hip hop… bom, perda de tempo falar sobre isso.
Se for o funk carioca (ou o “baile funk” como os gringos costumam chamar o genero) a coisa mudou bastante. Veja, hoje a cidade de Santos, eh considerada (pelos funkeiros do Rio) a segunda capital do funk no pais. Eu moro aqui no centro de Sao Paulo… antigamente a molecada ouvia Rap paulistano, voce podia escutar isso o tempo todo. Hoje em dia, voce ve a meninada de celular pendurado no pescoco, ouvindo o que? A “macumbinha” do funk, esse “beat box” que virou sample base para todas as músicas. A batida mudou bastante, saiu daquele electrofunk e virou isso, essa síncope antropofágica. Aqui em Sao Paulo, surgiu uma radio FM, totalmente dedicada ao ritmo. Ja ouvi algumas vezes e tem ares de radio comunitaria.

Os vocais mudaram muito, estao mais africanos, mais proximos de cantadores ou daqueles vocais tradicionais de capoeira (o “tamborzao” mesmo, ja era bem proximo do maculele). Infelizmente, nao tenho achado mais os MCs tao criativos como antigamente: -eles faziam letras mais interessantes, mesmo que o assunto fosse a mais pura sacanagem. Eles reviviam uma certa tradição do forró, de fazer letras de duplo sentido. Isso acabou um pouco, esse humor. Tem uma corrente inclusive, que acha que as letras nao devem ser mais só palavrões ou sobre sexo.

Outra coisa que mudou é que o funk é super reconhecido agora no exterior (bem como gêneros como kuduro, reaggatune, dancehall, cumbia) e pode incorporar recursos novos de producao, timbres e se misturar com outros generos inclusive. Muitos produtores estão atrás dessa roupagem moderna. Mas, na verdade, a cultura funk continua se desenvolvendo e crescendo separada da mídia, absorvendo ao mesmo tempo, tudo o que a cultura televisiva-midiática oferece. Apesar de uma breve aceitação, ainda nao é vista sequer como música ou gênero popular.

Seu nome foi ligado à explosão que a música eletrônica viveu no início dos anos 2000. Acha que um novo bom momento pode voltar para o estilo?
Engracado, quando eu leio jornal, parece que a coisa está sempre num “bom momento”. Sao muitos aritstas novos todos os dias. Têndencias. O que nos tínhamos a 10 anos, digamos, era mais publicidade. Djs viraram mitos, etc. A “coisa” está se transformando sempre. Parece um pouco a resposta sobre o funk, mas as influências nessa “nova música” estão ficando mais escancaradas. Dub, Afrobeats, Dancehall, Kuduro, Hip Hop, Techno, Electro… eu so consigo ver tudo se misturando cada vez mais. Talvez seja só minha impressão.

Acho que o elemento humano tambem esta vindo com tudo. Temos grandes, ótimos produtores, que manjam de software, mixagem, finalizacao. Mas vai contar também, principalmente ao vivo, a atuacao desses “músicos”. Tenho visto muitos e muitos projetos hibridos (sempre existiram, afinal) com base eletrônica e musicos de verdade, por exemplo. O DJ Dolores ja faz isso nem sei desde quando. Mas observando bem, virou uma tendencia mundial pelo simples fato de ser mais divertido. Acredito também que, mesmo no underground do underground, as pessoas querem boas canções, não só boas faixas ou tracks para dancar. Tem algo sobre emoção que as vezes não aparece só girando alguns knobs. Resumindo: o momento da musica eletrônica sempre é bom. Eh um meio que esta sempre esfervecente.

Tem acompanhado a cena eletrônica brasileira?
Eu nem saio de casa, imagine acompanhar a cena. Aqui em Sao Paulo se fala muito em N.A.S.A., DATABASE, THE TWELVES. Tem o cara do comunidade Nin Jitsu… agora esqueci o nome dele ah… DJ Chernobyl … fodasso, muito bom. Hmmm, tem o Renato Cohen que lancou disco agora a pouco. Mas sabe como é, tem muita coisa ai que ninguém nem tá sabendo, ouço muita música de produtores desconhecidos ou de amigos meus, quando apareco pra uma visita. Ou seja, eu sou um desinformado.

Está preparando novidades para logo? Uma rápida atualização de quem não ouvia seu nome há algum tempo.
To gravando um álbum. E eu andei sumido mesmo. Prefiro nao falar muito sobre as novas músicas…

O que anda ouvindo de novidades musicais tanto aqui quanto fora do Brasil?
Tego Calderon, que nao é nenhuma novidade, bem como o Major Lazer, que ja deixou de ser novidade.
Mas eh basicamente essa listinha que eu repito em todas as respostas: Dub, Kuduro, dancehall, afrobeats, cumbia, reaggatune, funk… você quer nomes? Nao sou bom de nomes… mas vai ver que nao tem muitas novidades!

1- Tego Calderon “NI FU NI FA”
2- Costuleta “Xuxa”
3- Rey Helder “Na Hora da Tarrachinha”
4- Vagabanda ” Ai Suga”
5- Major Lazer feat. Prince Zimboo “Baby”
6- Cheasleauen “Buggin Me”
7- Apollo Zero “Robot Music Forever” (hahahaha, acho o titulo e a cancao verdadeiras declaracoes de amor a e-music)
8- Pourriture – Mr Oizo remix “Steroids”
9- Bennie Man “My Dickie”
10- Alfredo Gutierrez y su Banda “La Banda Borracha”
11- Arlete Moita “Beijada”
12- Noriel Vilela ” Eu ta vendo no Copo”
13- Japanese vs Toy Selecta “Cocobola Tripiton Remix”, recomendacao do DJ EL ROCKER do Confronto Sound System, muito boa.
14- Bennie Man “Red Red”
15- Lloyd Robinson “Cuss Cuss”
16- Elephant Man ” You a Di Wife”
17- Mc Luan “Pentada Violenta”
18- Tego Calderon and El Residente Calle 13 “Qual es el Plan”
19- Joao do Vale “Pisa na Fulo”
20- Bass Comando feat. Zuzuka Poderosa “Digital lover”
Tenho escutado o disco do Matias Aguayo que se chama “Ay, Ay, Ay”.

Pergunta inevitável: curte Carnaval? Que planeja fazer em Recife quando chegar?
Bom, o carnaval de Recife é famoso, nunca presenciei. Eu gosto de festa de rua, de uma forma geral…isso inclui o carnaval. Carnaval de bloco, percussao de rua, essas coisas. Agora, em Recife, assim que chegar, bom, eu tinha combinado de comer tapioca com o Matias Aguayo:
“-Vamos comer tapioca?”
“-Claro! O que eh tapioca?”

Dez anos de carreira e o que mudou na acepção que as pessoas tem do funk, um gênero que você trabalha bastante?