Entrevista: Flávio Luiz

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TIN TIN BAIANO
Por Talles Colatino

Quadrinista, cartunista e ilustrador publicitário, o baiano Flávio Luiz diz que se considera mais um criador de personagens do que contador de histórias. Modéstia ou não, o fato é que é seu currículo é, no mínimo, invejável. Flávio Luiz (Foto: Divulgação)Premiado em diversos salões de humor nacionais e internacionais (entre eles o de Piracicaba e o Festival Internacional de Cartoon da Suécia), é de crédito de Flávio a ótima Jayne Mastodonte Adventures, vencerdora do Troféu HQ Mix como melhor publicação independente, em 2000.

A cativante e musculosa defensora dá lugar a outro herói, um tipicamente brasileiro, nas publicações de Flávio. Ele é Aú, O Capoerista, que também dá o título da nova empreitada do artista. Para o lançemento de Aú, Flávio promove uma maratona de lançamentos pelo Brasil. Estão no roteiro Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Recife é quem dá início aos eventos, na próxima terça-feira (14), com uma conversa entre ele e o pernambucano Laíson, na Livraria Cultura (às 19h), sobre quadrinhos autorais. A reportagem d’O Grito! conversou com o artista sobre o projeto, lançamento, leis de incetivo, mercado editorial, entre outros assuntos que você confere na entrevista abaixo.

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“Aú” fala mais para um público infanto-juvenil, bem diferente de Jayne Mastodonte. Como foi e o que motivou essa mudança de direcionamento?
A diferença é mais no formato e, por conseqüência, no timming. A “Jayne” é um comic book e o Aú uma BD .Como coleciono e admiro revistas de todos os estilos , quis dessa vez trabalhar com a estética da escola européia, e que muitos dizem, casa melhor com meu desenho e roteiro. Alem deles, tenho a Rota 66 e o Jab, que são tirinhas. Tem mais coisa vindo por aí, possivelmente um personagem novo, e dessa vez com forte influencia do mangá.

Como surgiu o “Aú”?
Sou mais um criador de personagens do que um contador de histórias como os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. O personagem surge primeiro e eu fico querendo descobrir quem ele é. Só depois disso parto pra contar sua história. O Aú eu já tinha faz tempo, mas diversos contratempos atrasaram o desenvolvimento e seu posterior lançamento. No site, existe uma página que explica isso. Ele cresceu, fisicamente falando, com o passar dos anos e está mais pra o Robin dos “Teen Titans” do que para o Cebolinha.E u diria que ele seria um Tin Tin baiano.

Aú, assim como Jayne, é um herói. Isso tem alguma relação com os quadrinhos de super-heróis? Qual sua relação com esse gênero?
Adoro o gênero e coleciono desde pequeno vários títulos. Porém gosto mais dos heróis sem super poderes, que resolvem a coisa com astúcia e determinação, treinamento em alguma luta, coisas assim. Apesar da Jayne ter ficado daquele tamanho graças à superpapinha que tomava quando criança (risos)!

Como você analisa o atual cenário dos quadrinhos independentes? O mercado de quadrinhos no Brasil vive uma fase, isso está refletindo na produção independente também?
Nunca na historia desse país, como diria o Lula, se publicou tantos títulos de HQs, com tanta qualidade e com valores para todos os bolsos. O quadrinho independente, principalmente, está mostrando a pluralidade de autores, personagens e estilos possíveis. E iniciativas com do pessoal da Ragu, Quarto Mundo, Front, etc, são louváveis. Além de o imenso mercado online favorecer quem quer fazer, publicar e ler a variedade de quadrinhos que estão disponíveis. O momento é o melhor possível!

Flávio Luiz (Foto: Divulgação)Nos últimos anos, seu trabalho tem sido reconhecido aqui e fora do Brasil também. Como esse reconhecimento tem te ajudado? Essa ajuda tem sido suficiente para seu exercício pleno como artista?
Sou mais conhecido fora do estado da Bahia (por isso estou, inclusive, mudando pra São Paulo logo mais), desde que comecei profissionalmente como cartunista há mais de 20 anos. Os prêmios, publicações independentes, as colaborações para a [revista] Bundas e para o Pasquim, os anos como chargista e ilustrador, as tiras, etc, sempre tiveram mais repercussão fora daqui. Talvez porque não temos, em Salvador, um mercado consumidor de quadrinhos e de humor como encontramos em Recife, BH, Curitiba, Sudeste e Sul do país. Apesar de um currículo expressivo, sou quase um total desconhecido por aqui. As manifestações culturais estão muito restritas à região do quadril (risos). Mas enfim, espero que com o Aú isso possa mudar. Ou não.

A publicação de Aú é viabilizada com recursos da Lei Rouanet de incentivo à cultura. Muito se discute hoje na cena independente de que, muitas vezes, existe o incentivo do governo, mas falta quadrinista que para ir inscrever o seu projeto e tentar captar o recurso. Como você analisa isso?
O cara tem que ser profissional ou buscar o seu máximo para conseguir ser levado a serio e ser respeitado. Eu quando trabalhava como chargista num extinto jornal daqui [o Bahia Hoje, em 94] era também tirista [assinava “Jab, um lutador’] e me encarregaram de avaliar novas tiras pro jornal.Tinha cara que chegava com uma semana só de tiras prontas e queria publicar. Para conseguir essa vaga, por exemplo, cheguei com 4 meses prontos. Quando eu recomendava que o cara desenhasse mais e viesse com uma margem maior de tiras prontas, achavam que eu estava sendo petulante e sumiam indignados porque não dei espaço. Tem muita gente boa com idéias fantásticas, mas tem que botar num papel bom, ir armazenando, e não chegar com folhas soltas de Chamex e querendo espaço.

O Aú, mesmo com a qualidade apresentada, foi recusado como projeto no FAZCultura [Lei Estadual de Incentivo à Cultura da Bahia] e levou um ano para me darem um retorno. Porém como acreditamos, eu e minha esposa [a produtora Lica de Souza], que era mais um equívoco de avaliação do FAZCultura do que falta de mérito nosso, partimos mais uma vez para a publicação independente. Com a lei Rouanet, que é mais aberta e mais ampla, conseguimos.Flávio Luiz (Foto: Divulgação)

No lançamento aqui em Recife, na terça (14), está programado um debate com o Laílson. O que vai ser discutido e o que o público pode esperar dessa conversa?
Falarei do projeto do Aú, o porquê dele ter esse perfil e da minha experiência como quadrinista. Junto com o Laíson, vamos falar sobre a cena nacional, pernambucana e baiana para quem faz quadrinhos. Com certeza aprenderei o mestre Laíson, a quem tenho profunda admiração como pessoa e profissional. Ah, vale lembrar que decidi começar essa verdadeira maratona de lançamentos aí em Recife por razões também afetivas, já que meu pai era pernambucano de Petrolina. Uma verdadeira Meca para todos os seus filhos (risos)!.

SAIBA MAIS
Fotolog: flavioluizcartum.fotoblog.uol.com.br
Site do Aú: www.auocapoeirista.com.br