Entrevista Cartolas

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A IRONIA DA CERTEZA QUASE ABSOLUTA

Por Lidiana de Moraes

Bastou vencer uma competição musical de alto gabarito para os rapazes do Cartolas se tornarem uma das bandas mais interessantes do rock gaúcho. No meio de tantos grupos interessados em fazer sucesso na internet e rádios do país, a banda acabou se sobressaindo porque capturou o público jovem com suas melodias fascinantes e também uma parcela de novos adultos que encontraram em canções como “Cara de vilão” e “Que diabos tu tem dentro da cabeça”, uma dose de ironia inteligente que está em falta em um mercado.

O tempo passou desde o primeiro trabalho e finalmente o público é brindado com o segundo disco batizado como Quase Certeza Absoluta. As diretrizes musicais mudaram um pouco, estão mais suaves, mas nem por isso menos perspicazes. Nesta entrevista para a Revista O Grito!, o guitarrista Dé Silveira fala sobre a escolha do título do novo filho, das expectativas que pairam sobre a banda e outros devaneios que só poderiam sair da mente de alguém que celebra a “falta de desconsideração” e se considera um “retardado sentimental”.

Como foi o processo de criação do novo trabalho?
Praticamente todo o disco foi arranjado em uma pré-produção que fizemos em um sítio na serra gaúcha durante cerca de 10 dias. Na primeira noite, mostrei as composições no violão para o Ray Z (produtor) e para a banda. As músicas foram compostas ao longo dos dois anos anteriores ao disco. Escolhemos algumas e começamos a trabalhar com elas no dia seguinte. O disco todo foi arranjado em um galpão desse sítio. Gravávamos e refazíamos o que não tinha ficado a contento no dia seguinte. De paisagem tínhamos campos, araucárias e outras espécies de animais que não a nossa. De trilha sonora, o vento, passarinhos e um ou outro latido.

Por que vocês escolheram “Quase certeza absoluta” como título do novo disco?
Essa expressão reflete um tanto de ironia e do quão complicadas são as escolhas e os relacionamentos. É comum dizermos que temos “certeza absoluta”. A certeza já é absoluta por si, mas parece que temos de certificar a certeza dizendo que ela é absoluta. Quando nos damos conta de que nunca temos certeza, quanto mais “absoluta”, dizemos “quase certeza absoluta”. O que volta a complicar a expressão. Se quando as pessoas casassem, o padre ou rabino ou o que seja poderia perguntar: “Você tem certeza de que quer fazer isso?”. A resposta mais próxima da verdade seria provavelmente: “tenho quase certeza absoluta”. E Eu os declaro homem e mulher… Ou marido e esposa.

Como vocês lidaram com a tão temida pressão do segundo disco?
Ainda bem que ela já passou. O público e a mídia têm respondido (pelo menos pra nós) muito bem ao nosso segundo filho. Na verdade, tivemos quase certeza absoluta de que daria tudo certo. Nosso receio maior foi de que esse segundo disco, por não ser tão uniforme quanto o primeiro, poderia causar estranhamento, mas pelo contrário. O que pode parecer qualidade, para outros pode ser um defeito. Minha impressão foi de termos a melhor resposta possível.

Cada vez mais o Cartolas vem se firmando como uma das melhores bandas do RS. Como vocês lidam com as expectativas do público e também da crítica de música?
Muito obrigado. A gente tenta não trabalhar tanto em cima das expectativas, mas muito mais em cima da própria música e da nossa linguagem como banda. Penso que com amor e sinceridade conseguimos qualidade, que se reflete como elogio e alegria na resposta das pessoas que conhecem a nossa música.
Quais os planos para o Cartolas daqui pra frente?

Seguir compondo e arranjando músicas, tocando em shows, gravando clipes, tirando fotos, dando risada. Enfim, se divertindo. Esperamos mostrar nosso trabalho e nosso show para outros estados do Brasil e quiçá fora dele. E, tomara que isso continue por um bom tempo.