Crítica: Viagem 2 – A Ilha Misteriosa, de Brad Peyton

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MATINÊ INDIGESTA
Trama confusa e roteiro lotado de clichês desperdiçam potencial de Viagem 2

Por Paulo Floro

Inspirado nas obras do escritor Julio Verne, Viagem 2: A Ilha Misteriosa, que estreia no Brasil esta semana, é uma das piores portas de entrada ao universo rico e imaginativo do autor francês. E, se o resultado final é ruim, o longa não tem nem mesmo boas intenções. A despeito da pretensão de utilizar as histórias de Verne, o filme é um amontoado de clichês e diálogo pouco inspirados.

Este filme é um continuação de Viagem Ao Centro da Terra (2008), mas a produção se esforça pouco para contextualizar o espectador. Quase todo o elenco mudou, com exceção de Josh Hutcherson, o herói da franquia. A trama agora vai levar os personagens até uma ilha escondida no Pacífico Sul, onde Sean (Hutcherson) recebe sinais de rádio enviados pelo avó. Ao lado de seu padrasto (Dwayne Johnson), ele parte para uma aventura que irá fazer diversas referências às obras de Verne e de outros autores clássicos de aventura.

A ilha que o filme cria é uma mistura de três ilhas famosas presentes nos livros A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift e a A Ilha Misteriosa, de Verne, que batiza o longa. Quem leu essas obras quando crianças ou ainda são fãs dos autores atualmente, convém manter distância dos cinemas para não ter ataques de raiva. O roteiro é confuso e temos a impressão de que tudo foi costurado sem muito critério. Tudo é jogado freneticamente na tela, do Nautilus, passando pelo reino perdido de Atlântida.

Não há tempo para criar o menor nível de envolvimento com o enredo. O filme ainda falha ao tentar abordar o tema do abandono familiar e a busca por uma figura paterna. Outro enredo paralelo é o clichê máximo da paixonite adolescente, neste caso tendo Vanessa Hudgens como figura feminina. Sua presença é tão robótica que quase não a percebemos na tela (ainda bem que a colocaram em situações de morte iminente, pois é difícil encontrá-la na tela). Ainda mais curioso é Michael Caine nesse papelão. Ele interpreta o avô do protagonista, um velho sábio e aventureiro que largou tudo para morar numa ilha secreta.

Nem os efeitos especiais e todos os recursos disponíveis hoje em dia para um blockbuster salvam o filme. Não há deslumbre em ver Michael Caine voando em uma abelha gigante, nem Johnson e Hutcherson lutando contra uma enguia no fundo do mar. Sem uma boa história pra sustentar, esses cenas são esquecíveis. O que coroa o filme é o momento constrangedor em que o pai adotivo ensina ao menino Sean como conquistar mulheres mexendo os mamilos. Preferimos acreditar que esta cena seja um humor negro de um diretor que já dava como certo que a franquia Viagem já está fadada ao fracasso total. Não consigo pensar em outra coisa. O 3D até tem bons momentos, mas não acrescenta muito ao resultado final.

Quem se sai pior nessa história é Josh Hutcherson, que se mostrou um bom ator no longa Minhas Mães e Meu Pai e que, agora mais do que nunca, precisa de bons filmes para se afastar desse flop. O que poderia ser uma interessante matinê com recursos visuais instigantes, acabou transformado em puro entretenimento ruim. Quanto desperdício.

journeyVIAGEM 2 – A ILHA MISTERIOSA
Brad Peyton
[Journey 2: The Mysterious Island, EUA, 2012]
Warner Bros.

Nota: 1,4