Crítica: Titanic 3D, de James Cameron

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NAUFRÁGIO REVISITADO
Refomulação em 3D confere nova experiência a Titanic ao evidenciar nuances da trama. Resultado surpreende

Por Paulo Floro

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Cem anos depois de naufragar no meio do Atlântico Norte, o luxuoso Titanic ganha nova chance nos cinemas, agora reformulado com a tecnologia 3D. Além da força da efeméride, esta nova versão do filme é um antigo projeto do diretor James Cameron, que escreveu e dirigiu a produção em 1997. Ao custo de US$ 18 milhões, o resultado surpreende.

Titanic chega novamente às telas com um frescor de filme novo. A narrativa clássica e a grandiosidade da produção remetem à clássicos de Holywood que insistem em não envelhecer. A falta de ousadia no modo como conta a história é compensado com uma sobriedade e perfeccionismo nas tomadas.

Rever Titanic em alta definição do digital 15 anos depois revela várias camadas pensadas pelo diretor que não foram percebidas no passado. Quando estreou, o longa sofreu com o mau humor de críticos que o hostilizaram e também com a descrença por parte da indústria, que o achava grandiloquente e fadado ao fracasso. Apesar das críticas sobre sua megalomania, Cameron seguiu apostando no projeto e acertou: o filme segurou o recorde de maior bilheteria de todos os tempos até ser superado por Avatar em 2008 (também de Cameron).

Em uma primeira impressão preguiçosa, Titanic é um blockbuster com um panorama rasteiro de luta de classes. Afinal, os ricos são esnobes e os pobres da terceira classe convivem com ratos entre os beliches. Agora, a profundidade que o 3D traz, curiosamente revela uma profundidade que o filme pareceu esconder por anos. É uma experiência mais rica ver o longa longe da histeria de Leonardo DiCaprio jovem.

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James Cameron e a atriz Kate Winslet nos bastidores do filme: morte como mote (Divulgação)

O roteiro é tão bem construído que torna verossímel não uma luta de classes como mote principal, mas uma discussão sobre a morte. Ficaram mais nítidos o drama dos momentos finais, quando Rose (Kate Winslet) olha atentamente para personagens anônimos que aguardam os derradeiros momentos. Na proa do navio já quase submerso, é como se ela realizasse a dor individual daquelas pessoas em meio ao desespero coletivo e a grandiosidade do desastre.

Titanic também tem como mérito o som incrível, que em certos momentos transforma a água que invade o navio em personagem. Rose tenta ajuda para retirar Jack Dowson (DiCaprio) de um quarto algemado enquanto escuta estalidos e barulhos de madeira sendo quebrada. Estava no Titanic, mas com tamanha tensão poderia estar em O Iluminado. Vale a pena rever o longa pelas atuações de Kathy Bathes, como uma nova rica com coração e Frances Fisher, a mãe de Rose, uma dama da alta sociedade que esconde a fragilidade financeira e moral sendo rabugenta.

O maior defeito do filme segue intacto, entretanto. A música breguíssima de Celine Dion é lembrada em diversos momentos. Mas, isso, nenhuma reformulação tem como dar jeito.

O longa mudou a carreira de seus astros. Depois dele, Leonardo DiCaprio, seguiu seu caminho gradativo e sem percalços de astro adolescente para produções aclamadas. O mesmo com Kate Winslet, que perdeu a indicação de melhor atriz por este filme, mas foi indicadas outras seis vezes, até vencer por O Leitor (2008). Os dois tinham 22 e 21 anos respectivamente à época. E James Cameron se firmou como o principal diretor desta década a tratar o cinema como arte intrisicamente atrelada às mudanças tecnológicas. Titanic, definitivamente, é clássico a ser revisitado.

TITANIC 3D
James Cameron
[Titanic, EUA, 1997]
Fox

Nota: 8,4

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