Crítica: Sabor Brasilis

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Obra acerta no tom crítico ao falar da relação do Brasil com novelas

Por Fernando de Albuquerque
Da Revista O Grito!

1359041156capaA HQ Sabor Brasilis, que chega às livrarias pela Zarabatana Books, tem uma vantagem bem clara que a distingue: soube usar um traço característico da cultura brasileira em um história de ficção muito bem contada. Mais que isso, adentrou um campo pouco explorado pelas outras artes, que seguem ignorando a TV como cenário ou mote para ficção.

A obra, escrita por Pablo Casado, Hector Lima e desenhada por George Schall e Felipe Cunha, conta os bastidores de uma novela de sucesso chamada Sabor Brasilis. Estamos no clímax da trama e todo o Brasil quer saber: “quem matou Olívia Ribeiro”. A HQ então nos coloca do outro lado, mostrando os bastidores da produção da novela. Os quatro personagens principais, roteiristas, não sabem como desenrolar o desfecho do folhetim faltando apenas dois meses para o final.

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Os autores conseguiram dar espaço a cada um dos personagens, mostrar suas vidas pessoais, e como tudo isso acaba interferindo na trama da novela. Quem for mais noveleiro, vai encontrar com facilidade referências a autores consagrados, como Aguinaldo Silva, a briga entre Globo e Record e uso de macetes dramáticos usados em muitas produções. Já que quem não é habituado a esse universo vai ficar com uma história de intrigas, briga de egos e um jogo de influência e poder.

Ainda que alguns personagens durem pouco e sumam quando criamos intimidade (caso do jovem gay Matheus e Helena), há um embate interessante entre o autor principal Antonio Callado e o assistente Lauro Henrique, amigos e rivais. Um caso de amizade, frustrações e favores trocados que deve existir aos montes no meio televisivo. Outro ponto em que o roteiro acerta é tratar a relação do brasileiro com a novela de forma crítica, e também e também expor os vícios e falta de escrúpulos que existe nesse meio.

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A arte da HQ optou por abandonar o tradicional preto e branco por uma paleta de três cores, o que demora um pouco para se acostumar (lembrei de Asterios Polyp, mas aqui a arte não foi trabalhada em cima das cores, mas o contrário). Mas, passado o estranhamento, damos de cara com uma narrativa ágil, que soube aproveitar a diferença de estilo entre os dois desenhistas. Fora que – por ser um tanto raro – ainda existe como “extra” aquele prazer em ler uma obra cujo cenário é conhecido por muitos brasileiros, no caso São Paulo. O ano começou bem para as HQs nacionais.

SABOR BRASILIS
De Hector Lima, Pablo Casado (texto) e Felipe Cunha e George Schall (arte)
Editora: Zarabatana Books, 2013
128 páginas em cores
Preço: R$ 45

Nota: 8,5