Crítica: Rush – No Limite da Emoção, de Ron Howard

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RETRATO DE UMA OBSESSÃO
Rush leva o embate das pistas de Formula 1 para um nível psicológico ao mostrar dois ícones em rota de colisão

A primeira impressão que se tem de um filme como Rush – No Limite da Emoção é uma imersão dentro de um universo distante e tanto hermético para a maioria das pessoas, no caso as corridas do circuito de Formula 1. Há muitos filmes em que o cenário funciona como um personagem, como é o caso de Cisne Negro, de Darren Aronofsky, por exemplo. Em Rush, do diretor Ron Howard (Uma Mente Brilhante), o foco é o obsessão de dois competidores, o britânico James Hunt (Chris Hemsworth) e o austríaco Niki Lauda (Daniel Brühl), ícones do automobilismo dos anos 1970.

Howard decidiu fazer um trabalho que funciona como um ensaio sobre até onde a motivação humana pode levar alguém e que danos pode causar (no caso de dirigir uma bomba ambulante à 450 km/hora, isso pode ser algo realmente perigoso). Por esse caráter mais universal, Rush funciona bem mesmo para quem nunca assistiu uma corrida na vida ou seja alheio à história de grandes competidores como Lauda e Hunt. Howard uniu sua habilidade de dirigir atores em dramalhões com recursos visuais bem inovadores. Usando ângulos de câmera pouco vistos em Hollywood ele deu uma dimensão muito íntima da vida dos dois pilotos, em uma tentativa de dar ao espectador uma experiência da adrenalina na pista de corrida. Os closes nos olhos dos atores chegam a impressionar no apelo estético e ajudam a trazer o espectador mais para perto, como se tentasse emular aquela experiência de tensão.

A fotografia de Anthony Dod Mantle (conhecido por ser o fotógrafo do Dogma 95) trouxe um tom saturado que remete aos registros televisivos daquela época. Todo esse lado visual foi ajudado pela ótima interpretação dos protagonistas. Hunt, mulherengo e de temperamento esquentado descontava suas frustrações na pista, potencializado pela sua inabilidade de se comprometer com algo ou com alguém (seu casamento fracassado foi bastante explorado pela imprensa na época). Seu nêmesis, Lauda, é um ambicioso e meticuloso filho de empresários austríacos que desafiou a família para se tornar corredor. Ambos travaram uma disputa pela supremacia nas pistas desde que iniciaram a carreira na Formula 3, ainda bem jovens. O longa foca na temporada de 1976, quando estavam equiparados e lutavam corrida a corrida pela vitória daquele ano. Nem mesmo um terrível acidente, que quase tirou a vida de Lauda e o deixou desfigurado arrefeceu o embate entre os dois.

Niki Lauda, já depois do acidente e James Hunt, na vida real (Divulgação)
Niki Lauda, já depois do acidente e James Hunt, na vida real (Divulgação)

Duas cenas são memoráveis para dar ideia do tom psicológico pelo qual se pauta o filme. Em sua noite de núpcias, Lauda se queixa com a mulher (interpretado por Olivia Wilde) sobre a felicidade ser um defeito, pois o deixa vulnerável. “Quando você questiona sobre isso, já deixou de ser feliz”, responde. Em outro momento, Hunt dá uma coletiva após romper com sua esposa em um restaurante. Suas piadinhas infames sobre ser trocado pro Richard Burton (na época ex de Elizabeth Taylor) contrasta com sua tristeza de não conseguir manter seu casamento.

Ron Howard conseguiu fazer um filme meticuloso, mas muito humano, que deve ser visto no cinema por seu espetáculo visual. Goste você de Formula 1 ou não. [Paulo Floro]

rushRUSH – NO LIMITE DA EMOÇÃO
De Ron Howard
[Rush, EUA, 2013 / California Filmes]
Com Chris Hemsworth, Daniel Brühl, Olivia Wilde

Nota: 8,0