Crítica: Rio 2, de Carlos Saldanha

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Divulgação/Fox.
Foto: Divulgação/Fox.
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Com tom ambiental, Rio 2 chega menos inspirado

Depois de cativar com um longa que sabia trabalhar os clichês da brasilidade de maneira divertida, o animador brasileiro Carlos Saldanha retorna três anos depois com Rio 2, agora explorando um outro pedaço do Brasil de fácil reconhecimento internacional: a Amazônia. Com forte apelo ambiental, a aventura agora tem um tom bem mais infantil que o anterior.

O Brasil tipo exportação sempre foi mote para diversos filmes desde que Hollywood se firmou como indústria. Rio nasceu dessa premissa lucrativa, mas fez isso sem parecer oportunista ou cruel com o objeto explorado. Mas também nunca quis ser uma simples homenagem, rica em ode e fraca em conteúdo. Pelo contrário, faz rir com problemas conhecidos, como o caos urbano e explora bem cenário e pessoas locais. Rio 2 faz o mesmo com a Amazônia, ao retratar em um filme infantil um pouco da complexidade da região.

Por isso, a diversidade de atores na trama cumpre bem o papel de ambientar com o mínimo de realismo a Amazônia: estão lá os desmatadores, burocratas, criminosos, e claro, os animais típicos locais. A trama começa no Rio de Janeiro, onde a ararinha-azul Blue (Jesse Einsenberg) e sua amada Jade (Anne Hathaway) vivem uma vida bem tranquila ao lado de seus três filhotes em uma reserva natural, como vimos no longa anterior. O problema é que Blue, uma ave de estimação de Massachussets nunca quis abrir mão da comodidade da vida moderna dos humanos, como TV, panquecas, creme de amendoim, comida fácil na geladeira. E passou isso aos filhos, agora adolescentes nerds amantes de iPods e computador.

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Longa muda os personagens de cenário, mas repete piadas (Divulgação/Fox).

Já sua esposa Jade quer dar aos filhos o gosto pela exploração do habitat natural e a vida como um pássaro. Por isso, decide partir em uma viagem com a família inteira para reencontrar os donos Túlio (Rodrigo Santoro) e Linda (Leslie Mann), que estão na Amazônia tentando encontrar araras-azuis que vivem na natureza. A viagem até o Norte do País é um dos momentos mais bonitos do filme, com uma rápida homenagem aos marcos turísticos de diversas cidades pelo caminho, como Salvador, Brasília e Belém. No caminho da família estão os desmatadores, que pretendem acabar com a exploração científica na região e a ave atrapalhada Nigel, que agora conta como comparsas a apaixonada rã venenosa Gabi e um tamanduá-bandeira.

Rio 2 toca em temas como conscientização ambiental e relações entre pais e filhos, mas falha em criar uma trama mais ousada em relação à diversidade de filmes que já trataram do mesmo assunto. A relação de Blue com seu sogro tem os mesmos cacoetes já apresentados em trocentas produções: o paizão meloso com a filha, agressivo com o genro, as velhas piadas sobre ciúme – tudo dentro da escola Robert De Niro de pai estilo mafioso. Outra proposta cansada: a rivalidade entre comodidade e natureza selvagem, que foi o cerne do primeiro longa.

No meio disso tudo, muitas, muitas músicas, que aqui aparecem mais como uma muleta para esticar a narrativa pobre do que propriamente servindo de alguma maneira à trama. Alguns número musicais, mais uma vez dirigidos por Sérgio Mendes, são realmente impressionantes, mas em geral estão ali apenas para dar ritmo ao espetáculo.

Rio 2 não se compara ao primeiro longa, um dos maiores sucessos recentes da animação em todo o mundo, mas também não o desmerece. No entanto está distante dos melhores trabalhos de Saldanha, responsável pelas sequências de A Era do Gelo.

rio2_cartazRIO 2
De Carlos Saldanha
[EUA, 2014 / Fox Filmes]
Com vozes de Anne Hathaway, Rodrigo Santoro, Jesse Einsenberg

Nota: 6,0

https://www.youtube.com/watch?v=tNE303_C_2Y