Crítica: Reencontrando a Felicidade

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nicole kidman rabbit hole

TRISTEZA NÃO TEM FIM
Novo filme de John Cameron Mitchell usa a seu favor interpretação de Nicole Kidman para falar de perda e o que pode surgir a partir disso

Por Paulo Floro
Editor da Revista O Grito!

oscar3Para o Oscar, apenas a interpretação de Nicole Kidman importa nesse Reencontrando a Felicidade, já que a produção foi indicada apenas na categoria melhor atriz. Essa nova produção do diretor John Cameron Mitchell (de Shortbus) carrega diversas boas ideias para um tema tão batido como a perda de alguém próximo. A perda do filho de apenas quatro anos pelo casal Kidman e Aaron Eckhart causa fissuras que passam a ficar cada vez maiores conforme o tempo passa e a incapacidade de ambos de lidar com a morte, aumenta.

Como outros filmes de Mitchell, a intenção do autor é revelar pequenas imperfeições na aparente normalidade da classe média, da idealização do sonho americano, com seus subúrbios impecavelmente limpos e bem decorados. Isso é pontuado no filme, mas a preocupação do diretor agora recai sobre o comportamento dos personagens, de como lidam com uma situação limite que consome o casal há cerca de oito meses desde a morte do filho.

Mitchell soube dosar a carga melodramática a que esses tipos de filmes estão submetidos e criou uma história incrivelmente depressiva. Os fatos são revelados ao longo da narrativa, mas não de forma gratuita e sim como um link para a deterioração da relação entre Becca (Kidman) e Howie (Eckart). Eles não conseguem manter por muito tempo a estabilidade e a aparência de casal feliz começa a ruir a olhos vistos de todos. E todos são atingidos, atraídos pelo sofrimento que os dois passam a nutir. A mãe, interpretada por Dianne Wiest, que compartilha com a filha a experiência de também ter perdido um filho e a irmã adolescente grávida (Miles Teller).

Cada um dos protagonistas vai reagir de uma forma à perda do filho. Howie desenvolve uma relação com sua colega de grupo de apoio, Gaby (a ótima Sandra Oh, de Greys Anatomy), mas é Becca quem mais internaliza a dor da perda do filho. Nicole Kidman merece todos os méritos por conduzir o longa numa contida, mas emocionante interpretação. Ela usou seu estilo kidmanesco inconfundível a favor do filme. O Oscar, que já premiou a atriz em As Horas, de Stephen Daldry, a indicou mais uma vez.

Ao mesmo tempo em que acerta em reconhecer uma das melhores interpretações de Kidman, comete injustiça em ignorar as outras qualidades de Reencontrando a Felicidade, como o roteiro adaptado do livro de David Lindsay-Abaire, ou ainda a bela fotografia que realça a beleza de tudo, em contraste com a depressão dos personagens. Já a indicação para melhor diretor de John Cameron Mitchell, um nome ainda muito ligado ao cinema indie, isso sim, seria mesmo algo inesperado.

REENCONTRANDO A FELICIDADE
John Cameron Mitchell
[Rabbit Hole, EUA, 2010]

NOTA: 9,0

Indicações Oscar 2011
Melhor atriz – Nicole Kidman