Crítica: Ponto Ômega, de Don DeLillo

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SOBRE O TEMPO
Em poucas páginas, DeLillo faz um retorno às suas obras famosas, sem esquecer as ásperas críticas à sociedade ianque

Por Fernando de Albuquerque
Da Revista O Grito!

Um pouco de Roberto Bolaño e um pouco de Pierre Teilhard. Adicione um americano, a guerra do Iraque e do Afeganistão, fale um pouco sobre um crime coletivo, muita violência, um deserto, Psicose, Alfred Hitchcock, um filme que dura 24hs e os meandros de construção de um documentário. Bateu bem? Ficou tudo misturado e difícil de dissociar? Perfeito. Isso pode fielmente retratar o livro de Don Delillo, Ponto Ômega, da Companhia das Letras.
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Leia um trecho de Ponto Ômega 

Não muito distante dos títulos que lhe deram sucesso como Submundo e Homem em Queda, Delillo faz um verdadeiro retorno às suas obras dos anos 80, mas sem esquecer as ásperas críticas que lhe renderam boa venda, lançando mão de certo experimentalismo narrativo. Primeiro é difícil estabelecer uma linha de narratividade ao livro. Jim Finley, o documentarista, ou Mr. Elster, o general de guerra? A verdade é que Finley observa quase catatonico a exibição de psicose em câmera lenta e Elster apenas contempla o tempo da janela de sua casa. Os dois puxados para um ponto de consciência plena, o tal ponto ômega do padre francês Pierre Teilhard.

A notabilidade como a narrativa se estrutura em tão poucas páginas, são só 100 (quase uma novela), não é o único ponto de destaque. Mas o diálogo que o livro estabelece com as obras a que faz referência, assim como em Psicose, uma reviravolta muda o sentido da trama e o seu desfecho. Dialoga ainda com personagens cultíssimos e que, no fundo, são verdadeiros calhordas, cínicos e insuportáveis; o crime massivo da guerra e obras de arte que visam o arrebatamento. E esse entremeio para nos falar sobre o quanto o tempo é implacável, indolente e como ele causa a extinção, o envelhecimento e a morte.

omegaPONTO ÔMEGA
Don DeLillo
[105 págs., R$ 31, Companhia das Letras]

NOTA: 7,5

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