Crítica: O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann

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O ROCOCÓ DO 3D
O Grande Gatsby prima pela exuberância, mas é vazio ao retratar transformações dos anos 1920

Por Paulo Floro
Da Revista O Grito!

É injusto criticar Baz Luhrmann por suas características de autor: seus filmes são teatrais, exagerados e – na falta de uma palavra melhor – exuberantes. O Grande Gatsby, que estreia esta sexta em todo o país depois de uma recepção morna em Cannes, é uma espécie de radicalização de seu estilo, agora potencializado pelo uso do 3D e diversos efeitos visuais. O problema é que tanta ‘pinta’ não ornou bem com a história-chave para entender o espírito dos EUA criado por F. Scott Fitzgerald (1896-1940).

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Estrelado pelo trio Tobey Maguire, Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan, o longa foi esmagado pelo desejo de pompa do diretor. Não há uma única cena que não esteja carregadíssima de esmero estético, uma direção de arte que GRITA com o espectador a cada quadro. Com tanto cuidado com o visual, Luhrmann esvaziou as possibilidades de uma narrativa envolvente. O que temos é, apenas, muita beleza. E por beleza entenda um glamour excessivo que contou com uma das mais renomadas figurinistas da atualidade, Catherine Martin, mulher do diretor, em colaboração com a estilista italiana Miuccia Prada.

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Ambientado nos anos 1920, O Grande Gatsby conta a história de Nick, um homem perto de chegar aos 30 que se muda para Nova York com o desejo de prosperidade e a ambição de se dar bem na vida. Como todos em sua época, vive a euforia provocada pela rápida industrialização dessa região dos EUA, com seus arranha-céus e um mercado de ações que vivia no auge (a bolha iria morgar toda essa história com a quebra da bolsa em 1929, todos sabemos). É nesse ambiente que conhecemos Jay Gatsby, um milionário que nutre uma paixão escondida pela prima de Nick, Daisy. Agora, cinco anos depois de se separarem em decorrência da guerra, ele fará de tudo para conquistá-la.

No original, O Grande Gatsby é bem mais que uma história de amor. Fitzgerald denunciava uma sociedade conservadora, decadente e resistente às mudanças que se avizinhavam. Quando foi publicado em 1925 o livro foi um fracasso de vendas e recebeu críticas ruins da imprensa. Apenas anos depois o autor receberia o reconhecimento por sua visão de um mundo em transformação. Luhrmann não quis ser tão visionário em sua adaptação, fazendo do filme uma obra cuja embalagem é hipervalorizada em detrimento de um aprofundamento dos temas tratados pelo livro. Nem os atores ajudaram. Parecem perdidos dentro desse imenso parque de diversões e não conseguem se sobrepor ao visual grandioso. Tobey Maguire está no automático. Mulligan parece ainda mais entediada que sua personagem, perdidíssima. E DiCaprio está bem, ainda que interprete um arquétipo que vem construindo para si em seus últimos filmes: um homem aparentemente refinado, calmo, mas que esconde uma brutalidade.

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Esse rebuscamento estético tem seus méritos. Há cenas muito bem construídas e que fazem bom uso do 3D, quando Nick vive sua primeira embriaguez nos subúrbios de Nova York embalado por músicos de jazz nas sacadas do prédio. Ou no contraste criado pelo diretor para mostrar os casarões da parte abastada da cidade separados do centro moderno por uma área pobre, degradada, mas em construção. Ali seriam erguidos mais arranha-céus para atender a demanda da prosperidade. Esse ambiente lembra bastante as obras do quadrinista Will Eisner sobre essa mesma época. Ao final, o que Luhrmann fez foi criar um rococó do 3D. Dentro de sua obra, O Grande Gatsby pode mesmo fazer sentido, mas por baixo de tanta exuberância não encontramos nada.

gatsbyO GRANDE GATSBY
De Baz Luhrmann
[The Great Gatsby, EUA/AUS, 2013 / Warner Bros.]
Com: Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan, Tobey Maguire

Nota: 6,6