Crítica: Nova Marvel tem Vingadores para todos os gostos

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NOVA MARVEL EXPLORA DIVERSAS POSSIBILIDADES DOS VINGADORES
Começamos nosso guia de lançamentos da reformulação com todos os títulos dos Vingadores e heróis relacionados que já saíram por aqui

Por Rodrigo Simões

Com o advento da Nova Marvel, fase de reformulações da Casa das Idéias que começou a ser publicada no Brasil em novembro do ano passado, e o sucesso estrondoso do filme Os Vingadores, era esperado que a editora investisse bastante na franquia de um dos grupos de super-heróis mais conhecidos da atualidade.

A Revista O Grito! faz nos próximos dias um apurado com essa fase inicial, com textos sobre o universo de personagens como X-Men, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e Vingadores. Como geralmente acontece com HQs de super-heróis do mainstream norte-americano, é possível encontrar bons títulos com algum garimpo.

A nova fase da Marvel conta com nada menos do que sete títulos dos Vingadores, publicados em quatro mixes da Panini Comics. Saiba mais abaixo para escolher quais revistas acompanhar.

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VINGADORES (Nova Marvel)
Traz os títulos: Vingadores e Novos Vingadores
[Revista mensal, Panini Comics, 68 páginas, R$ 6,50 / 2014]

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Vingadores em expansão

Diferente da abordagem mais descontraída de Brian Michael Bendis, que escreveu as principais séries dos Vingadores nos últimos oito anos, a intenção de Jonathan Hickman é expandir o conceito por trás da equipe, levando os heróis a ampliarem suas fileiras a fim de se adequarem a desafios cada vez maiores. Como resultado temos uma das formações dos Vingadores com o maior número de membros, e certamente a que reuniu alguns dos integrantes mais poderosos, que inclui dois deuses, sendo um deles de um universo alternativo; uma entidade cósmica ancestral encarnada num corpo mortal; e mais adiante até uma arma humana de defesa planetária criada por um sistema de monitoramento de mundos paralelos. Com isto ganhamos um dos títulos de maior fôlego sendo publicados pela Marvel, e um dos mais instigantes no que diz respeito aos conceitos usados, mistérios apresentados e narrativa bem arquitetada.

Hickman vem se tornando a cada novo trabalho uma espécie de Christopher Nolan dos quadrinhos, um autor com apreço considerável pela arquitetura narrativa de suas histórias. Tal característica de suas obras vem se desenvolvendo desde seu trabalho em Guerreiros Secretos, quando o autor apresentou aos leitores um organograma demonstrativo dos arcos que havia planejado para a série, incluindo a rede de relações entre seus personagens e organizações, uma versão mais complexa do que vemos na página que mostra todos os membros dos Vingadores representados apenas por seus ícones, organizados em torno do símbolo da equipe.

É em Vingadores que Hickman, ao lado de uma equipe de desenhistas renomados como Jerome Opeña, Adam Kubert, Dustin Weaver e o brasileiro Mike Deodato Jr., entre outros, começa a construir uma complexa rede narrativa que culminará na saga Infinity (que deve se chamar Infinito quando sair no Brasil no final do ano), um conflito que envolverá vários impérios galácticos, e mudará o papel dos Vingadores no Universo Marvel.

Logo na primeira edição, demonstrando sua capacidade de planejamento a longo prazo, Hickman cria nada menos que seis flashforwards de arcos futuros, tornando parte da diversão de acompanhar a série tentar descobrir onde cada cena se encaixará nas tramas seguintes. No primeiro arco de Hickman os Vingadores enfrentam Ex Nihilo, Abismo e Aleph, novos vilões que têm ligação direta com a primeira raça alienígena do Universo Marvel, supostamente responsável por semear vida em todo o Cosmos.

Título obrigatório para os fãs dos Vingadores, e sobretudo para quem aprecia histórias bem contadas, com altas doses de suspense e ficção científica.

VINGADORES
De Jonathan Hickman (roteiro) e Jerome Opeña, Adam Kubert, Dustin Weaver e Mike Deodato Jr. (arte)

Nota: 8,5

novosvingadores

Novos Vingadores e o Conselho de Segurança da Marvel

Diferente da versão anterior da série, focada no grupo de Vingadores liderados por Luke Cage, este tem como protagonistas os Illuminati, sociedade secreta formada por Homem de Ferro, Dr. Estranho, Sr. Fantástico, Namor, Pantera Negra, Raio Negro, Fera e Capitão América. É o segundo título escrito por Jonathan Hickman para a Nova Marvel, cujo primeiro arco é desenhado por Steve Epting.

Novos Vingadores joga os heróis diante de uma ameaça ainda maior que a enfrentada pela “equipe pública” dos Vingadores. Nada menos que uma crise que ameaça o Multiverso! O grande atrativo do título, além das ideias e estratégias grandiosas para impedir que a Terra tenho o mesmo destino sombrio que outras Terras Paralelas, são os conflitos de ego entre os integrantes dos Illuminati, todos representantes do que há de melhor nos campos da ciência, intelecto, tecnologia, magia e política.

A série tem muito para agradar apreciadores de ficção científica de alto nível, e a mistura do gênero com o mundo dos super-heróis funciona excepcionalmente bem. Além disto, Hickman cria conexões sutis entre os dois títulos dos Vingadores que escreve, as quais serão essenciais para acompanhar toda a amplitude da saga Infinity, que envolverá os dois títulos.

NOVOS VINGADORES
De Jonathan Hickman (texto) e Steve Epting (arte)

Nota: 9,0

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AVANTE, VINGADORES! (Nova Marvel)
Traz os títulos Fabulosos Vingadores e Avante, Vingadores
[Panini Comics, 68 págs, R$ 6,50 / 2014]

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Fabulosos Vingadores une mutantes e superseres no mesmo grupo

Esta série é uma das consequências diretas da saga Vingadores versus X-Men. O Capitão América tem a ideia de montar uma formação de Vingadores composta por membros de sua equipe e dos X-Men, com o intuito de servir de exemplo de que a convivência pacífica entre humanos e mutantes é possível (ou, no caso do seu grupo, entre superseres e mutantes). E como toda a ação heróica tem uma resposta vilanesca correspondente, o primeiro arco de Fabulosos Vingadores mostra a equipe enfrentando o Caveira Vermelha e seus S-Men.

O título é escrito por Rick Remender (Fabulosa X-Force, Vingadores Secretos) e desenhado por John Cassaday. Remender ficou conhecido na Marvel por levar os heróis que escreve a encarar desafios cujas consequências são tanto físicas como psicológicas num nível dilacerante. Portanto, as histórias apresentam muitas cenas de violência gráfica (não gratuita, importante ressaltar), e econômicos monólogos internos que dão ao leitor insights sobre as impressões, sensações e opiniões dos heróis do título, muito bem casados com a ação, e sem comprometer o ritmo da leitura.

Já os desenhos de John Cassaday deixam um pouco a desejar quando comparados aos de outros de seus trabalhos, como Planetary e Surpreendentes X-Men. Parecem feitos às pressas.

Um ponto bacana das histórias de Remender é que mais adiante o autor trará de volta personagens e subtramas que introduziu em sua fase no título Fabulosa X-Force, e começará a apostar cada vez mais alto na proporção dos desafios que os heróis enfrentarão. Além disto, outro ponto forte do autor é que ele sabe explorar muito bem o conflito de personalidades entre os Vingadores e os X-Men, dando vozes distintas para cada um dos integrantes da equipe.

FABULOSOS VINGADORES
Rick Remender (texto) e John Cassaday (arte)

Nota: 8,0

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Avante, Vingadores! traz alívio cômico e descontraído para a Nova Marvel

Kelly Sue DeConnick é uma escritora em ascensão no mundo dos quadrinhos. No último ano seu trabalho na série solo da Capitã Marvel (cujas primeiras edições serão publicadas este mês pela Panini em um encadernado) e em sua série autoral Pretty Deadly, publicada pela Image Comics, foram bastante elogiados, e o mesmo pode ser dito de sua abordagem dos Vingadores aqui.

DeConnick gosta de explorar a dinâmica entre os super-heróis, tanto que seu primeiro arco começa estabelecendo os contrastes entre as personalidades de Tony Stark e Bruce Banner, e a maneira como dois dos maiores cientistas do Universo Marvel lidam com a ciência. Isto gera uma discussão descontraída entre eles que culmina numa disputa sobre quem localiza primeiro um cientista conhecido de ambos, desaparecido em um laboratório na Antártica. O que inicia como uma brincadeira saudável entre os dois Vingadores termina com eles descobrindo algo pior do que esperavam, e ainda tendo que lidar com o Hulk infectado por bactérias de milhões de anos de idade, que ameaçam transformá-lo em algo pior que o gigante esmeralda que já é.

Chama atenção nas histórias de DeConnick as cenas que expõem um pouco da vida doméstica dos Vingadores, onde vemos os heróis conversando enquanto preparam o café da manhã na cozinha de sua base de operações na Torre dos Vingadores. Mais tarde ela separa a equipe em duplas: Hulk e Mulher-Aranha, Homem de Ferro e Thor, e Capitão América e Capitã Marvel. Com isto a autora cria a oportunidade de trabalhá-los melhor ao construir tensão e ação em cada núcleo, sem com isto desperdiçar a chance de explorar as personalidades de cada um dos heróis através dos desafios que surgem. O destaque fica para a amizade e o relacionamento quase maternal que surge entre o Hulk e a Mulher-Aranha, que DeConnick soube trabalhar muito bem.

Avante Vingadores tem vários alívios cômicos espalhados em diálogos e situações bem descontraídos, mas que jamais soam deslocados ou inconvenientes, e o traço bem expressivo e ligeiramente caricato de Stefano Caselli combina muito bem com roteiros que exigem tanto um controle maior da expressão facial e corporal, quanto o domínio narrativo exigido pelas cenas de ação, que não decepcionam.

AVANTE, VINGADORES
De Kelly Sue DeConnick (texto) e Stefano Caselli (arte)

Nota: 8,0

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Marvel faz homenagem a clássico do mangá em novo título

Vários adolescentes com super-poderes são sequestrados pelo vilão Arcade, e presos em uma ilha cheia de armadilhas, onde terão que lutar entre si até que reste apenas um vivo. Sim, a premissa não é muito diferente da vista no filme Batalha Real, na série Jogos Vorazes, ou no clássico O Senhor das Moscas. Para não ser acusada de plágio, a capa da primeira edição homenageia o pôster do filme japonês, e Arcade deixa bem explícita a fonte de inspiração de seu plano no discurso que faz no final da história.

Dennis Hopeless, autor da série, tirou a sorte grande ao receber a chance de trabalhar com personagens não muito conhecidos pela maioria dos leitores do Universo Marvel. Como o elenco de Vingadores Arena é bem grande, o escritor optou por usar uma estrutura narrativa semelhante à da série de TV Lost (outra cuja história ocorre numa ilha misteriosa), mudando a cada edição o personagem focado pela trama. Isto é importante para que o leitor passe a se importar com os destinos dos jovens heróis. E como a trama central da série envolverá muitas mortes, é necessário que seu impacto seja sentido para que não soe como mera violência gratuita.

Além disto, Hopeless entende como a cabeça dos jovens funciona, o que move seus conflitos internos, e de que forma eles repercutem em suas relações sociais. A partir disto ele potencializa os problemas comuns dos adolescentes, como baixa autoestima, insegurança e complexos de inferioridade relacionados à aparência, falta de popularidade e reconhecimento, num cenário em que é vital que os mesmos sejam superados, pois dependem disto para sobreviverem. Isto conduz a outra questão inerente a esse tipo de história: a angústia originária das relações que se formam dentro de um cenário em que qualquer amigo ou aliado que fizerem pode morrer no próximo minuto.

Hopeless cria versões extremas das picuinhas, amores, ansiedades e inseguranças da adolescência num cenário que permite aos hormônios falarem mais alto, e atingirem resultados perigosos. Nada que já não tenhamos visto em outras histórias, mas que funciona tão bem quanto seus correpondentes cinematográficos e literários quando usado num mundo habitado por adolescentes com super-poderes.

A melhor característica das histórias de Hopeless é que os acontecimentos fora do controle dos personagens funcionam como catalisadores de novas combinações entre eles, gerando novos conflitos, e renovando o interesse do leitor, que fica curioso para saber qual será o resultado destas novas combinações. Algumas podem ser benéficas, surpreendendo pelos pontos em comum que os heróis revelam uns aos outros no decorrer da jornada, e algumas explosivas e violentas.

Nos desenhos Kev Walker trabalha muito bem sombras, expressões faciais, diálogos e sequências de ação num traço levemente solto, e um tanto “nervoso”, que combina com o tom da história. E as ótimas cores de Frank Martin captam muito bem o ambiente físico e o clima psicológico de cada cena, com destaque para o tratamento que dá aos flashbacks presentes em todas as edições.

Vingadores Arena pode passar bem longe de ser revolucionário ou tornar-se um clássico, mas é uma das melhores surpresas da Nova Marvel.

Nota: 7,0

VINGADORES: ARENA
De Dennis Hopeless (texto) e Kev Walker (arte)

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CAPITÃO AMÉRICA E GAVIÃO ARQUEIRO
Traz os títulos Capitão América e Gavião Arqueiro
[Panini Comics, 68 págs, R$ 6,50 / 2014]

Nova HQ do Capitão América desafia o herói psicológica e fisicamente

Ao assumir o título do Capitão América, Rick Remender disse que inspirou-se numa fase do herói escrita e desenhada pelo lendário Jack Kirby na década de 1970, que misturava espionagem, ficção científica e psicodelia, para escrever suas histórias. Portanto, não é à toa que ele já começa sua temporada como escritor do Sentinela da Liberdade tirando-o de sua zona de conforto em Nova York, e jogando-o na terrivelmente monstruosa e hostil Dimensão Z, dominada por um de seus inimigos mais antigos: Arnim Zola.

Com o sempre bem-vindo auxílio do veterano John Romita Jr., o autor consegue, em poucos quadrinhos, transmitir o peso e as dificuldades enfrentadas pelo Capitão América neste mundo desconhecido. Dá pra sentir sua exaustão através de suas palavras e de seu semblante. Remender refinou o uso dos recordatórios em Fabulosa X-Force e Vingadores Secretos, seus trabalhos anteriores, tornando-os cada vez mais sucintos, algo fundamental numa história em quadrinhos. Nas sequências em que a ação e a tensão imperam, a narração em primeira pessoa adapta-se à situação, tornando-se mais econômica e truncada para refletir as rápidas impressões físicas e psicológicas do personagem. Apesar desta técnica narrativa ser empregada há décadas, com destaque para o uso dela por Frank Miller, quando bem utilizada, o que é o caso aqui, ajuda o leitor a envolver-se mais com a trama, e preocupar-se com os apuros enfrentados pelos personagens.

Outro ponto que se destaca no primeiro arco de Remender no título é a maneira como ele usa os flashbacks da infância de Steve. Primeiro eles são empregados para contrastar a dureza da situação presente com as dificuldades experimentadas pelo protagonista quando garoto no Brooklyn. Além disto, o autor também aproveita estas revisitas ao passado para reintroduzir o personagem a leitores novatos e conquistar o respeito e admiração deles pelo herói, que é apresentado como um soldado cuja determinação e persistência diante das adversidades foram fortalecidas e lapidadas pela vida que teve.

Também merece elogios quão inescapável Remender e Romita descrevem e retratam a Dimensão Z, tornando cada luta do Capitão América uma prova árdua de autosuperação frente a criaturas que parecem saídas de pesadelos kirbyanos, e a influência de Jack Kirby se mostra presente tanto no design das monstruosidades como na potência das cenas de ação. Igualmente elogiável é a forma como Romita consegue se beneficiar desta influência clara sem necessariamente emular o traço de Kirby, nem empregar técnicas semelhantes às dele, preservando seu estilo e tomando emprestado apenas o ritmo da narrativa.

E o trabalho de colorização de Dean White é exemplar. Suas cores realçam a hostilidade e aspereza de cada ambiente, conferindo textura e peso a grãos de areia que se chocam contra a pele do herói, e o calor reconfortante de uma fogueira acesa numa noite fria em um deserto cujas silhuetas não deixam esquecer dos perigos que espreitam por trás de cada saliência aguda das rochas ao redor.

CAPITÃO AMÉRICA
De Rick Remender (texto) e John Romita Jr. (arte)

Nota: 8,0

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Vingadores Secretos explora crime e espionagem

A ideia central deste título é fortalecer os laços entre os Vingadores e a S.H.I.E.L.D. A premissa é simples: a S.H.I.E.L.D. quer montar sua própria equipe de Vingadores. Para isto entra em contato com a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro e lhes faz uma proposta irrecusável. Porém, para que eles entrem para a equipe a dupla deve aceitar que tenham as memórias de cada missão secreta que cumprirem apagadas de suas mentes.

Cada edição é focada em uma missão da equipe, embora a ação não seja o foco das tramas escritas por Nick Spencer, que escreveu os arcos finais de Vingadores Secretos pré-Nova Marvel. O escritor tem um estilo intrincado bem parecido com o de Jonathan Hickman, o que recentemente o levou a co-escrever o título Vingadores, e a ser escolhido para escrever a série Avengers World, que estreou semana passada lá fora.

Spencer usa Vingadores Secretos para dar continuidade ao trabalho de reformulação da organização criminosa I.M.A., iniciada por Jonathan Hickman durante sua passagem pelo título da Fundação Futuro (pré-Nova Marvel). Agora a I.M.A. é dona de uma ilha-nação inteira, tem imunidade diplomática, e representa uma ameaça maior graças à sua influência na política global. E com a escalação de Spencer para o título Avengers World, que fará parte da rede narrativa construída por Hickman em Vingadores e Novos Vingadores, compensa ficar de olho nas subtramas e personagens que ele trabalhará em Vingadores Secretos.

VINGADORES SECRETOS
De Nick Spencer (texto) e Butch Guice (arte)

Nota: 8,0