Crítica-Livro: Convergente, de Veronica Roth

divergente 3
allegiant-veronica-roth
A autora autografando livros de sua trilogia: escrita ousada e trama confusa. Foto: Divulgação

FUTURO PERDIDO
Convergente, fim da trilogia que acaba de ser adaptada aos cinemas, se perde em boas ideias mal executadas

Por Renata Arruda

Veronica Roth tem 25 anos anos e apenas três livros publicados, todos best-sellers: trata-se da trilogia Divergente, lançada nos Estados Unidos em 2011 e cujos títulos Divergente (2011), Insurgente (2012) e Convergente (2013) ganharão as telas do cinema. O primeiro dos quatro filmes, Convergente será dividido em duas partes) estreou em abril nas salas brasileiras.

Leia Mais
Divergente tem bom argumento, mas execução pobre

A premissa você já viu antes: em um futuro distópico, pessoas vivem confinadas em uma cidade dividida em facções unidimensionais (Amizade, Franqueza, Erudição, Abnegação e Audácia), cada uma com um perfil e uma função específicas e bem delimitadas e onde, a cada ano, os adolescentes de 16 anos precisam passar por um ritual para descobrirem a facção a qual pertencem. Neles é injetado um soro com simulações que exigem dos iniciados habilidades características de cada facção. As decisões tomadas durante a simulação produzem o veredicto e posteriormente o adolescente pode escolher para qual facção quer se mudar ou se fica onde nasceu.

Quando os resultados são inconclusivos, isso significa que a pessoa é uma “divergente” – o que não é uma boa notícia, mesmo que ninguém saiba ao certo porquê. Após a escolha, ainda é necessário passar por testes de iniciação e aqueles que falham são expulsos das facções e abandonados às próprias sortes como pessoas “Sem Facção”, em uma analogia à meritocracia e divisão de classes.

A heroína da trilogia, Tris, deixa a Abnegação, facção de altruístas que rejeitam qualquer tipo de egoísmo, onde vive com os pais e o irmão e se junta à Audácia, facção destemida onde todos têm tatuagens, piercings, se vestem de preto, são viciados em adrenalina e resolvem tudo à base de gritos, brigas e morte. Lá ela conhece o instrutor Quatro/Tobias, rapaz um pouco mais velho e cheio de segredos, e os dois se apaixonam. Juntos, o casal e seus amigos precisam proteger Tris, se rebelar contra forças ditatoriais, revelar segredos e salvar a cidade.

Uma mistura de Jogos Vorazes, com Harry Potter e um pouco do romance da menina-sem-graça-com-cara-bom-demais Crepúsculo, com a diferença de que Veronica Roth provavelmente quis ser vista como escritora ousada e não apenas apimentou bastante as cenas românticas como também recheou de mortes a sua trilogia.

[A partir daqui pode conter spoilers para aqueles que não leram a trilogia]

No primeiro livro, vemos Tris e seu grupo começarem um levante contra um massacre de divergentes; no segundo, eles resolvem se unir aos sem facção apenas para perceberem que estes pretendem destituir uma ditadura para instaurar outra e então se aliam a outro grupo, chamado de Leais, que planeja se rebelar contra a nova ordem. Porém os objetivos são diferentes: os Leais desejam ter o direito de viver no regime de facções enquanto que o grupo de Tris tem o objetivo de encontrar e revelar para todos um segredo que custou várias vidas da Abnegação e que pode libertar a todos.

Assim que esse segredo é revelado, chegamos a Convergente com um grupo de sobreviventes que resolve sair da cidade para descobrir o que há do outro lado da cerca e quem são os responsáveis por toda esta bagunça – e é aí que descobrem mais segredos, injustiças e fanatismos. Vemos também Tris e Quatro se unirem a mais um levante, esquecendo completamente do que acontece em Chicago para comprar as brigas do outro lado da cerca.

Se em Divergente Veronica Roth consegue empolgar com uma trama despretensiosa que traz uma heroína inteligente e reflexões interessantes para o seu público, em Insurgente ela demonstra perder o fôlego ao tentar deixar sua trama mais complexa e chega a Convergente com um problema muito maior para explicar e resolver. O resultado disso é que a autora se perde no meio do caminho. Personagens são introduzidos a todo momento só para os vermos morrerem em seguida sem nem ao menos termos tempo de lamentarmos suas mortes – eles simplesmente não importam, porque mal os conhecemos. Boas ideias são mal executadas pela opção da autora de criar várias viradas na trama em vez de desenvolvê-las.

Tudo isso para acabarmos com um sacrifício quase religioso – onde alguém precisa morrer para salvar a todos -, mas que de tão desnecessário e escrito de maneira tão banal dá a impressão de que Veronica Roth quis chocar o leitor apenas pelo choque em si e não por uma necessidade da trama. A falta de habilidade de Veronica ao optar por intercalar os pontos de vista de Tris e Tobias em Convergente, transformando este também em narrador, acaba transformando o personagem em uma versão masculina de Tris.

Com uma resolução inverossímil mesmo dentro do universo imaginado pela autora, Convergente chega para demonstrar que nem sempre uma trilogia é a melhor opção para se contar uma história.

divergente-3
Convergente
Veronica Roth
[Editora Rocco, 528 páginas, R$39,50/2014]
Tradução: Lucas Peterson
Compre o livro