Crítica – HQ: Tungstênio, de Marcello Quintanilha

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Foto: Divulgação/Veneta.
Foto: Divulgação/Veneta.

Nova HQ de Marcello Quintanilha mistura suspense e crônica social

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O trabalho do quadrinista niteroiense Marcello Quintanilha sempre foi marcado por uma aproximação de seus personagens sem julgamento, de forma tão verdadeira que os deixa à vontade para que fiquem soltos, realistas, enfim, que se exponham aos leitores sem medo. Seja na literatura, nos quadrinhos, no cinema, ou na arte que for, essa característica é muito difícil de alcançar. Com Tungstênio, Marcello alcançou esse feito mais uma vez.

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Tungstênio é o mais novo livro do autor de Sábado dos Meus Amores e Almas Públicas. A trama segue um estilo que se parece com os roteiros almodovarianos, onde os personagens dão voltas em torno de uma trama que prepara um embate entre eles. Todas as histórias estão conectadas de alguma maneira, ligadas por um tom de suspense que deixa o leitor suspenso desde a primeira página. O nome do livro, não por acaso, faz referência ao mais pesado elemento químico que existe na natureza.

A história conta em paralelo o drama de quatro personagens. O primeiro é um sargento reformado do exército, saudoso dos tempos de caserna. Ele encontra um jovem traficante de quinta categoria. Além deles temos um policial inescrupuloso e sua mulher, que vivem momentos difíceis do casamento. O fio condutor que unirá essas pessoas é um crime ambiental na orla de Salvador onde pessoas pescam usando explosivos.

A história é contada com auxílio de diversos flashblacks e fragmentos de memória, de maneira tão ágil que não prejudica a narrativa em momento nenhum. Esse tom espiralado de manejar a trama é um dom quase único do autor nos quadrinhos brasileiros. Há mais marcas da assinatura de Quintanilha em Tungstênio: a maior delas é a abordagem naturalista que faz de seus personagens, como o ótimo trabalho de transpor o modo de falar das pessoas para os balões e a caracterização sem exageros do cotidiano do cidadão comum.

Em Tungstênio, Quintanilha ainda conta com um narrador onisciente que parece tomar partido dos personagens, contextualizando suas decisões e servindo como um terapeuta do subconsciente.

Sem maniqueísmo, Marcello Quintanilha entrega mais uma obra sobre relações humanas e como as pessoas reagem às injustiças sociais. Tudo isso aliado a um rigor narrativo que o torna um dos melhores contadores de história da ficção brasileira atualmente.

A edição da editora Veneta faz jus ao trabalho do autor, com impressão em capa dura e papel de alta gramatura (couché), que traz mais brilho ao traço. Imperdível. [Paulo Floro]

tungstenioTUNGSTÊNIO
Marcello Quintanillha (texto e arte)
[Editora Veneta, 192 páginas, R$ 54,90 / 2014]
Compre a HQ

Nota: 9,4

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