Crítica-HQ: Giovanna Casotto e a HQ erótica de um ponto de vista feminino

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Um dos maiores nomes do erotismo italiano dos quadrinhos nasceu em Milão nos anos 1960 e, junto com Guido Crepax e Milo Manara, tornou-se um dos maiores expoentes dessa estética em todo o mundo, sendo inclusive um sucesso de vendas. Seu nome é Giovanna Casotto e seu maior diferencial dentro desse enorme contingente de homens desenhando para homens está o fato de que suas histórias têm suas próprias fantasias com ponto de partida.

Apenas isso já torna Giovanníssima um dos lançamentos mais importantes da arte erótica este ano. Dentro do resgate histórico que a Veneta vem promovendo, seja em seus quadrinhos, seja na ótima coleção Baderna, o livro da autora italiana mostra que perspectiva é tudo nessa vida. A forma escandalosa e perturbadoramente realista de Casotto não difere muito de outros colegas de labuta no que diz respeito ao tom explícito desse tipo de HQ. No entanto, o olhar trazido pela artista coloca o leitor dos quadrinhos italianos dentro de um universo totalmente novo.

Torcendo os clichês desse erotismo canonizado por Manara e afins, Casotto coloca as mulheres como protagonistas da narrativa, tendo seus próprios desejos como motores da trama. As fantasias mostradas nas várias histórias do livro (a empregada, a esposa, a enfermeira) surgem antes como uma forma de poder. O corpo das mulheres da autora, claramente inspiradas em pinups dos anos 1950, é uma celebração da feminilidade. Os homens em sua obra aparecem pouco e geralmente com ar abobalhado. Já as mulheres ditam as regras e possuem o controle, um extremo oposto das infantilizadas e ingênuas personagens de Manara (e em certa medida de todos eles, Serpieri, Crepax, etc).

Na falta de modelos, Casotto utiliza a si mesma, nas poses mais extravagantes possíveis, para desenhar as diversas posições de suas HQs. Sua trajetória começa no início dos anos 1990 na revista L’Intrepido e segue depois para publicações como Selen e a mensal Blu, para depois iniciar sua produção autoral. O uso do grafite e uma assinatura muito própria na iluminação e paleta de cores fez de Casotto um dos principais nomes do quadrinho e da ilustração erótica (ou pornográfica, você que sabe). Alguma de suas histórias saíram aqui no Brasil em um volume lançado pela Conrad em 2006.

Longe de fazer um libelo pela liberdade sexual e feminismo, como já deixou claro em entrevistas, Giovanna Casotto traz uma importante contribuição para mostrar que representatividade e novos olhares só faz bem para a arte e para o mercado. Potencializa o prazer, enfim. Esse é seu empoderamento.

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