Crítica HQ: Flex Mentallo, de Grant Morrison e Frank Quitely

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Dentro da cabeça de Grant Morrison com Flex Mentallo

Por Paulo Floro

Duas certezas sobre Grant Morrison, um dos principais nomes dos quadrinhos autorais no mercado norte-americano de HQs: seu hermetismo e seu amor pelos super-heróis como parte da cultura pop mundial. Saber disso ajuda a entender Flex Mentallo, uma das obras mais ousadas tanto estetica quanto conceitualmente. A Panini lançou em julho o livro em formato de luxo nas livrarias.

Flex Mentallo é um super-herói típico. Forte, bastante altruísta, usa uma tanga de tigre, possui super músculos com estranhos poderes e possui senso de nobreza bem rígido. Perdido em uma realidade que não é a sua, ele busca por seu parceiro, o “Fato” e tenta descobrir quais os planos de uma misteriosa organização conhecida como “Faculdade X”. Em uma outra linha de narrativa, o autor nos mostra um decadente rockstar junkie à beira da morte que conta sua relação com gibis para alguém ao telefone. Por fim, temos um misterioso vilão que ameaça destruir todo o universo.

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Tudo isso se entrelaça dentro da trama criada por Morrison para fazer uma reflexão sobre o universo dos super-heróis e do próprio mercado de quadrinhos. Flex Mentallo seria um herói da Era de Ouro deslocado nos anos 1990 – onde a série foi originalmente publicada. Baseado em Superman e histórias da Charles Atlas, arquétipos do heroísmo dentro das HQs, o personagem de Morrison serve para mostrar como a ideia do super-herói evoluiu de acordo com os humores da sociedade, dando origem aos sombrios e atormentados tipos dos anos 80 e 90 – é genial a sequência em que Mentallo se depara com uma orgia de superseres.

Lançada como uma minissérie em 1996, Flex Mentallo saiu das páginas de Patrulha do Destino, HQ criada por Morrison para o selo Vertigo. A obra marcou a primeira parceria com o desenhista Frank Quitely, com que faria o clássico Grandes Astros: Superman, Novos X-Men e W3. Além de falar sobre a trajetória dos super-heróis sob uma perspectiva histórica, mas também pessoal, essa HQ também pode ser vista como uma experiência autobiográfica do autor.

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Não é uma HQ fácil. Hermética, a narrativa de Flex Mentallo é de um radicalismo pouco visto no mercado de quadrinhos. Ao discutir com o leitor a relação dos super-heróis com a realidade e a cultura, Morrison fez uma obra metalinguística, colocando até mesmo o próprio leitor como parte da trama. Vencer as páginas do livro revelam surpresas que abrem reflexões sobre o gênero.

A obra ficou embargada por anos por causa de um processo de plagio movido contra a DC pela Charles Atlas, que acusou Morrison de plágio. A publicação da Panini da HQ em formato de luxo é uma surpresa e traz tradução de Érico Assis e nova colorização como no original americano. O único defeito foi não ter incluído uma introdução, indispensável em uma obra tão cheia de referências como essa.

FLEX MENTALLO - EDIÇÃO DE LUXO.inddFLEX MENTALLO
De Grant Morrison e Frank Quitely
[Panini Comics, 120 páginas, R$ 45]
Tradução: Érico Assis

Nota: 9,0

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