Crítica: Guizado | Calavera

GUIZADO

GUIZADO
Foto: Caroline Bittencourt

O PARADOXO DO GUIZADO
Músico que colabora com diversos nomes da nova cena pop, lança novo álbum

Por Lidiana de Moraes
Colaboração para a Revista O Grito!, em São Paulo

Faz tempo que se tornou uma missão impossível definir o que é a atual MPB, afinal a música popular brasileira nem é mais tão popular assim. Agora ela atinge mais uma parcela composta por parte da elite do país, como os estudantes universitários que vêem Deus refletido na figura de Caetano Veloso e que por essa razão se rendem a todas as gerações musicais que de alguma forma emanam um ar de Tropicália. Apesar das referências não mudarem muito, a tal de indefinível MPB se tornou um caldeirão democrático, com sonoridades para todos os gostos, representando muito bem aquilo que o Brasil mais tem: diversidade cultural.

Não é a toa então que tanto os críticos quanto o público tenham voltado suas atenções para o Guizado. Pra quem não conhece, esse é o projeto do trompetista Gui Mendonça que lançou seu primeiro disco em 2008, Punx, e rotulado como jazz por muitos, devido às colagens instrumentais presentes ao longo das canções. No entanto, em 2010, com o novo trabalho, Calavera, o paulista adiciona letras às composições para provar que é realmente complicado impor qualquer limite à criatividade dos novos nomes da cena musical tupiniquim.

Tendo como uma das inspirações a festa mexicana do dia dos mortos (calavera significa caveira em espanhol), o disco reflete justamente a mistura de sentidos que podem ser encontrados em um mesmo elemento, como parece subentendido em Amplidão e Vendaval. A mistura de instrumentos de sopro, com a batida latina e eletrônica brinca com noção de pluralidade cultural. Apesar de ser um tema universal, enquanto em alguns lugares a morte é vista como motivo para choro e luto, para o povo do México a festa de 02 de novembro é tida como uma forma de honrar com muita cor e alegria a história daqueles que já não estão por aqui.

Contando com o apoio de Curumin, Rian Baptista e Régis Damasceno (do Cidadão Instigado), mais a participação especial de Céu nos vocais de Skatephaser e Karina Buhr na canção Girando, Calavera capta a possibilidade de enxergar que a vida é composta por paradoxos. Emanações dos sonhos, por exemplo, reflete a velocidade da cidade grande e também parece embalar o sono daqueles que conseguem a façanha de dormir mesmo diante de tanta loucura.

No total, são mais onze músicas que desafiam a capacidade humana de perceber todas as nuances existentes em um único tema. Independente do lugar onde você viva, entender o mundo através da música de Gui Mendonça depende apenas da sua disposição para mudar de perspectiva e entender que o belo e o feio, o branco e o preto, o caos e a calmaria podem coabitar.

NOTA: 8,0

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