Crítica DVD: Sabor de Uma Paixão

Filme tinha tudo para figurar entre mais uma irrelevante comédia romântica se não fosse o carisma de Britanny Murphy

Por André Azenha
Colaboração para a Revista O Grito!, em São Paulo

A culinária como o caminho para o surgimento do amor. Uma pessoa que se vê inicialmente sozinha em um país diferente, pensa estar abandonada, mas logo transforma a vida das pessoas – que acabaram de aparecer em sua vida – e também se vê transformada por essas pessoas. O professor zangado que, ao passar do tempo, se afeiçoa com o novo pupilo. Tudo isso você já viu em vários filmes. Geralmente em histórias românticas, que mesclam comédia e momentos dramáticos.

Em O Sabor de Uma Paixão, lançado direto em DVD no Brasil, encontramos todos esses elementos. O filme seria mais uma daquelas histórias bobinhas, sem sal, que dificilmente despertaria algum interesse, não fosse pela presença da atriz Brittany Murphy, que faleceu em dezembro do ano passado. Murphy interpreta Abby, jovem americana que vai a Tóquio atrás do namorado e logo é abandonada por ele. Sozinha, sem emprego e sem amor, ela passa a frequentar um restaurante especializado em ramen, alimento japonês de origem chinesa, composto de massa alimentícia com ervas e legumes temperados com carne de porco ou peixe de água-doce. Além de um caldo especial.

Logo ela se interessa pela maneira como o dono do estabelecimento, Maezumi (o veterano Toshiyuki Nishida), um velhinho rabugento, lida com o preparo do alimento. Há toda uma técnica, um sentimento. Cada cumbuca deve ser perfeita. A falta de perspectiva, somada a esse interesse pelo ramen, leva Abby a pedir para que seja ensinada a preparar o prato. No início, Maezumi rejeita a ideia, mas como todo o mestre do ramen precisa ter um discípulo, e seu filho mudou-se para a França, o velhinho começa a ensiná-la – ainda que, nas primeiras aulas, faça-a limpar e lavar o restaurante. E claro, mais à frente ela conhecerá um rapaz japonês que servirá de interesse romântico.

Dirigido e produzido por Robert Allan Ackerman, vencedor de cinco prêmios Emmy, o Oscar da TV, e escrito por estreante, O Sabor de Uma Paixão tem roteiro e montagem irregulares. Algumas cenas soam esticadas demais, e outras não fariam falta ao filme, que remete a tantas outras produções. A garota solitária em Tóquio já foi vivida por Scarlett Johansson em Encontros e Desencontros (2003), de Sofia Coppola. O personagem que se envolve com a culinária e descobre um novo rumo para sua vida pode ser visto em Ratatouille (2007), e por aí vai.

É o tipo de longa que pediria uma resenha completamente negativa, mas o elenco oriental – principalmente Toshiyuki Nishida, vencedor de vários prêmios da Academia Japonesa de Cinema e que tem química com a protagonista – corresponde. E há o olhar hipnótico e o sorriso cativante de Brittany Murphy. Ainda que surja em cena mais magra que o normal (provavelmente pelos medicamentos que vinha tomando), a atriz é a prova de como um ator carismático pode salvar um filme. Ela é perfeita para viver esse tipo de personagem: aquela pessoa que passa por alguma dificuldade, precisa se adaptar à nova realidade e no final conquista todo mundo. Alguém que ela interpretara em “Grande Menina, Pequena Mulher” (2003), gostosa comédia com momentos dramáticos (como esse aqui), em que ela ajudava Dakota Fanning a descobrir as coisas boas da vida. Coisas boas como a própria Brittany, que emprestou talento e beleza a personagens que nos deixaram mais felizes e torna “O Sabor de Uma Paixão” um filme legal, cuja trama romântica o credencia principalmente para meninas.

PS: Como costuma suceder, o filme tem título em português que nada tem a ver com o original, The Ramen Girl (A Garota Ramen). Então cuidado para não confundir este com outro longa de título parecido, o fraco “Sabor da Paixão”, com Penélope Cruz e Murilo Benício e que também aborda a culinária.

O SABOR DE UMA PAIXÃO
Robert Allan Ackerman
[The Ramen Girl, EUA, 2008]

NOTA: 7,0