Crítica: Django Livre, de Quentin Tarantino

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VINGANÇA FÍLMICA
Em seu primeiro faroeste, Tarantino revira o passado para contar a crueldade da escravidão nos EUA

Por Alexandre Figueirôa

O mais legal quando vamos ver um filme de Quentin Tarantino é a certeza de que estamos diante de um filme com F maiúsculo, comme Il faut. Django Livre, em cartaz nas salas de cinema brasileiras, é um presente para qualquer cinéfilo por dispor na tela de forma brilhante aquilo o que há de mais extraordinário na arte cinematográfica: a capacidade de criar universos paralelos perfeitamente verossímeis onde o real e o fantástico se mesclam sem nenhum problema.

O novo trabalho de Tarantino, de certa forma, segue a veia explorada por Bastardos Inglórios. A partir de uma situação histórica concreta, o cineasta elabora uma trama que revira este passado, revela a crueldade nele contida e com humor e irreverência debocha e ridiculariza as personagens e situações que produziram tal passado. É como se o cinema pudesse ser uma arma sempre à mão para reparar equívocos e fazer justiça.

Desta feita, Tarantino aponta sua câmera para um pouco antes da Guerra Civil Norte-Americana, quando finalmente a escravidão de negros chegou ao fim nos Estados Unidos. Ele faz um tributo ao western spaghetti e mais precisamente ao diretor Sergio Corbucci, autor do filme intitulado Django, um dos clássicos do gênero, de 1966, estrelado por Franco Nero (que inclusive faz uma ponta em Django Livre).

Para dar forma a sua vingança fílmica, Tarantino conta a história de Django (Jamie Foxx), um escravo que de forma inusitada encontra um caçador de recompensas, o alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz). Django pode identificar uma dupla de assassinos procurada por Schultz. O alemão compra o escravo prometendo libertá-lo após a captura dos facínoras, vivos ou mortos. Schultz libera Django, mas o êxito da missão inicial leva os dois a permanecerem juntos.

O objetivo de Django é resgatar Broomhilde (Kerry Washington), sua esposa, uma escrava que fala alemão. Sensibilizado com a história de seu parceiro, o Dr. Schultz o compara ao mítico herói germânico Siegfried e resolve ajudá-lo. Eles vão ao Estado do Mississipi numa fazenda chamada Candyland, para onde a moça foi levada. Lá eles terão que enfrentar o cruel proprietário Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), cuja principal diversão é fazer escravos lutarem entre si até a morte, além de Stephen (Samuel L. Jackson) escravo de confiança de Candie. A empreitada, porém, vai se mostrar muito mais complicada do que caçar bandidos procurados.

Com certeza o cineasta se divertiu horrores escrevendo o roteiro ganhador do Globo de Ouro de Melhor Roteiro Original. Os diálogos são impagáveis, e no decorrer dos 165 minutos de filme, há sequências que são um verdadeiro primor pelo nonsense. Os minutos iniciais já apontam o caminho escolhido por Tarantino. Mesmo seguindo o modelo narrativo dos filmes de faroeste e muitos dos recursos visuais típicos do gênero, ele sempre dá um jeito de perverter os clichês e transformar cada sequência em algo inesperado e original.

Membros da Ku Klux Klan reclamando pateticamente dos capuzes em meio a uma ação, e homens brancos correndo apavorados por estarem vendo um homem negro montado em um cavalo deve incomodar os herdeiros de costumes racistas ainda enraizados no sul dos Estados Unidos. Mas Tarantino não está nem aí. Como também não se incomoda em colocar em cena o habitual banho de sangue, marca registrada de sua filmografia. Tudo emoldurado com muita maestria e acompanhado por uma trilha pop de primeira.

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Além disso, o cineasta contou com interpretações precisas, com destaque para Christoph Waltz. Ele repete em Django Livre a excelente performance que lhe valeu um Oscar de Ator Coadjuvante por Bastardos Inglórios. Também DiCaprio está excelente ao compor um vilão assustador capaz de tirar o fôlego de qualquer um. Todos estes elementos tornam o novo trabalho de Tarantino merecedor de atenção por não perder de vista a perspectiva de um cinema feito para divertir, e ao mesmo tempo, capaz de tratar questões delicadas como o racismo, levando o espectador a pensar sobre elas.

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De Quentin Tarantino
[Django Unchained, EUA, 2012]
Com Jamie Foxx, Christopher Waltz, Samuel L. Jackson
Sony Pictures

Nota: 8,7

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