Crítica – Disco: Lucas Santtana | Sobre Dias e Noites

Lucas Santtana Photo by Loiro Cunha
Foto: Loiro Cunha.

Em novo disco Lucas Santtana discute mudanças no mundo acelerado de hoje

LUCAS SANTTANA
Sobre Noites e Dias
[Diginois Records, 2014]

[Recomendado]

O baiano Lucas Santtana decidiu apostar em uma proposta mais ousada neste seu novo disco. Saindo de um dos trabalhos pop mais elogiados da safra nova da música brasileira, ele decidiu criar uma narrativa onde discute suas preocupações sobre o futuro e o mundo em movimento acelerado. Rede sociais, telas, dispositivos, e outros assuntos do escopo tecnológico são abordados pelo músico, mas sempre com humor.

Longe do pessimismo que acomete a ficção científica em seu cerne, Lucas decide lançar um olhar afetuoso, mas crítico, dos dias atuais. Uma das preocupações do músico é sobre nossa escravidão em relação às máquinas e sistemas, que traz ao mesmo tempo prazer e ansiedade. “Todo mundo na montanha-russa sentimental, burilando o seu smartphone emocionado. Todo mundo com o seu comprimido ansiolítico”, canta em “Montanha Russa Sentimental”.

Em “Alguém Assopra Ela” ele discorre sobre a velocidade das mudanças e “Human Time”, com participação da atriz francesa Fanny Ardant, traz questões dos dias de hoje. Cantado em inglês, ele canta “máquinas complexas, seres complexos” em cima de uma orquestra de cordas que se somam a diversos outros instrumentos. “Onde está o tempo humano”?, se pergunta. O disco sai de um clima tenso para um momento que remete ao pop de eletrônico em “Funk dos Bromânticos”, onde encontramos o fim das determinações simplistas de gênero: “ela não é gay, ele não é viado e não são mais classificados”

Sobre Noites e Dias é um disco que soa como uma ruptura dentro do som de Lucas, que sai de uma proposta pop com inspiração tropicalista para beber em fontes mais contemporâneas. Ainda que o trabalho ainda tenho algum apelo da MPB mais tradicional, como “Mariazinha Morena Clara” e sua levada de frevo, o disco aponta caminhos mais ousados para o músico.

Cantado em quatro línguas, o álbum é experimental dentro do que esperamos de Lucas Santtana, mas não chega a ser disruptivo. Estão aqui a voz mansa e os arranjos suaves que são típicos dele, em contraponto a um tom épico da história que quer contar.

Crítica – Disco: Lucas Santtana | Sobre Dias e Noites
4