Crítica – Disco: Jamie xx | In Colour

Jamie xx, um dos nomes mais celebrados da música eletrônica atual, faz parte de um ótimo momento pelo qual passa a cena britânica. Rica em inovações e com apelo pop viciante, o dance há tempos não sofria um remelexo desses para seguir inovador. Neste álbum de estreia, In Colour, Jamie retira toda a pompa e badulaques da eletrônica para aproveitar todo seu potencial. E é incrível o que ele consegue fazer com tão pouco.

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In Colour opera em diversas camadas para ativar diferentes emoções e sensações no ouvinte. Como seus compatriotas FKA twigs, Four Tet e outros, a música eletrônica de Jamie xx também é feita para ser ouvida em fones de ouvido. É a melhor maneira de aproveitar todas as suas nuances, viradas de ritmos, texturas e batidas de suas onze faixas. Não há aqui nenhum subterfúgio para seduzir o ouvinte, como refrões grudentos ou melodias repetitivas. Neste anti-pop, o autor desmascara o dance para além de seus apetrechos.

O que temos é um disco que soa leve e pesado ao mesmo tempo. Por um lado temos base hipnóticas e arranjos que podem ser apreciados tanto em separado quanto em conjunto. “SeeSaw”, cantada pela companheira de banda no The xx, Romy, traz uma levada que remete ao house, mas a voz da cantora aponta uma outra direção, mais terna. Esses elementos de força e leveza ganham uma unidade na produção precisa de Jamie.

Como produtor, Jamie é conhecida pela técnica apurada em que cola diferentes nuances em uma mesma faixa. A sua genialidade é fazer essa mescla não soar cacofônica. Outra característica reconhecível é sua predileção por graves e percussão. Seu ponto alto nessas duas frentes foi “All Under One Roof Raving”, lançado como single em julho do ano passado e que ficou de fora de In Colour.

A ótima “I Know There’s Gonna Be Good (Good Times), com participação do rapper Young Thug e do cantor jamaicano Popcaan é uma pérola pop que se inspira ragga ao mesmo tempo em que presta homenagem aos soundsystems da periferia de Londres. A faixa é o prelúdio para o ponto alto do disco, “The Rest Is Noise”, que soa aqui quase como uma síntese do trabalho do trabalho de Jamie xx, um artífice do som em seu sentido mais primal.

A proposta estética de In Colour joga o dance anos no futuro ao apontar caminhos menos fáceis, mas libertadores. É a prova que o gênero ainda pode caminhar por terrenos ainda pouco explorados, sem badulaques, sem fórmulas, sem medo.

Ouça o disco:

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