Crítica – Disco: Ibeyi | Ibeyi

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Dupla franco-cubana Ibeyi canta em yorubá e mistura ritmos regionais com pop minimalista

As irmãs gêmeas franco-cubanas Lisa-Kaindé Diaz e Naomi Diaz são uma das mais interessantes novidades no pop mundial deste ano. Assinando como Ibeyi, elas conseguiram furar o bloqueio do mercado fonográfico e da imprensa especializada que segue alienada aos sons feitos fora do circuito Europa-EUA. O álbum homônimo de estreia traz vocais em inglês e yorubá e instrumentos percussivos típicos de Cuba, como o cajón e o Batá.

O Ibeyi (lê-se i-bí-í), que quer dizer “gêmeas” em yorubá, não está interessado em atender demandas de exotismo pop. O som delas tem autenticidade e diálogo com diversos gêneros, desde o jazz francês até o electropop. Há momentos de intensa comoção, como “Behind The Curtain” ou “Stranger/Lover” e outros mais animados como “River”, prova do talento das meninas para criar hits sofisticados. Já a faixa “Yanira” é uma homenagem à irmã mais velha, morta em 2013.

Nascidas em Cuba e criadas em Paris, elas são filhas do percussionista cubano Anga Díaz, que fez parte do Buena Vista Social Club ao lado de Ibrahim Ferrer e Compay Segundo, entre outros. A mãe é a cantora franco-venezuelana Maya Dagnino. As duas honraram o legado familiar e decidiram utilizar referências da música popular cubana com beats modernos e pianos jazzísticos. Há semelhanças com o som feito por nomes como James Blake e Frank Ocean, igualmente dramáticos.

O disco revela uma dupla talentosa, com interpretações cheias de afinco e um entendimento do mercado pop em que estão se aventurando. Há uma proposta autoral clara de se estabelecerem como uma força dissonante. Nas composições, as faixas trazem reflexões sobre amor, morte e família, tudo pontuado por um minimalismo técnico bem executado.

Ibeyi é um disco ousado de uma dupla que merece crescer no pop mundial pelas boas ideias que traz ao meio. [Paulo Floro]

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Ibeyi
[XL, 2015]

8,5