Crítica – Disco: Coldplay | Ghost Stories

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Foto: Anton Corbijn/Divulgação.
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Coldplay e o drama da mudança
Banda abandona apelo pop que os fez gigantes e aposta em tom mais melancólico

Não deve ser um trabalho simples ser o Coldplay. Com o status de ser uma das maiores bandas do planeta, eles sofrem a pressão de corresponder às expectativas de seus milhões de fãs, cultivados ao longo de quase 20 anos de carreira e seis álbuns. Com esse escrutínio quase opressor, inovar a essa altura é um trabalho no mínimo delicado. Não que isso seja uma desculpa, mas sair da zona de conforto demanda mais esforços em comparação com outros grupos de sua geração. Como são gigantes, qualquer passo em falso cria acidentes bem maiores.

Esse dilema do grupo pode ser percebido em Ghost Stories, que o grupo acaba de lançar pela Parlophone/EMI. Neste trabalho o Coldplay decidiu tomar um direcionamento mais acústico em contraponto ao caminho mais synth-pop de discos anteriores. Eles então decidiram apostar em uma atmosfera que remete a artistas mais introspectivos como Bon Iver. O conceito do disco fala de ações no passado e como eles ainda repercutem nos dias de hoje (o “fantasma” do título).

Parte das composições reflete a conturbada relação do vocalista Chris Martin com sua ex-mulher, a atriz Gwyneth Paltrow, o que acabou levando a uma separação do casal em março deste ano. Pelo tom bastante melancólico da maioria das faixas, sobretudo a dolorosa abertura – “Always In My Head”, “Magic”, “Ink” e “True Love” – Ghost Stories é um dos mais belos discos sobre fim de relacionamentos. Há até uma categoria para isso entre entendidos de indie-rock, as “break-up songs”.

Martin teve como guia para essa mudança de rock de arena moderno e de inegável apelo pop para um tom mais manso e melancólico os primeiros trabalhos da banda. Em Parachutes (2000) e A Rush Of Blood To The Head (2002), o grupo dava uma renovada no brit-pop com um tom genuíno, mas com um produção precisa para atender a uma demanda internacional pelo próximo grande nome a sair da Inglaterra. Na mesma época outros grupos lançaram bons trabalhos de estreia, como o Travis, mas nenhum conseguiu tanto sucesso em arregimentar audiência além do público indie.

Em Ghost Stories, o Coldplay trouxe a tristeza, mas de uma maneira bem mais abrasiva, quase rancorosa. Tirando singles como “Magic”, a banda aposta em uma cadência mais folk em faixas como “Oceans”. Se o grupo se dará bem nessa sua transição, é preciso aguardar mais um pouco. A seu favor, Chris Martin pode contar com a devoção dos fãs que tentarão decifrar cada letra como parte de sua vida pessoal exposta. Para quem não cultiva esse tipo de amor tão pleno, algumas músicas soam como lamúrias de uma celebridade envolta em arranjos soturnos.

O trabalho se assemelha a best-sellers como A Culpa é das Estrelas ou longas como O Garoto do Pijama Listrado, onde a emoção parece manipulada quase cirurgicamente. Falta um pouco mais de pujança como vemos em trabalhos sem tanto a provar.

coldplay-ghost-storiesCOLDPLAY
Ghost Stories
[Parlophone/EMI, 2014]

Nota: 6,0

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