Crítica: Depois de Lúcia, de Michel Franco

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VIOLÊNCIA NO SILÊNCIO
Depois de Lúcia é um tabefe sobre a crueldade travestida de inocência que é o bullying

O filme mexicano Depois de Lúcia chacoalha com violência o espectador para um tema bastante discutido, mas raramente encarado de frente, o bullying. O diretor Michel Franco foi bastante rígido na forma que usou para mostrar todo o sadismo a que foi submetida sua heroína obstinada, mas também frágil, interpretada por Tessa Isa.

Alejandra, a protagonista de 15 anos, se mudou com seu pai de Puerto Vallarta, na costa do Pacífico para a Cidade do México. Ambos ainda processam um luto recente, a morte de Lúcia. Apesar do nome da mãe nunca ser dito pela dupla, sua ausência é bastante sentida pelos espectadores. No filme, todo esse silêncio é usado com maestria pelo espectador para tornar a narrativa perturbadora.

Apesar de se darem bem, pai e filha não conseguem romper a barreira do luto, e pouco conversam sobre o processo de adaptação na nova cidade. Depois de fazer amizade com um grupo de amigos em uma escola particular da região, Alejandra se vê vítima de bullying depois de cometer um deslize em uma festa. Ela passa então a ser torturada diariamente, em uma série de violações, que começa como terror psicológico e passa ao estupro — um martírio que é como um tabefe para quem assiste.

O mutismo da garota em não denunciar seus agressores pode ser encarado como um exagero do diretor, para simplesmente chocar e fazer da personagem uma espécie de ser superior, estóico. Mas, há pesquisas que mostram que a maioria das vítimas de agressão por bullying não relatam o sofrimento que passam. O fato é que Michel Franco conseguiu chamar atenção para um universo em que os adultos ainda continuam omissos. No caso específico do México, essa omissão tem até mesmo respaldo do Estado: a polícia não pode interrogar menores de idade.

O filme ganhou o prêmio Un Certain Regard, de Cannes, no ano passado e foi o representante mexicano no Oscar 2013. É um longa que, na pior das hipóteses, pode ser usado para mostrar quais os extremos da violência proporcionadas pelo bullying. O final é surpreendente e tão trágico quanto o sofrimento da menina Alejandra e fala muito sobre as impossibilidades das leis mexicanas, mas também sobre como o luto pode ser levado às últimas consequências.

Mas, há problemas no longa. Um deles é a falta de ritmo em alguns momentos, que prejudica o ritmo do filme como um todo. Depois de Lúcia demora a engrenar, mas é um trabalho que grita sobre uma crueldade que não deveria existir.

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De Michel Franco
[Depois de Lucía, MEX/FRA, 2013 / Imovision]
Com: Tessa Ia, Hernán Mendoza, Gonzalo Vega Sisto

Nota: 8,2

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