Crítica – Cinema: Caminhos da Floresta, de Rob Marshall

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Filme traz mashup de contos de fadas. (Divulgação).
Caminhos da Floresta rendeu indicação de melhor atriz para Meryl Streep (ninguém surpreso). Foto: Divulgação.
Caminhos da Floresta rendeu indicação de melhor atriz para Meryl Streep (ninguém surpreso). Foto: Divulgação.

Caminhos da Floresta traz mix de contos de fada em narrativa dark

Até mais ou menos metade de Caminhos da Floresta, novo filme de Rob Marshall, estamos vendo mais uma produção da Disney atualizando contos de fadas e temas caros ao imaginário do gênero fantasia. Há um toque de classicismo misturado com efeitos especiais sofisticados. E, claro, há Meryl Streep, que chega logo nos primeiros minutos para nos convencer a acreditar naquela produção. Mas a reviravolta não demora a chegar e nos deparamos com um trabalho irônico que sabe tirar onda com o legado acumulado em produções desse tipo.

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O diretor Rob Marshall (Chicago, Memórias de uma Gueixa) costurou os maiores sucessos dos irmãos Grimm em uma única narrativa. E chamou um grande número de astros de alto calibre como forma de dar equilíbrio às histórias. Por isso estão lá Cinderela (Anna Kendrick), a bruxa má (Streep, indicada ao Oscar), o Lobo Mau (Johhny Depp) e os príncipes, interpretados por Chris Pine e Billy Magnussen. E todos parecem bem adaptados à cantoria típica dos musicais clássicos da Disney.

A história mistura tudo o que conhecemos dos principais contos de fada, mas adiciona um humor atual que torna o desenrolar mais interessante que a própria força das lendas. Sim, Cinderela vai perder o sapatinho no baile do príncipe e João vai plantar os feijões mágicos cuja árvore o levará a um reino de gigantes acima das nuvens. Mas é o modo como tudo isso se entrelaça o diferencial do trabalho. Um outro destaque muito feliz no conceito do longa foi a escolha da fotografia lúgubre, de toques dark, que conferiu um estilo bem próprio e distinto dos filmes infantis de contos.

Caminhos da Floresta brinca com os limites íngremes do chamado “entretenimento de família” ao mexer com temas como morte e vingança misturados aos exageros típicos de musicais estilo-Broadway. É uma forma de se conectar com os contos originais medievais, cheios de histórias de violência. Some-se a isso às interpretações convincentes de Emily Blunt, Anna Kendrick e de todo o elenco e temos bem mais do que uma produção escapista.

Filme traz mashup de contos de fadas. (Divulgação).
Filme traz mashup de contos de fadas. (Divulgação).

Streep, que ganhou mais uma indicação ao Oscar, cumpre bem o que se pede: uma bruxa frágil e insegura em busca de aceitação, mas cuja aparência precisa apontar para uma maldade exagerada. Já Blunt destoa das frágeis personagens femininas dos filmes Disney ao se mostrar empoderada em frente ao marido provedor. Até a Cinderela de Anna Kendrick traz novidades no que diz respeito à busca da felicidade: nem sempre o casamento é a chave para o “felizes para sempre”. Até os príncipes galantes e belos são expostos como as peças ridículas e incongruentes que são.

Pena que alguns momentos de cantoria atrapalhem a narrativa para quem não tem paciência para esse tipo de produção. Outro problema que prejudica o longa são as falhas na narrativa, como o “sumiço” de alguns personagens e resoluções simplistas e apressadas para diversos conflitos apresentados ao longo da trama. Quem desbravar esses percalços vai descobrir um longa cheio de boas intenções além da perpetrar os saturados finais felizes dos contos de fada.

CAMINHOS DA FLORESTA
Rob Marshall
[Into The Woods, EUA, 2015 / Disney]
Com Anna Kendrick, Emily Blunt, Johnny Depp, Meryl Streep

7,0