Crítica: Baco Exu do Blues une resistência e identidade no poderoso “Bluesman”

Divulgação.
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O rapper baiano Baco Exu do Blues chega ao segundo disco como uma das vozes mais potentes do rap brasileiro. Bluesman, que chega menos de dois anos depois do elogiado Esu, fala de opressão, racismo e segue o estilo do músico em reunir uma vasta coleção de referências que vão de Van Gogh, Exaltasamba, Jay-Z, Jorge Luís Borges e Kanye West.

Esteticamente, o disco é ainda mais experimental que o seu trabalho de estreia, que já era um marco no rap BR por abrir tantos caminhos sonoros em busca de uma sonoridade singular, mais aproximado ao jazz e pop. Aqui ele vai ainda mais fundo nas suas pesquisas de sons, se aproximando do pagode, do samba, do funk.

Mas o maior destaque do disco é seu tom de manifesto do artista que Baco Exu do Blues construiu de si mesmo. Ele usa o termo “blues” para além do gênero musical. Soa mais como um rótulo de resistência, mas também serve para definir o negro (e o que pode ser negro). “Tudo o que quando era preto era do demônio / e depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de blues”, diz ele na faixa-título. “Jesus é blues”, completa.

Ainda que, a rigor, o disco não traga o blues enquanto gênero musical, Baco faz a referência a um dos primeiros ritmos a empoderar a comunidade negra. Nomes como Muddy Waters e B.B. King, que até batiza uma das faixas, quebraram barreiras nos EUA ao unir referências das raízes musicais africanas com o cancioneiro popular tradicional. Para Baco, blues é força e resistência e o bluesman é aquele que se insurge.

A faixa final traz versos diretos que soam como manifesto: “É saber que nunca fomos uma reprodução automática da imagem submissa que foi criada por eles. Foda-se a imagem que vocês criaram. Não sou legível. Não sou entendível. (…) Vocês não têm esse direito”.

Também celebrando o deus que batiza seu nome artístico, Baco retorna aos excessos e amor exuberante que vimos em seus maiores hits como “Te Amo Disgraça”, aqui representados por “Queima Minha Pele”, uma parceria com Tim Bernardes (do O Terno) e a irônica e melancólica “Me Desculpa Jay Z” (cantada com o 1LUM3), onde cita o casal Jay-Z e Beyoncé.

“Flamingos”, uma das melhores do disco, fala de uma relação autodestrutiva e de forte dependência onde Baco cita ExaltaSamba em um verso genial: “Ouvindo Exalta na quebrada / Gritando: “eu me apaixonei pela pessoa errada”.

Em um ano em que as violências contra a democracia e o racismo ficaram tão evidentes, Bluesman é um disco que propõe um diálogo necessário com seu próprio tempo. Mas é também um disco de alento, que estende a mão e que se mostra generoso, pois tem um forte componente de identidade. Nas redes sociais, Baco afirmou que o disco é sobre a saúde mental dos negros. “Queria deixar claro que o bluesman é um disco sobre saude mental dos negros é um trabalho pra fortificar os nossos!”, escreveu.

Com uma lírica muito particular, Baco Exu do Blues se afirma como uma das vozes mais originais do rap brasileiro. Puro bluesman.

BACO EXU DO BLUES
Bluesman
[EAEO Records, 2018]
Produzido por Baco Exu do Blues, DKVPZ, JLZMusic e Portugal.

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