Crítica: Além da Escuridão – Star Trek, de J.J. Abrams

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Menos piada e mais ação contra o terrorismo. Tem até Spock fazendo o James Bond (Divulgação)
Menos piada e mais ação contra o terrorismo. Tem até Spock fazendo o James Bond (Divulgação)

Um Star Trek mais sombrio e violento

A maior novidade desta nova aventura de Star Trek nos cinemas é seu tom mais sombrio e violento. Depois de um primeiro filme marcado por um tom escapista, este segundo chega com a pretensão de ser mais sério. Com tensão marcada durante toda a projeção, o diretor J.J. Abrams criou uma narrativa permeada de ação e tom de suspense que excluiu o sabor da descoberta que permeava a série original.

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No longa, um misterioso vilão, John Harrinson, interpretado por Benedict Cumberbatch, coloca a U.S.S. Entreprise em crise com a própria tropa estelar. Uma maquinação feita na fronteira da federação intergaláctica poderá iniciar uma guerra com a belicosa raça dos klingons. Os fãs antigos da série original ficarão felizes em encontrar diversas referências, incluindo mais uma participação de Leonard Nimoy, o Spock original. Mas o exagero dos efeitos especiais e as inúmeras cenas de ação criam uma personalidade própria para este ‘reset’ de Star Trek. Não existe mais o apelo da exploração espacial, o contato com raças e culturas impensáveis, que sempre foi a graça principal de Jornada nas Estrelas. O que essa nova série vende é ação.

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Abrams pontuou sua direção pelo exagero, com cortes rápidos, lutas coreografadas e uma trilha sonora melodramática quase ininterrupta. Até Spock aparece como uma espécie de James Bond em uma sequência eletrizante de luta. O filme tem uma grandiosidade que possibilitou cenas que sempre pareceram impossíveis ou absurdas ao fã mais ardoroso (voo no espaço sideral e batalha na Terra, por exemplo). Mas, a narrativa é histérica para não possibilitar um único momento de reflexão por parte do telespectador. Piscou, pintou uma explosão. Até o desenvolvimento dos personagens ficou comprometido. Quando eles começam a enlaçar uma crise, uma questão, o roteiro choca com alguma ameaça, uma luta, uma bomba.

Nessa pressa toda, a força da interpretação de Cumberbatch é um ponto forte para chamar atenção além das explosões. Vilão idealista, ele é o personagem com maior carisma em tela, rivalizando com Spock, de Zachary Quinto. Desta vez todo o elenco ganhou participação na trama, uma melhoria em relação à produção anterior. Até a tenente Uhura (Zoë Saldana) ganhou seus momentos relevantes em tela. Mesmo sem ter muita abertura para se sobrepor à ação, pelo menos ninguém ficou com cara de cabide.

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Um novo Star Trek para um novo século
J.J. Abrams conquistou a crítica e fãs com o primeiro filme da nova franquia Star Trek, em 2009. Depois da cultura pop ter criado seus próprios ícones de culto nos anos 2000 (Harry Potter, Senhor dos Anéis, etc), parece ter chegado a hora de retomar grandes clássicos de outras épocas, como Jornada nas Estrelas.

Criador de outro fenômeno, Lost, J.J. Abrams é o nome mais importante desta retomada de franquias de sucesso. Ele é o responsável pelos novos filmes de Star Wars, que devem iniciar filmagens no ano que vem. O novo Star Trek não é uma simples homenagem esvaziada de significado nos dias atuais. Menos humanista, mas ainda assim interessada em entender seus personagens principais, a série consegue mesclar a aventura estridente dos blockbusters com temas que sempre foram típicos dos filmes originais, como amizade e lealdade.

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Tanto no primeiro quanto no segundo filme, falta uma maior atenção por explorar mais o desconhecido. Até agora, o que guia a série é mostrar como a tripulação da Enterprise lida com desafios. Até os seres alienígenas são escassos. No futuro, poderemos dizer que Star Trek dos anos 10 estava revendo a tensão que o terrorismo causava no mundo real. O discurso de ir aos confins de algum lugar para capturar alguém parece muito com o tom imperialista que Hollywood agora parece querer criticar. Bem ou mal, estamos diante de uma obra que não se alienou nem se curvou ao passado. Afinal, os originais estão aí disponíveis para quem quiser assistir.

star---ALÉM DA ESCURIDÃO – STAR TREK
De J.J. Abrams
[Star Trek – Into Darkness, EUA, 2013 / Paramount]
Com: Chris Pine, Zachary Quinto, Zoë Saldana

Nota: 7,2