Crítica: A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese

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SCORSESE NOSTÁLGICO
Invenção de Hugo Cabret traz idealização passional sobre os primórdios do cinema

Por Paulo Floro

Um sentimento muito inocente sobre o cinema move A Invenção de Hugo Cabret, que estreia em todo o País. Depois de filmes que vão fundo no que as pessoas têm de pior, Martin Scorsese decidiu mostrar que tem um lado doce debaixo de momentos lindamente filmados de violência ( Ilha do Medo, Os Infiltrados, 01 SDD). E neste seu primeiro filme sem Leonardo DiCaprio em 12 anos (!), o diretor se deu bem com o ator Asa Butterfield na pele de um garoto que precisa consertar um autômato deixado pelo seu pai na Paris dos anos 1930.

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Hugo teve pretensão muito maior do que ser apenas uma matinê muito bem produzida. Scorsese quis fazer a mais bela história sobre o poder que o cinema de arrebatar emoções desde o início do século. E de que essa viagem ao fantástico e lúdico é sua real vocação. Como não poderia deixar de lado seu toque autoral, carregou o longa de metáforas, soluções visuais que comparavam engrenagens de um relógio com Paris, filosofou sobre o tempo, fez diversos momentos de metalinguagem, colocou sua nostalgia nervosa na boca dos atores.

Mas, talvez a pretensão maior de A Invenção de Hugo Cabret seja o domínio do 3D. Scorcese anda obcecado com a tecnologia e tem falado muito sobre ela em entrevistas, sobre como o formato representa o futuro do cinema, etc. O desejo é superar Avatar, a maior bilheteria da história e um dos pioneiros no formato. Em Hugo, a experiência da terceira dimensão é tão presente que não temos aqueles sustos esporádicos quando aparece alguma cena em 3D.

É uma das raras vezes em que o cinema 3D nos dá essa imersão. Está tudo nos detalhes, nas cenas de perseguição, no close do rotwailler que acompanha o emburrado inspetor da estação (Sacha Baron Cohen, ótimo), em cenas de filmes antigos e praticamente durante todo o filme, na fina neve que cai. Os atores estão bem à vontade no meio de tanta tecnologia e tudo flui muito bem. As crianças Butterfield e Chloe Moretz funcionaram perfeitamente na atmosfera lúdica da história. É uma experiência tão boa que até faz esquecer o desconforto dos óculos.

Baseado no famoso livro de Brian Selznick, o roteiro de John Logan deu combustível à imaginação de Scorcese que conseguiu levar plateias a um lugar muito rico em imagens, não encontrado na dura realidade das produções atuais.

E esse maior mérito do filme esconde seu desejo ultraconservador de fazer crer que a missão do cinema é mesmo proporcionar uma fuga do mundo real. Por isso, Hugo fez uma ode ao melhor desse cinema escapista, com uma homenagem toda especial à George Meliès (1861-1938). Esse mesmo pensamento saudosista permeia o Oscar deste ano. Não à toa, os dois maiores indicados, Hugo e O Artista, fazem uma idealização dos primórdios do cinema. É um claro contraponto às escolhas da Academia do ano passado, quando produções mais críticas ao modo de vida americano e personagens controversos ganharam destaque.

Essa nostalgia é sempre uma experiência prazerosa, mas seu cultivo pode revelar armadilhas. Scorcese sempre olhou o passado, mas suas produções traziam um link muito atual com o presente, ou eram perturbadores por mostrar atitudes demasiadamente humanas (o clássico Taxi Driver). Em Hugo, parece que ele vive um momento de negação: o passado sempre é melhor e mais bonito. Martin Scorcese é como o personagem principal de Meia Noite em Paris, de Woody Allen, vagando no tempo inconformado com os dias atuais.

Indicações ao Oscar
Melhor Filme
Melhor Direção de Arte
Melhor Fotografia
Melhor Figurino
Melhor Direção
Melhor Edição
Melhor Trilha Sonora
Melhor Edição de Som
Melhor Mixagem de Som
Melhor Efeitos Especiais
Melhor Roteiro Adaptado

hugocartazA INVENÇÃO DE HUGO CABRET
Martin Scorcese
[Hugo, EUA, 2012]
Paramount

Nota: 8,0