Correspondência entre Osman Lins e Hermilo Borba inspira nova peça de Luiz Manuel

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Claudio Lira, Luiz Manuel, Fabiana Pirro e Paulo de Pontes apresentam ''Cartas', de graça, no Recife. (Coletivo Caverna/Divulgação).

Correspondência entre Osman Lins e Hermilo Borba inspira espetáculo do jovem diretor Luiz Manuel, que estreia no Recife nos próximos dias 27 e 28 deste mês, no Hermilo Borba Filho. Elenco tem Claudio Lira, Fabiana Pirro e Paulo de Pontes. E a entrada é gratuita.

Entre 1965 e 1976, os escritores Osman Lins e Hermilo Borba, um no Recife e o outro em São Paulo, realizaram uma intensa troca de cartas. Escreveram sobre política, família, amigos, teatro, literatura e, sobretudo, sobre o que para eles significava dedicar uma vida à escrita. Quarenta e três anos depois, o jovem diretor pernambucano Luiz Manuel lançou-se ao experimento de construir um espetáculo teatral inédito inspirado nesta correspondência histórica.

A ideia ganhou o nome de Cartas e conquistou o prêmio de pesquisa O Aprendiz em Cena, da Prefeitura do Recife, concedido a um diretor iniciante para trabalhar com um elenco experiente. Para o palco, foram convidados os atores Claudio Lira, Fabiana Pirro e Paulo de Pontes. A produção executiva é de Naruna Freitas e o Teatro Mamulengo, Jailson Marcos e Giselle Cribari são parceiros do projeto.

As cartas de Borba e Lins chegaram a Luiz Manuel após a montagem da performance visual Geometrias Incongruentes, que encerrou a Criptofesta Recife e abriu a exposição “Vazão” no Porto Digital, em 2018. No início de 2019, a pesquisa sobre dispositivos audiovisuais revelou ao diretor uma trilha irreversível. “Senti a necessidade de explorar o conceito de cinema ao vivo, em uma nova encenação que discutisse o cenário político nacional. Foi aí que veio o contato com a documentação originada dos onze anos de correspondência”, lembra.

O percurso conduziu ao contato com o livro Guerra sem Testemunhas, também de Osman Lins. Neste ensaio, o escritor vive uma profunda guerra com ele mesmo, com as pessoas ao redor, com o mercado editorial e com o sistema político. À guerra, somaram-se as cartas e a linguagem audiovisual. E delineou-se a proposta de levar ao palco não mais uma linguagem dramática, mas sim epistolar. Assim, apostando-se na evolução estética da linguagem teatral, mantém-se o lugar de encontro afetivo e estético do teatro, seu espaço de experiência.

Na encenação dirigida por Luiz Manuel, a guerra sem testemunhas de Lins torna-se maior e mais elástica. O processo de pesquisa incluiu o envio de cartas para amigos de todo o País, assinadas pelo Coletivo Caverna. Na dramaturgia coletiva encenada pelos atores convidados, o texto segue aberto e em constante mutação à medida que as respostas dos correspondentes chegam via Correios a Olinda, cidade-base do coletivo.

Teatro Hermilo Borba Filho fica no Cais do Apolo, 142, Recife. A entrada é gratuita.