Cobertura: Punk e psicodelia no encontro de geração do Abril Pro Rock

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Aninha Martins. Foto: Juliana Bandeira/Facebook.
Foto: Juliana Bandeira/Facebook.
Foto: Juliana Bandeira/Facebook.

Por Alexandre Figueirôa

Foi dada a largada para o Abril pro Rock (APR) 2015. Na noite do último sábado (18), o festival, em sua 23ª edição, fez uma homenagem a música pernambucana dos anos 1970, levando para os palcos do Baile Perfumado Paulo Diniz, Flaviola e Ave Sangria. Além desses artistas teve ainda apresentações de nomes da nova cena musical como Aninha Martins, Caapora e Almério. A mistura funcionou. O clima geral teve uma vibe de altíssimo astral com fãs saudosistas, curiosos e jovens neo-psicodélicos cruzando a madrugada com muita animação.

O esquenta-festa começou com o grupo Caapora, apresentando seu trabalho marcado pela influência do tropicalismo, cultura popular, bossa nova e dub, e o veterano Paulo Diniz, cujos hits “Quero Voltar prá Bahia”, “Pingos de Amor” e “Um Chopp para Distrair” foram relembrados e aplaudidos pelo público, apesar do cantor, por conta de problemas de saúde, ter feito uma apresentação um pouco comedida. Almério também deu seu recado com um show enxuto e vibrante, mostrando a sua forte presença de palco, performance adquirida nas suas incursões teatrais.

Na sequência veio um dos momentos mais esperados da noitada pernambucana do Abril pro Rock, a volta de Flaviola. Ao lado de Marconi Notaro, Ave Sangria, Lula Côrtes, Flavio Lira foi um dos expoentes da onda psicodélica dos anos 1970 e seu disco Flaviola e o Bando do Sol até hoje é um dos mais cults desse período. No ano passado o artista se apresentou no encerramento da exposição Pernambuco Experimental no Museu de Arte do Rio, mas no Recife há tempos não dava o ar de sua graça. Acompanhado por Zé da Flauta e Juvenil Silva, ele cantou suas líricas canções, entre elas, poemas musicados de Garcia Lorca, Maiakovski, além de composições próprias e de Lula Côrtes a quem ele prestou especial reverência.

Durante o show, o músico revelou também sua surpresa de ter um público jovem e brincou com o fato de quando ainda vivia aqui no Recife nunca ter visto algo parecido. E os presentes retribuíram com uma bela interação com o artista na música Balalaica, um dos pontos altos de sua apresentação.

Aninha Martins ficou responsável para segurar o pique da plateia antes do último show. E deu conta do recado. Sua apresentação foi vibrante e mostrou o seu amadurecimento musical e de performance em cena. A beleza de sua voz ganhou realce na interpretação de Paola, uma canção do compositor paulista Goemon sobre uma travesti, e na homenagem a Lula Côrtes com a música Canção da Chegada.

Marco Polo do #AveSangria na abertura do @abrilprorock.

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A apoteose do revival foi, sem dúvida, a impecável apresentação do Ave Sangria. O mítico grupo dos anos 1970 voltou aos palcos em setembro do ano passado com Marco Polo (vocais), Ivinho e Paulo Rafael (guitarras) e Almir Oliveira (violão) da formação original e os convidados Juliano Holanda (baixo), Gilú (percussão) e Du Jarro (bateria). Neste sábado no APR, Ivinho não esteve presente, por conta de problemas de saúde, mas isto não empanou o brilho da apresentação que teve também a participação de Zé da Flauta. O show empolgou os presentes que acompanharam Marco Polo com entusiasmo em todas as músicas, de “Seu Valdir” a “Lá Fora”, e foram ao delírio com “Geórgia, a Carniceira”.

O saldo da noite foi positivo, mesmo com a acústica meio sofrível do local. Foi empolgante ver que as novas gerações reconhecem esses artistas como o fio condutor de nossa história musical que fez germinar o movimento mangue e a cena musical contemporânea. Os jovens presentes ao Baile Perfumado dançaram e cantaram as letras de canções que faziam a cabeça da galera lá pelos anos 70. Foi do caralho, como disse Marco Polo.